'Golpe contra Dilma e eleição de Bolsonaro destruíram avanços das mulheres', diz Lula
"É muito fácil destruir uma coisa que você levou anos para construir”, afirmou o presidente em evento em homenagem ao Dia Internacional das Mulheres no Palácio do Planalto
247 - O presidente Lula (PT) participou de evento nesta quarta-feira (8) no Palácio do Planalto pelo Dia Internacional das Mulheres e afirmou que o golpe contra a ex-presidente Dilma Rousseff (PT) e a eleição de Jair Bolsonaro (PL) destruíram políticas públicas de proteção às mulheres e favoreceram a continuidade da desigualdade de gênero.
“O fato de dizer que temos 11 mulheres no governo não faz vocês agradecerem ao governo. Faz vocês dizerem que faltam mais mulheres participando do governo. E isso é um processo que a gente vai avançando na medida em que a sociedade vai conquistando espaço. É um processo que começou em 2003 quando ganhamos as eleições, é um processo que continuou com a companheira Dilma quando ela ganhou em 2010. Mas é um processo que vocês percebem que sofreu um retrocesso muito grande a partir do golpe de 2016 na companheira Dilma Rousseff e sofreu um golpe ainda maior depois que o ‘coisa’ [Jair Bolsonaro] foi eleito presidente da República”, afirmou.
Ele salientou, na sequência, ser necessário não apenas garantir direitos para as mulheres, mas lutar para mantê-los. “Vocês viram o retrocesso não apenas que as mulheres sofreram, o retrocesso que a sociedade brasileira sofreu, que os avanços sociais sofreram. Por isso é importante vocês estarem preparados. A gente tem que lutar não apenas para conquistar, mas para manter. Vocês perceberam que é muito fácil destruir uma coisa que você levou anos para construir. Desde 1943 que está escrito na CLT que a mulher tem direito e ter o mesmo salário que o homem, mas sempre tem uma vírgula que fica dando volta, dando volta e dando volta”.
Veja outros trechos do discurso do presidente:
“É um dia muito especial para cada uma de vocês que estão presentes neste ato, mas acho que também é um dia especial para quem não teve oportunidade de estar aqui e certamente será beneficiada com as políticas públicas que estamos anunciando hoje, para que possa qualificar melhor a igualdade entre homens e mulheres no planeta Terra, a começar pelo nosso Brasil. Houve um tempo em que o 8 de março era comemorado com distribuição de flores para as mulheres, enquanto os outros 364 dias do ano eram marcados pela discriminação, machismo e violência. Hoje, nós estamos aqui comemorando o 8 de março com o respeito que as mulheres exigem. Respeito em todos os espaços que elas queiram ocupar, seja no trabalho, em locais públicos, na política ou dentro de suas próprias casas. Respeito que lutamos para construir quando governamos este país. Respeito que faltou ao governo anterior quando optou pela destruição de políticas públicas, cortou recursos orçamentários essenciais e chegou a estimular de forma velada a violência contra as mulheres. Tenho a satisfação de dizer a vocês que finalmente o Brasil voltou. Voltou para combater a discriminação, o assédio, os estupros, o feminicídio e todas as formas de violência contra as mulheres”.
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“É intolerável que enquanto participamos desta solenidade uma mulher ou uma menina estejam sendo estupradas a cada dez minutos. Estamos apresentando hoje um pacote de medidas para colocar um fim nesta barbárie, mas é preciso ir além do combate à intolerável violência física contra as mulheres. Quando aceitamos que as mulheres ganhem menos que os homens no exercício da mesma função, estamos perpetuando uma violência histórica contra as mulheres. Neste projeto de lei que estamos mandando ao Congresso Nacional, tem uma palavra - só uma - que faz a diferença de tudo que já foi escrito sobre trabalho igual entre homens e mulheres exercendo a mesma função. Uma única palavra, e essa mágica palavra chama-se ‘obrigatoriedade’ de pagar o mesmo salário. Vai ter muita gente que não vai querer pagar, mas para isso a Justiça tem que funcionar para obrigar o empresário a pagar aquilo que a mulher merece dentro da sua capacidade de trabalho”.
"Quando negamos às mães solo o direito de criarem seus filhos com dignidade e segurança, estamos normalizando uma violência contra a mulher. Quando deixamos de construir creches para que as mães possam trabalhar em paz, sabendo que seus filhos serão bem cuidados, nós estamos cometendo uma violência contra as mulheres. Quando deixamos de criar condições para que as meninas abraçem as profissões que desejarem, inclusive em áreas ligadas à ciência e tecnologia, nós estamos sendo coniventes com essa violência contra as mulheres. Quando aceitamos que as mulheres, embora sejam 52% da população brasileira, ocupem apenas 17,7% das cadeiras na Câmara dos Deputados, nós estamos fechando os olhos para mais uma violência contra as mulheres. Quando aceitamos como natural que uma única mulher seja obrigada a enfrentar a fila do osso para alimentar a família, estamos cometendo uma violência contra todas as mulheres. São muitas as formas de violência contra as mulheres, e é dever do Estado e de toda a sociedade enfrentar cada uma delas”.
“Nada justifica a desigualdade de gênero. A medicina não explica, a biologia não explica, a anatomia não explica. Talvez a explicação esteja no receio dos homens de serem superados pelas mulheres. É isso que não faz sentido algum. As mulheres querem igualdade, e não superioridade. E quanto mais as mulheres avançam, mais o país avança. Isso é bom para toda a população”.
"É preciso mudar políticas, mentalidades e todo um sistema construído para perpetuar privilégios dos homens. E isso, minhas amigas, vocês sabem, só é possível com muita, mas muita luta. Nenhum avanço das mulheres foi dado de mão beijada. Todos foram conquistados com muita luta. As mulheres estiveram presentes nas grandes lutas deste país. Quando falamos da independência do Brasil, é preciso lembrar de 2 de julho na Bahia, quando os portugueses foram finalmente derrotados. Essa luta tem três grandes símbolos: Maria Quitéria, Joana Angélica e Maria Felipa. Quando falamos do enfrentamento à ditadura, é preciso lembrar a companheira Dilma Rousseff e tantas outras jovens mulheres que não fugiram à luta e pagaram um alto preço por isso. As mulheres tiveram protagonismo em vários momentos-chave da nossa história recente: a redemocratização, a anistia, as Diretas Já e a Constituinte. Mas quando falamos de luta, não falamos apenas de batalhas políticas. O que seria das artes e da cultura sem Carolina de Jesus, Elza Soares, Beth Carvalho e Tarsila do Amaral? Imagino quantas vezes a menina Marta ouviu dizer que futebol era coisa de homem antes de se tornar um dos maiores nomes do futebol brasileiro de todos os tempos. E quantas vezes a cientista Jaqueline Goes de Jesus, que mapeou o genoma do coronavírus, precisou teimar até conquistar o respeito de seus pares? E quantos obstáculos Tarciana Medeiros e Rita Serrano tiveram que transpor para chegar aos cargos máximos no Banco do Brasil e na Caixa Econômica Federal?”.
“O respeito às mulheres é valor inegociável em todas as esferas do Executivo federal. Criamos o Ministério das Mulheres. Temos 11 mulheres à frente de ministérios, mas todos os ministérios e cada integrante desse governo é corresponsável pelas políticas e ações direcionadas às mulheres brasileiras. Por isso, quando digo que o Brasil voltou, é preciso acrescentar: o Brasil voltou, e precisa de todas e de todos. Tenho a certeza de que poderemos contar com vocês na reconstrução mais justo, menos desigual e mais inclusivo”.
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