O Brasil que Dilma enxerga passa longe dos jornais
A presidente Dilma está a ponto de repetir a decisão do ex-presidente Lula, que, em 2005, decidiu parar de ler os jornais e tocar o governo adiante; Palácio do Planalto já detectou operação orquestrada (que mais uma vez dará com os burros n'água) para pedir a cabeça do ministro Guido Mantega, e enxerga um país com uma situação econômica bem diferente da que vem sendo pintada com tintas pesadas na mídia; radar de Brasília capta desemprego baixo, inflação em queda, produção industrial em alta e contas públicas em ordem; imagem do Brasil real contempla programas como o "Minha Casa Melhor", que facilitará a aquisição de bens pela população mais pobre, uma Copa das Confederações que começa no próximo sábado e a continuidade da inclusão social, com programas como o PAC da Rocinha
247 - Na longa entrevista que concedeu ao sociólogo Emir Sader, sobre os primeiros dez anos do PT no poder, o ex-presidente Lula afirmou que uma de suas decisões mais importantes foi tomada em 2005. Naquele ano, no auge do escândalo do chamado "mensalão", ele parou de ler os jornais e decidiu tocar o governo adiante. Seguindo a orientação do jornalista e amigo Ricardo Kotscho, decidiu que era hora de "menos Brasília e mais Brasil". Resultado: Lula foi reeleito e terminou seu segundo mandato como o presidente mais popular da história do País.
No Brasil de hoje, a presidente Dilma Rousseff está a ponto de repetir a decisão tomada por Lula em 2005. Incomodada com o retrato que vem sendo pintado pelos grandes jornais e revistas, sobre um Brasil supostamente em crise, a presidente enxerga uma realidade completamente distinta. Nas lentes do Palácio do Planalto, o que existe hoje no Brasil real é um país com a menor taxa de desemprego da série histórica do IBGE, com a inflação em queda (e caminhando para o centro da meta em 2014), com recuperação da produção industrial e contas públicas em ordem. Além disso, um fracasso anunciado, como a Copa das Confederações (cujos estádios ficariam prontos só em 2039 segundo uma revista semanal) começa no próximo sábado. E as políticas de inclusão social, como o "Minha Casa Melhor", que facilita a compra de eletrodomésticos, e o PAC 2 da Rocinha, ajudam a atrair as classes D e E para o mundo do consumo, realimentando o crescimento.
No entanto, editoriais de jornais apontam um Brasil à beira do abismo e a presidente Dilma já identificou um movimento claro, orquestrado e que, mais uma vez, dará com os burros n'água. Trata-se de um ataque especulativo que tem, como objetivo central, exigir a cabeça do ministro da Fazenda, Guido Mantega. O início se deu com um artigo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, logo após a recente alta dos juros, quando ele afirmou que a presidente teria que "beijar a cruz". Depois disso, a revista The Economist pediu, novamente, a cabeça do ministro Mantega – desta vez, de forma irônica, sugerindo que ele ficasse, imaginando que, assim, Dilma o demitiria. Na sequência, Merval Pereira sinalizou que mesmo a troca de Mantega por Alexandre Tombini ou qualquer outro nome não funcionaria – uma vez que a política econômica é da presidente Dilma. E hoje, Carlos Alberto Sardenberg, uma voz que representa interesses do mercado financeiro, pede explicitamente a volta de Antonio Palocci ou de um nome que venha a ser uma espécie de tutor do governo, acima da autoridade presidencial.
Este pedido não será atendido por uma presidente que, apesar das turbulências, ainda desfruta de alta popularidade e se mantém confiante na eficácia de sua política econômica.
Da mesma forma, também não será acatada a sugestão feita pelo governador Eduardo Campos de que a presidente siga o exemplo de FHC e convide todos os presidenciáveis para discutir rumos para o Brasil, como FHC fez em 2002. Naquele ano, o risco-Brasil superava dois mil pontos. Hoje, o Brasil é um país com grau de investimento. Lá atrás, o Brasil vivia o maior desemprego de sua história. Hoje, o menor.
Ou seja: ainda que se possa fazer mais (o que sempre é possível), Dilma não vê um país à beira do abismo. E está a ponto de abandonar o hábito da leitura dos jornais. Ao menos, dos cadernos de economia.
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