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    Reuters vê presidente Dilma em seu pior momento

    Segundo a agência internacional de notícias, a presidente ainda é favorita, mas estaria "encurralada por uma economia fraca e ressentimentos na base aliada"; por isso, disputa presidencial em 2014 tende a ser mais competitiva do que se previa; pesquisa CNI/Ibope, que será divulgada no fim do mês, deve balizar novas ações do governo

    Reuters vê presidente Dilma em seu pior momento
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    Por Eduardo Simões

    SÃO PAULO, (Reuters) - A presidente Dilma Rousseff, no pior momento de seu governo encurralada por uma economia fraca e ressentimentos na base aliada, terá que adotar um tom ainda mais conservador na política econômica e desencantar as promessas de maior interlocução com os partidos que a apoiam.

    Diante de um cenário em que os obstáculos à sua frente parecem se avolumar, o governo Dilma já começou a trilhar um caminho mais ortodoxo na política econômica, embora analistas afirmem que um aperto fiscal ainda é o elo perdido no conjunto de medidas adotadas nas últimas semanas.

    No Congresso --terreno pantanoso para a presidente desde sua posse--, o governo tem buscado alterar parte do receituário adotado desde janeiro de 2011, quando a presidente tomou posse. Mas como Dilma acenou com mudanças na relação com os aliados em outros momentos, deputados e senadores ainda estão ressabiados se novamente não estão diante de uma promessa vazia.

    Parte da mudança passa por aumentar o ritmo de liberação de emendas parlamentares, negociar previamente com as lideranças temas mais espinhosos e ampliar a dose de carinho com os aliados, levando-os em viagens e inaugurações pelo país, repartindo parte do capital político de Dilma.

    "Esse é o pior momento do governo. Se você pegar o bloco dos oito anos do governo Lula e dos dois anos e meio do governo dela, pior do que esse momento só mesmo aquele processo do mensalão", disse à Reuters o cientista político Carlos Melo, do Insper (Instituto de Ensino e Pesquisa).

    Após crescer apenas 0,9 por cento no ano passado, a economia está novamente frustrando as expectativas. No primeiro trimestre, a expansão do Produto Interno Bruto (PIB) foi de 0,6 por cento sobre o período anterior. A inflação oficial está no teto da meta do governo, acumulando alta de 6,50 por cento em 12 meses até maio.

    Para combater o cenário ruim, a equipe econômica mudou o tom. O Banco Central iniciou um ciclo de aumento do juro e o governo eliminou parte das barreiras cambiais existentes.

    As mudanças, no entanto, ainda não foram suficientes para agradar ao mercado financeiro. E mais uma notícia negativa surgiu com a agência de classificação de risco Standard & Poor's rebaixando a perspectiva da nota da dívida brasileira para "negativa", citando preocupações com o afrouxamento fiscal, entre outros motivos.

    "Esse rebaixamento da perspectiva da nota do Brasil é um sinal de alerta para o governo de que a opção pela política econômica heterodoxa não deu certo", disse o estrategista-chefe do Banco WestLB do Brasil, Luciano Rostagno.

    "O problema é que a gente está a pouco mais de um ano das eleições presidenciais, e o ajuste necessário para restabelecer essa credibilidade junto ao mercado passa necessariamente pela política fiscal, que sofreu forte deterioração nos últimos anos."

    Há críticas dentro do próprio governo ao excesso de intervencionismo e estímulos setoriais seguidos, que estariam deixando empresários em compasso de espera para investir, na expectativa de também serem beneficiados.

    Na seara política, o governo tem visto a tramitação de matérias que considera prioritárias tornarem-se verdadeiras novelas no Congresso.

    A arrastada aprovação da medida provisória que criou um novo marco regulatório para o setor portuário, poucas horas antes de perder validade, e duas outras MPs que perderam o prazo --a que garantia a redução da conta de luz, uma bandeira de Dilma, e a que desonerava a folha de pagamento de vários setores da economia-- acenderam um alerta no Palácio do Planalto.

    Os episódios deixaram expostas as feridas abertas nas relações do governo com a base.

    As possíveis consequências para o momento ruim do governo já bateram à porta do Planalto. Uma pesquisa que chegou ao governo em abril mostrou perda de popularidade da presidente, principalmente entre as mulheres das classes C e D, um segmento eleitoral importante para Dilma, aumentando a tensão entre os governistas.

    AINDA FAVORITA

    Até o fim do mês, o Ibope deve divulgar uma nova pesquisa para a Confederação Nacional da Indústria (CNI) sobre a aprovação do governo.

    Essa sondagem deve balizar os próximos passos de Dilma e de seus prováveis adversários na eleição do ano que vem --o senador mineiro Aécio Neves (PSDB), o governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), e a ex- senadora Marina Silva, que tenta fundar um novo partido.

    O cenário atual, embora desfavorável para o governo, ainda indica favoritismo de Dilma na disputa eleitoral. Isso porque o nível de emprego ainda é elevado e os adversários da presidente ainda não mostram força.

    "A conjuntura econômica não é boa, não é alvissareira, mas a minha avaliação é que também não é desastrosa, olhando do ponto de vista eleitoral especificamente para 2014", disse o analista Ricardo Ribeiro, da MCM Consultores.

    Uma vitória em outubro do ano que vem, no entanto, não será tão fácil como se esperava há alguns meses.

    "O que estamos vendo é que 2014 deve ser mais competitivo do que em 2010", disse o analista Rafael Cortez, da Tendências Consultoria Integrada.

    (Reportagem adicional de Jeferson Ribeiro e Luciana Otoni, em Brasília, e Silvio Cascione, em São Paulo)

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