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    União Brasil nasce formalmente hoje, envelhecido por disputas regionais: sigla é rica, tem tempo de TV, mas não tem futuro

    Idealizador da fusão de DEM e PSL, Rodrigo Maia não sabe sequer se estará filiado à legenda que recebe certidão de nascimento do TSE esta noite

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    Por Luís Costa Pinto, do 247 –  Em sessão marcada para a noite desta 3ª feira, 8 de fevereiro, o Tribunal Superior Eleitoral sacramenta formalmente a fusão do Democratas (partido que tem raiz na Aliança Renovadora Nacional, Arena, braço de sustentação da ditadura militar instalada no País em 1964) com o Partido Social Liberal (PSL, fundado em 1994 pelo pernambucano Luciano Bivar, que tentava traduzir em esperteza política algumas ideias do ex-senador Marco Maciel).

    O cruzamento dos dois partidos situados atualmente entre os espectros da direita e da extrema-direita dará origem ao União Brasil, sigla cujos filiados disputarão a eleição de 2022 com o número 44 à frente de seus materiais de campanha.

    Certidão de nascimento num dia, vários pedidos de desfiliação no outro

    Na manhã seguinte, o União Brasil terá nominalmente a maior bancada da Câmara dos Deputados, com 81 parlamentares, e a terceira maior do Senado, com 8 senadores. Será quimera e já à noite estará liquefeita. Estima-se que no mínimo 30 deputados federais dos ora extintos PSL e DEM peçam desfiliação das antigas legendas. Mas, há cálculos dando conta de até 40 defecções. A maioria deles pegará o rumo de legendas extremistas de direita, como o PL ou o Republicanos, que pretendem permanecer dando apoio formal a Jair Bolsonaro na tentativa (cada vez mais distante) de reeleição em outubro deste ano. 

    O PP, que também apoiará Bolsonaro sem fechar questão nos estados (os diretórios de Pernambuco, Bahia e Ceará, por exemplo, pretendem apoiar o ex-presidente Lula), o Podemos do ex-juiz (parcial e investigado por corrupção) Sérgio Moro e o PSD do ex-prefeito paulistano Gilberto Kassab, que não deverá ter candidato presidencial, são opções de filiação dos migrantes do União Brasil. Até o PSDB, que está à míngua e pode ele mesmo perder de 12 a 17 deputados, tem chance de receber ao menos um filiado nessa diáspora da direita brasileira.

    Em curso, a grande diáspora da direita brasileira

    O mês de março fechará com um União Brasil provavelmente menor que o PT na Câmara. O Partido dos Trabalhadores tem hoje 53 deputados. A nova sigla será, seguramente, muito menor que a Federação de esquerda praticamente sacramentada entre PT, PSB, PCdoB e PV, que nascerá como grande novidade na cena política e poderá reunir na largada da campanha mais de 90 deputados federais – pois deverá atrair filiações solteiras e ainda há a possibilidade de obter o ingresso até de novas legendas que costuram entre si uma Federação paralela, como Rede e PSOL.

    O idealizador da fusão do DEM com o PSL foi o deputado Rodrigo Maia, enquanto esteve na Presidência da Câmara dos Deputados. Hoje licenciado do mandato parlamentar e secretário de Parcerias do estado de São Paulo, Maia desenhou o projeto do União Brasil (e até encomendou a marca do novo partido a uma agência de publicidade) a fim ampliar sua sustentação no Parlamento e negociar a transição do bolsonarismo com a construção de uma alternativa à direita do espectro político. antônio Rueda, vice-presidente do PSL que mandará na rica Tesouraria do União Brasil, logo se entusiasmou pela ideia de Maia e tratou de dar a ela consequência legal e viabilidade interna dentro da velha sigla. 

    Maia e Rueda, cuja irmã será a tesoureira do União Brasil e decidirá (junto com ele) o destino de R$ 955 milhões neste ano eleitoral – R$ 780 milhões de Fundo Eleitoral, soma à qual DEM e PSL fazem jus, e R$ 175 milhões de Fundo Partidário – seguem amigos, embora o ex-presidente da Câmara dificilmente se filie ao novo partido. Antônio Rueda também decidirá sobre a distribuição do tempo de TV, o maior da grade eleitoral dentre todos os partidos, de acordo com as prioridades que ele definirá para a nominata de candidatos a deputado.

    Rodrigo Maia pode terminar no PSDB fluminense, controlando-o

    O PSDB de João Doria, a quem Rodrigo Maia vai apoiar no primeiro turno da eleição presidencial (ele já disse, em entrevista à TV 247, que apoiará o ex-presidnete Lula num segundo turno contra Jair Bolsonaro) pode ser a opção partidária do idealizador do União Brasil. O ex-presidente da Câmara recebeu carta branca de Doria e de Bruno Araújo, presidente do partido, para ocupar como lhe aprouver o PSDB fluminense. Maia ainda avalia o PSD, embora os últimos movimentos de adesão total do partido de Gilberto Kassab no Rio de Janeiro, aderindo à candidatura presidencial de Ciro Gomes pelas mãos do prefeito Eduardo Paes, tenham-no feito arrefecer o ânimo da filiação. 

    Quem tirou Maia do caminho do União Brasil foi o ex-prefeito de Salvador, ACM Neto, presidente do DEM até a morte definitiva da legenda programada para a noite desta 3ª feira. Quando percebeu que a fusão de seu partido com o PSL estava respondendo à velocidade desejada por Rodrigo Maia e pelo projeto pessoal dele de se reeleger presidente da Câmara (o que era legalmente vetado) em 2021, ou pôr o deputado Baleia Rossi em sua cadeira para assumir a posição de liderança parlamentar de um amplo bloco, Neto cortou as asas do ex-amigo. 

    Brigas na Bahia, em Pernambuco, no Rio Grande do Sul

    Agora, ACM Neto perdeu o protagonismo nacional que tinha como presidente de uma legenda fermentada pelo golpe jurídico/parlamentar/classista de 2016 que o DEM ajudou a dar, mas, não colheu benefícios pragmáticos por muito tempo. Na Bahia, brigou também com o ex-secretário e hoje inimigo figadal João Roma, ministro da Cidadania de Jair Bolsonaro, a quem colocou no Republicanos como forma de controlar decisões extra-partidárias. Roma tende a ser candidato ao governo baiano, sonho do neto de Antonio Carlos Magalhães. 

    Pesquisa Vox Populi divulgada há duas semanas deixou claro que nenhum dos dois é páreo para o senador Jaques Wagner (PT), que, quando surge nos levantamentos pré-eleitorais como “candidato apoiado por Lula”, tem chance até de vencer o pleito em 1º turno. Wagner deverá fechar a chapa local com o senador Otto Alencar (PSD) como candidato à reeleição para o Senado. 

    Em Pernambuco, a deputada estadual Priscila Krause, um dos nomes que o antigo DEM enxergava mais promissores na política local, deixou o União Brasil antes mesmo da certidão de nascimento do novo partido. Filha do ex-prefeito do Recife, ex-deputado e ex-ministro da Fazenda Gustavo Krause, Priscila avaliou que o União Brasil é uma geleia ideológica particularmente amarga e intragável na mesa de doces e sofisticadas articulações pernambucanas. 

    Por fim, no Rio Grande do Sul, o ministro do Trabalho de Jair Bolsonaro, Ônyx Lorenzonni, é outro que tende a não se beneficiar das verbas e do tempo de TV do União Brasil em sua determinação de ser candidato ao governo gaúcho. Filiado ao DEM, ele deixará o governo em 31 de março. Porém, como não tem segurança do apoio do novo partido aos projetos hegemônicos bolsonaristas (cada vez mais distantes de se concretizar), flerta com PP, Republicanos e PL.

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