Deputada 'pistoleira' Carla Zambelli pede que ordens de Alexandre de Moraes não sejam cumpridas
Parlamentar que saiu com uma pistola pelas ruas de São Paulo estimula o caos e o fechamento das estradas
247 – A deputada Carla Zambelli, que se notabilizou por sair com uma pistola pelas armas de São Paulo na véspera das eleições, defendeu que a ordem do ministro Alexandre Moraes, do Supremo Tribunal Federal, para liberar as estradas não seja cumprida, indicando que há um comando bolsonarista para o caos que se pretende instalar no País. Confira o post de Zambelli, a resposta do jornalista Chico Pinheiro e saiba mais:
(Reuters) - O presidente Jair Bolsonaro (PL) seguia nesta segunda-feira em um inédito silêncio sobre a derrota nas urnas para o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) mais de 24 horas após a definição da eleição, ao mesmo tempo em que cresciam protestos de caminhoneiros bolsonaristas pelo país apontando fraudes nas urnas, sem qualquer evidência, e pedindo desrespeito aos resultados.
Desde a redemocratização, o candidato derrotado na eleição presidencial reconhece o resultado no mesmo dia de sua divulgação. Mas desde que o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) anunciou Lula como vencedor, Bolsonaro, que questionou por meses sem provas a segurança das urnas eletrônicas, se colocou num silêncio público absoluto.
Depois de um dia de espera, na noite desta segunda, o ministro das Comunicações, Fábio Faria, disse à Reuters que o presidente só iria falar na terça. "Ele deve fazer amanhã, foi para casa redigir o discurso e amanhã deve fazer o pronunciamento", disse Faria, acrescentando que o presidente estava "muito tranquilo e sóbrio".
Faria também disse que Bolsonaro estava discutindo com o advogado-geral da União, Bruno Bianco, medidas para desbloquear as rodovias federais tomadas pelos protestos em seu nome, mas não deu detalhes.
O comportamento do governo e de aliados em relação à derrota se dividiu, alimentando temores de que Bolsonaro conteste a vitória do petista e passe a estimular ativamente protestos como o dos caminhoneiros.
Alguns nomes que apoiam o Planalto reconheceram a vitória de Lula. O ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira (PP-PI), respondeu a contato feito pela campanha petista para iniciar a transição, como prevê a lei. O núcleo mais próximo de Bolsonaro, porém, ou não se pronunciou ou preferiu declarações mais ambíguas.
"Obrigado a cada um que nos ajudou a resgatar o patriotismo, que orou, rezou, foi para as ruas, deu seu suor pelo país que está dando certo e deu a Bolsonaro a maior votação de sua vida! Vamos erguer a cabeça e não vamos desistir do nosso Brasil! Deus no comando!", tuitou o senador Flávio Bolsonaro, filho mais velho do presidente.
Mais tarde, Flávio foi ainda vago em outro tuíte: "Pai, estou contigo pro que der e vier!"
A deputada Carla Zambelli (PL-SP) repetiu a mesma expressão e, depois, passou a incentivar a mobilização dos caminhoneiros. "Parabéns, caminhoneiros. Permaneçam, não esmoreçam", tuitou.
ORDEM DE MORAES
Enquanto isso, os atos que tinham começado timidamente na noite de domingo, foram ganhando corpo ao longo do dia pelo país. No início da noite, o balanço era de que já interrompiam mais de 300 pontos de rodovias em pelo menos 26 Estados do país.
Na noite desta segunda-feira, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, ordenou que a Polícia Rodoviária Federal (PRF) e as polícias estaduais realizassem o desbloqueio imediato do que chamou de atos "antidemocráticos" dos grupos bolsonaristas.
Os protestos provocaram um aumento de mais de 4.000% nas buscas no Google pelo artigo 142 da Constituição, usado falsamente para dizer que é legal pedir uma "intervenção" das Forças Armadas contra os demais Poderes.
Em vídeos nas redes sociais, alguns apoiadores dizem que Bolsonaro não havia ainda se manifestado sobre o resultados eleitorais justamente para poder acionar os militares. Em outros vídeos, os manifestantes falam em fraude, sem provas.
A categoria dos caminhoneiros foi importante apoiadora de Bolsonaro em 2018, mas as principais associações que os representam agora se descolaram dos atuais atos pós-eleição. Mesmo assim, os protestos já atrapalhavam importantes vias logísticas de escoamento de grãos no país, entre elas estava uma dos principais acessos ao porto de Paranaguá (PR), a BR-277.
Conforme o movimento ganhava força, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), pediu, no Twitter a colaboração dos caminhoneiros. "Agora, precisamos de pacificação e união em busca do desenvolvimento, que passa necessariamente pela valorosa categoria dos caminhoneiros brasileiros", tuitou.
O senador eleito Wellington Dias, coordenador na campanha de Lula, divulgou um vídeo no qual afirmava que advogados de partidos e juristas "estão nesse instante buscando dialogar com entidade dos caminhoneiros, mas, também, já adotando medidas para evitar esse tumulto".
Para Dias, o objetivo dos protestos é "um tumulto, um tumulto de quem de forma autoritária, inclusive, prega uma instabilidade com a defesa até mesmo da volta da ditadura militar". "Por isso, medidas serão... tomadas, exatamente para garantir a tranquilidade e evitar tumulto e que as pessoas tenham o seu sagrado direito de ir e vir", acrescentou.
Os bloqueios voltaram a pôr em foco a atuação da Polícia Rodoviária Federal. No domingo da votação, a PRF fez pelo menos 600 operações de fiscalização de ônibus que transportavam eleitores, a despeito de um veto feito pelo TSE à prática. Vários casos estão sob investigação, segundo a Justiça eleitoral.
Já nesta segunda, circularam pelas redes sociais pelo menos dois vídeos nos quais agentes da PRF aparecem conversando com os caminhoneiros em protesto. "A única coisa que eu tenho a dizer nesse momento é a única ordem que nós temos é estar aqui com vocês, só isso", diz o agente na imagem, que a Folha de S.Paulo identificou como sendo em Palhoça, Santa Catarina.
Em sua decisão que ordenou o fim dos bloqueios, Alexandre de Moraes cita os vídeos e vê "passividade" dos funcionários. Ele impôs multa de 100.000 reais e autorizou a prisão em flagrante do diretor-geral da PRF, Silvinei Vasques, em caso de desobediência.
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