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    Duque quebra silêncio e nega contato de sua mulher com Lula

    Ex-diretor de Serviços da Petrobras disse que ficaria calado, mas rompeu o silêncio, primeiramente, para negar que sua mulher conhecesse o ex-presidente Lula; deputados cogitaram convocá-la a depor na CPI da Petrobras; depois, Renato Duque disse, na segunda resposta em mais de duas horas de depoimento, que não conhecia o doleiro Alberto Youssef; o depoente, que está preso em Curitiba, declarou hoje que "tem hora de falar e hora de calar, e este é o momento de calar"

    Ex-diretor de Serviços da Petrobras disse que ficaria calado, mas rompeu o silêncio, primeiramente, para negar que sua mulher conhecesse o ex-presidente Lula; deputados cogitaram convocá-la a depor na CPI da Petrobras; depois, Renato Duque disse, na segunda resposta em mais de duas horas de depoimento, que não conhecia o doleiro Alberto Youssef; o depoente, que está preso em Curitiba, declarou hoje que "tem hora de falar e hora de calar, e este é o momento de calar" (Foto: Leonardo Lucena)
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    Agência Câmara - O ex-diretor da Petrobras Renato Duque disse, em depoimento à CPI da Petrobras, que não conhece o doleiro Alberto Youssef, que o acusou em delação premiada de receber propinas de empresas contratadas pela estatal.

    Foi a segunda vez que Duque respondeu às indagações feitas pelos parlamentares em mais de duas horas de depoimento em que optou por permanecer calado e só falar à Justiça.

    Duque foi denunciado por lavagem de dinheiro pelo Ministério Público e é acusado, em diversos depoimentos da Operação Lava Jato, de receber propinas que podem ultrapassar US$ 100 milhões. Ele negou conhecer Youssef, apontado como operador do esquema pelo Ministério Público, ao responder pergunta do deputado Ivan Valente (Psol-SP).

    Antes, ele havia rompido o silêncio para negar que sua esposa conhecesse o ex-presidente Lula. Duque disse isso ao negar notícia publicada em um blog da revista Veja, segundo o qual a esposa dele teria procurado Lula e seu assessor Paulo Okamotto e ameaçado delatar o envolvimento do ex-presidente na corrupção da Petrobras se Duque não fosse libertado.

    O ex-diretor da Petrobras também admitiu conhecer o antigo hotel Meridien, no Rio, ao responder pergunta do deputado Otávio Leite (PSDB-RJ). Mas em seguida voltou a dizer que ficaria calado. O hotel foi apontado pelo ex-gerente da Petrobras Pedro Barusco como local de encontro entre participantes do esquema de desvio de dinheiro da Petrobras.

    Pela terceira vez em quatro horas de depoimento à CPI da Petrobras, o ex-diretor da estatal Renato Duque rompeu o silêncio para negar afirmações feitas pelos membros da comissão.

    Ao responder pergunta da deputada Eliziane Gama (PPS-MA), ele admitiu que seu filho trabalhou em uma empresa contratada pela Petrobras, a Technip, fabricante de tubos flexíveis para a exploração de petróleo em águas profundas. "Vou contrariar a orientação do meu advogado e responder essa pergunta. Meu filho trabalhou na Technip nos Estados Unidos, mas a Technip não tem nenhuma relação com a UTC", disse, em referência a uma das empresas acusadas de pagar propina a funcionários da Petrobras por conta de contratos firmados com a estatal.

    Duque disse que o filho dele foi contratado como head hunter da Technip. "Quando ele recebeu o convite eu fiz uma consulta formal à Petrobras para saber se havia algum impedimento e a resposta da companhia foi de que não havia nenhum problema", disse.

    Depois de mais de quatro horas de depoimento à CPI da Petrobras, o ex-diretor da empresa Renato Duque disse que é inocente e que vai provar que não tem envolvimento nas denúncias feitas pelo Ministério Público relativas à Operação Lava Jato.

    "Eu me recusei a responder as perguntas da CPI por orientação da minha defesa e isso não significa que eu seja culpado. Eu vou provar que meus bens não são produto de corrupção. Tenho orgulho de ter trabalhado na Petrobras e lamento o que está acontecendo na companhia", disse.

    Antes, mesmo com a decisão de Duque de não responder nenhuma pergunta aos integrantes da CPI da Petrobras, os deputados resolveram prosseguir normalmente com a sessão e registrar as perguntas sem resposta.

    A todas elas, Duque afirmou que "por orientação da minha defesa, permanecerei calado". A mesma resposta, com poucas variações, era repetida a cada pergunta dirigida a ele.

    O primeiro a perguntar foi o relator da CPI, deputado Luís Sérgio (PT-RJ). Confira algumas das perguntas sem resposta:
    - Quem eram seus superiores na Petrobras?
    - Houve indicação política para sua diretoria?
    - Como eram elaboradas as licitações? Havia vazamento de informações?
    - Como as negociações eram feitas?
    - Como a Petrobras classificava os fornecedores de itens de alta complexidade?
    - Havia favorecimento?
    - Havia corrupção na Petrobras como disse Paulo Francis em 1997, quando foi processado pela Petrobras?
    - Havia corrupção na Petrobras em 1992, como afirmou a revista Veja na época?
    - O senhor conhece o teor dos depoimentos prestados à Justiça Federal, pelo ex-diretor Paulo Roberto Costa que disse que Nestor Cerveró era muito ligado ao PMDB e que o operador era Fernando Soares?
    - É verdade a afirmação de Pedro Barusco de que o senhor recebeu propina de empresas fornecedoras da Petrobras?

    O relator também pediu a Duque que comentasse a afirmação de José Sérgio Gabrielli de que a corrupção era atitude individual de diretores da Petrobras e que era impossível saber disso. Luiz Sérgio pediu ainda que Duque comentasse a afirmação de Barusco de que a governança da Petrobras era boa.

    Depois de quinze minutos de interrogatório, o deputado José Carlos Araújo (PSD-BA) sugeriu ao relator que as negativas do interrogado fossem consideradas confissões de culpa. O presidente da comissão, deputado Hugo Motta (PMDB-PB), disse que não poderia interferir nas perguntas do relator.

    O presidente da CPI leu para os membros da comissão o trecho da Constituição (artigo 5º) que garante aos acusados o direito de permanecerem calados.

    O presidente da Câmara Federal, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), assinou, na quarta-feira 18, uma suspensão ao ato da Mesa Diretoria, número 82, de 12 de julho de 2006, que proíbe que detentos sejam ouvidos em depoimento na Câmara dos Deputados. A decisão vale apenas para que seja tomado o depoimento de Renato Duque.

    Segundo as investigações, Duque transferiu 20 milhões de euros (R$ 70 milhões) da Suíça para Mônaco. Além de Duque, membros da CPI da Petrobras devem ouvir o executivo Julio Faerman, representante da holandesa SBM no Brasil. Faerman é apontado pela Polícia e pela Justiça Federal como lobista responsável por intermediar pagamentos de propina de pelo menos US$ 30 milhões a funcionários da Petrobras. 

    O presidente da CPI da Petrobras, deputado Hugo Motta (PMDB-PB), explica em que condição Duque será ouvido pelos deputados: "Na condição de investigado. Ele é réu no processo. Nós temos a expectativa de que possa ajudar nas investigações".

    Depoimento de Vaccari

    Na terça-feira da semana que vem, depois do interrogatório de Duque, a CPI vai se reunir para votar novos requerimentos de audiência. Vários deles pedem que seja ouvido o tesoureiro do PT, João Vaccari Neto.

    O depoimento é defendido por parlamentares da oposição, como explica o deputado Antonio Imbassahy (PSDB-BA): "Acho fundamental que o tesoureiro do PT, o João Vaccari, que foi denunciado, seja convocado para prestar seus esclarecimentos".
    A convocação de Vaccari é dada como certa na CPI. O relator da comissão, deputado Luís Sérgio (PT-RJ), já admite o interrogatório do tesoureiro do PT: "No momento oportuno, este requerimento será avaliado. Na minha avaliação, ele virá à CPI para prestar os esclarecimentos que deve à sociedade brasileira".

    Propina de R$ 10 mi

    Vaccari também foi apontado pelo vice-presidente da empreiteira Camargo Corrêa, Eduardo Leite, como destinatário de uma propina de R$ 10 milhões na forma de doação oficial ao PT.

    Essa linha de investigação lança suspeitas sobre doações oficiais de campanha feitas aos partidos, como explica o deputado Ivan Valente (Psol-SP): "A situação se misturou tanto que 60% dos parlamentares receberam doações das empresas implicadas diretamente no processo da Lava Jato. As pessoas não sabem nem o que é propina nem o que é dinheiro oficial para os partidos ou para os mandatos. Isso é muito grave".

    Outros depoimentos

    A CPI da Petrobras já decidiu a ordem dos próximos depoimentos. Depois de Renato Duque, serão ouvidos o empresário Júlio Faerman, ex-representante da SBM Offshore (dia 26/03); Glauco Legati, gerente da refinaria Abreu e Lima (dia 31/03); e Hugo Repsold, diretor de Gás e Energia da Petrobras (dia 07/04).

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