Oposição cobra do Planalto explicações sobre escuta envolvendo Adriano da Nóbrega
A presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann, disse que o caso é "gravíssimo". "Não é um governo, é uma quadrilha", afirmou Ivan Valente. Guilherme Boulos também se pronunciou
247 - Políticos de oposição cobraram do governo Jair Bolsonaro (PL), nesta quarta-feira (6), explicações sobre uma escuta telefônica feita pela Polícia Civil do Rio de Janeiro há dois anos que mostra uma irmã do ex-policial militar Adriano Magalhães da Nóbrega acusando o Palácio do Planalto de oferecer cargos comissionados em troca da morte do ex-capitão do Bope. A presidente nacional do PT, deputada federal Gleisi Hoffmann (PR), disse que o caso das novas revelações é "gravíssimo".
Guilherme Boulos, do PSOL, referiu-se ao caso como "queima de arquivo". "Irmã de miliciano ligado a Bolsonaro fala que o governo ofereceu cargos em troca de seu assassinato", disse. Os relatos dos políticos foram publicados pelo jornal Folha de S.Paulo.
De acordo com o deputado federal Ivan Valente (PSOL-SP), o novo episódio é "estarrecedor, um bando de milicianos usando de qualquer meio para eliminar que não interessa mais pra eles". "Não é um governo, é uma quadrilha", afirmou.
A bancada do Psol protocolou na Câmara um requerimento cobrando explicações do governo Jair Bolsonaro sobre as declarações da irmã do miliciano.
Nóbrega morreu em fevereiro de 2020 durante uma ação policial na Bahia e era suspeita de comandar uma das principais milícias do estado do Rio - o Escritório do Crime, grupo de matadores profissionais.
De acordo com as gravações, Daniela Magalhães da Nóbrega conversou com uma tia dois dias após a morte do miliciano e afirmou que ele teria ficado sabendo da existência de uma reunião "envolvendo seu nome no palácio e do desejo de que se tornasse um ‘arquivo morto'".
Caso Marielle Franco
A milícia Escritório do Crime também é suspeita de envolvimento com o assassinato da ex-vereadora do Rio de Janeiro Marielle Franco (PSOL), assainada pelo crime organizado em 2018.
O ex-policial Ronnie Lessa, acusado de ser feito o disparo, sinalizou, neste semestre, que o crime teria sido intermediado por Adriano.
Os atiradores efetuaram os disparos em um lugar sem câmeras na cidade do Rio e, antes do crime, haviam perseguido por cerca de três quilômetros o carro onde estava Marielle.
Lessa morava no mesmo condomínio de Jair Bolsonaro, no município do Rio. Também está preso Élcio Vieira de Queiroz, de 46 anos e que, segundo as investigações, dirigia o carro no momento do crime. Queiroz também chegou a aparecer em uma foto com Jair Bolsonaro, que teve o seu rosto cortado na imagem.
A então vereadora era ativista de direitos humanos e tinha como uma de suas principais bandeiras as denúncias contra a atuação de milícias e também contra a violência policial nas favelas.
Proximidade com a família Bolsonaro
Jair Bolsonaro tem relação com Adriano pelo menos desde 2005, quando o então deputado federal criticou, na Câmara, a condenação por homicídio do ex-policial militar por causa da morte de um flanelinha numa operação policial. Na ocasião, Bolsonaro disse que o seu colega era um "brilhante oficial".
Em 2007, a então mulher do ex-PM, Daniella Mendonça, foi empregada no gabinete de Flávio Bolsonaro (PL-RJ) - na época, o atual senador era deputado estadual no Rio. Em 2016, a mãe de Adriano assumiu um cargo no mesmo lugar. As duas também são acusadas de envolvimento no caso da "rachadinha", esquema de desvios de salários de assessores.
No período em que era deputado estadual (2003-2019) no Rio, Flávio chegou a fazer uma homenagem ao ex-policial, com a Medalha Tiradentes, mais alta honraria da Assembleia Legislativa.
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