Ousadia e protagonismo sindical em Brasília
A Assembleia Geral da Classe Trabalhadora é fruto de um programa sindical que fortalece a participação dos trabalhadores e dos sindicatos e busca unificar as lutas gerais
Feito uma sequência prolongada de ondas, milhares de trabalhadores e trabalhadoras de todas as áreas de Brasília e de duas dezenas de municípios da Região Integrada de Desenvolvimento Econômico do Distrito Federal (Ride) foram chegando à conhecida Praça Betinho, diante da sede do Banco do Brasil no Setor Bancário Sul na manhã do último dia 5 de junho. Um dia que amanheceu com centenas de faixas da CUT Brasília afixadas nos postes das principais vias arteriais dando a eles boas vindas "à capital de todos os trabalhadores e as trabalhadoras". Além disso, anunciava a toda população as bandeiras de lutas e as reivindicações da classe trabalhadora em termos econômicos, com estabelecimento de piso salarial regional, por condições de trabalho e garantia de emprego, por um modelo de desenvolvimento que gere mais postos de trabalho, renda e justiça social, por aumento de investimentos em educação e saúde, por reforma agrária e democratização das oportunidades e da comunicação.
Cerca de 4 mil trabalhadores da cidade e do campo estiveram nesta atividade denominada Assembleia Geral da Classe Trabalhadora, em plena quarta feira, em horário comercial. Eram agricultores familiares, trabalhadores rurais sem terra, servidores municipais, estaduais do GDF e dos federais, professores, comerciários, bancários, vigilantes, rodoviários, trabalhadores de uma quantidade sem fim de categorias profissionais. A maioria com bonés, camisetas e bandeiras vermelhas da CUT e de suas entidades. O que os distinguia um de outro era a categoria ou o ramo de atuação inscritos na própria camiseta abaixo do logotipo da Central.
Durante mais de três horas, eles debateram, uma a uma, as propostas para compor a Plataforma de Lutas da Classe Trabalhadora. Era um total de 23 propostas e bandeiras de Lutas, reunindo interesses dos trabalhadores urbanos e rurais, dos setores público e privado, da ativa e dos aposentados, de todos os gêneros e raças e da juventude. Ao final, a Plataforma recebeu alguns poucos acréscimos e foi aprovada, unificando a mobilização e as lutas gerais de todas as categorias do campo e da cidade e tentando eliminar a fragmentação promovida pela estrutura sindical e pelos interesses meramente corporativos.
A aprovação foi por unanimidade, por meio de aclamação, e acompanhada por uma sessão de rojões. Os relatos de quem esteve presente são coincidentes: no rosto de todos, mais do que de alegria, havia uma feição de orgulho de participar daquele momento de decisões e compor a luta.
Esta é a segunda vez que a CUT Brasília realiza este tipo de assembleia ampla, de multicategorias. A primeira foi organizada há um ano, logo após a posse da direção comandada pelo jovem e corajoso Rodrigo Britto. Desta vez, com mais tempo de organização e planejamento, a atividade veio consolidar uma proposta sindical que tem a marca da ousadia, que renova e revigora a ação da CUT Brasília. Um programa chamado de Todo Poder aos Sindicatos, lançado por um grupo de sindicalistas cutistas do Distrito Federal em 2011 do qual faço parte como um dos formuladores, que procura reafirmar princípios da CUT, incrementar a participação das bases e de suas entidades representativas nas discussões e decisões, e fortalecer a organização, a solidariedade e a unidade na luta pela hegemonia dos interesses dos trabalhadores nas disputas dentro da sociedade.
O programa busca a construção de entidades fortes, propõe a renovação e a formação de dirigentes para que efetivamente estejam no dia-a-dia dos trabalhadores e possibilitem que estes participem e se sintam atores da ação sindical. Merece destaque que o programa ressalta a luta histórica da CUT pela construção do socialismo, pelo estabelecimento de uma sociedade justa e igualitária, que atenda os verdadeiros interesses dos trabalhadores e trabalhadoras.
A boa nova que constitui a ação sindical da CUT Brasília demonstra o acerto e a necessidade das linhas apresentadas no programa. São as mesmas questões que venho disseminando nas palestras que realizo Brasil adentro sobre os desafios do movimento sindical no país e no mundo para se contrapor à certa letargia e perplexidade e aos desvios diante da investida do capitalismo, na versão neoliberal, contra os trabalhadores.
A Assembleia Geral da Classe Trabalhadora vem no bojo de um trabalho que vai além das lutas em torno de questões meramente econômicas e trabalhistas. A própria organização dos trabalhadores amplia a visão das necessidades para melhoria da qualidade de vida, inserindo as suas entidades na mobilização por políticas públicas para saúde, educação e também nas áreas de cultura, esporte e lazer. Isso ficou nítido desde as plenárias municipais e regionais preparativas promovdas nos últimos três meses.
A Assembleia Geral da Classe Trabalhadora no dia 5 de junho é, assim, fruto de um processo inédito e rico de aproximação e de consulta às bases. É um marco para o sindicalismo de Brasília em função do salto de qualidade que proporcionou e um exemplo para o movimento sindical que se ressente de renovação e ousadia.
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