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    Partidos aliados temem perder espaço para o Centrão no primeiro escalão do governo Lula

    Principal recado de insatisfação partiu do presidente do PSB: "se o presidente ceder espaço para aqueles que apoiaram Bolsonaro, quem perderá será o nosso país"

    Luiz Inácio Lula da Silva e o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (no microfone) (Foto: Ricardo Stuckert | Pablo Valadares/Câmara dos Deputados)

    247 - Diante da intenção do Palácio do Planalto de garantir a inclusão de PP e Republicanos no governo Lula (PT), partidos que já fazem parte da base aliada começaram a demonstrar desconforto com a perspectiva de remanejamentos ou redução de espaço. Observando atentamente os movimentos do presidente e as conversas de articulação política, PSB, MDB e o próprio PT passaram a enviar mensagens sinalizando sua insatisfação.

    Um dos sinais mais evidentes veio do presidente do PSB, Carlos Siqueira. "Temos pessoas de grande qualidade e experiência servindo ao governo e ao Brasil. Se o presidente desejar dispensar uma delas para ceder espaço para aqueles que apoiaram Bolsonaro no primeiro e segundo turnos, quem perderá será o nosso país. Isso é decisão do presidente Lula e não quero crer que ele deseja piorar a política brasileira", disse Siqueira ao jornal O Globo.

    Ele se referia à avaliação, feita entre aliados no Congresso, de que o vice-presidente, Geraldo Alckmin (PSB), poderia perder a pasta do Desenvolvimento, Indústria e Comércio. Também se referia à possibilidade de o Ministério de Portos e Aeroportos deixar de ser comandado por Márcio França (PSB). O PSB ainda ocupa o Ministério da Justiça, com Flávio Dino, considerado da cota pessoal de Lula.

    Lula tem expressado publicamente sua insatisfação em relação a algumas das demandas feitas pelo Centrão, como a substituição em pastas como Saúde, com Nísia Trindade, e Desenvolvimento Social, liderado por Wellington Dias (PT-PI). No Planalto, a saída de Alckmin também é vista como improvável devido ao potencial de gerar desgastes entre Lula e o vice-presidente.

    O Centrão, liderado hoje pelo presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), já enviou ao governo uma lista com as vagas de seu interesse. O PP quer o deputado André Fufuca (MA) exatamente no cargo de Dias. Além disso, deseja que o ex-ministro Gilberto Occhi retorne à presidência da Caixa, e busca o comando da Fundação Nacional de Saúde (Funasa).

    A possível ida de Occhi para a Caixa enfrenta resistência do senador Renan Calheiros (MDB-AL) e de Renan Filho (MDB), ministro dos Transportes. O indicado do PP tem ligações com Lira, adversário político dos Calheiros, e com o presidente do partido, Ciro Nogueira (PI). Renan afirmou acreditar que o MDB não sofrerá mudanças nos três ministérios — além de Transportes, comanda Cidades e Planejamento. No entanto, demonstrou insatisfação com as novas negociações, afirmando: "o governo deveria ter formado essa maioria desde o início, teria sido mais fácil".

    Na semana passada, a ministra do Planejamento, Simone Tebet (MDB), também demonstrou preocupação diante das conversas, mas em relação à representação feminina no primeiro escalão. "Se por acaso houver uma mudança ministerial, esperamos que mulheres sejam incluídas. O importante é a proporção e a representação feminina". A declaração foi feita em meio à especulação sobre a permanência da ministra do Esporte, Ana Moser. O Republicanos deseja emplacar o deputado Sílvio Costa Filho (PE) na pasta.

    Já o União Brasil, que tem os ministérios de Integração Nacional, Turismo e Comunicações, tem interesse em ocupar cargos de segundo escalão, como Correios e Embratur. Preocupado, o PT busca fortalecer o ex-deputado Marcelo Freixo na Embratur e o advogado Fabiano Silva, do grupo Prerrogativas, nos Correios. Outra preocupação é com o Ministério do Desenvolvimento Social. No entanto, Lula já afirmou publicamente que não pretende fazer mudanças nessa pasta, responsável pelo Bolsa Família, uma das principais bandeiras petistas. No entanto, não fez o mesmo com a presidente da Caixa, Rita Serrano, que está sendo pressionada por vários partidos, inclusive petistas. Integrantes da articulação política acreditam que a troca no comando do banco é a mais fácil de ser viabilizada no momento.

    Outra questão em discussão é sobre a Funasa. O governo pretende ouvir PP, União Brasil e PSD para definir a presidência e as diretorias do órgão. A fundação havia sido extinta pelo Executivo, mas foi recriada pelo Congresso, que deixou a medida provisória perder a validade. Essas siglas desejam fortalecer a Funasa e vinculá-la ao Ministério da Saúde. Já o MDB e alas do governo desejam dar protagonismo ao ministro das Cidades, Jader Filho, e manter a autarquia sob seu guarda-chuva — possivelmente com uma estrutura mais enxuta.

    Em uma conversa por telefone há duas semanas, Lula garantiu a Lira, de forma genérica, que a Câmara estaria mais representada no governo. No entanto, uma parte do governo considera os pedidos excessivamente altos. O próprio PP reconhece que não conseguirá tudo o que deseja.

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