Na economia da miséria, frigoríficos vendem ossos de 'primeira e de segunda' em Fortaleza
Inflação, fome e pobreza levaram a um aumento da demanda por ossadas, que subiram de preço nos mercados
247 - Frigoríficos da periferia de Fortaleza estão comercializando ossadas de primeira e de segunda, informa reportagem do Diário do Nordeste sobre a fome. O portal de notícias informa que “o osso de primeira custa R$ 9 o quilo, enquanto o osso de segunda, R$ 5”, ao mesmo tempo em que o aumento da demanda levou a uma alta no preço dos produtos.
“As ossadas sempre estiveram presentes nos açougues do Nordeste sendo usadas em caldos, sopas, feijão, entre outros pratos. No entanto, com a alta no preço dos alimentos, como a carne, que subiu 24,4% em 12 meses em Fortaleza, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), muitas famílias mais vulneráveis passaram a recorrer às ossadas como ítem principal no prato”, destaca a reportagem.
Maria da Penha Ferreira de Sousa, que está desempregada, relatou ao jornal que a última vez em que comprou carne foi em fevereiro. “Tem vez que dá aquela vontade, mas infelizmente não dá (para comprar). Até os ossos que eu gostava pra fazer sopa deu uma subida e não comprei mais”, declarou a mulher de 36 anos, cuja única renda é o auxílio emergencial de R$ 375.
Segundo ela, mesmo os ossos perderam seu “custo-benefício”, pois o quilo da ossada subiu de R$ 3 para R$ 8. “Sem dinheiro suficiente para o básico, a família investiu no consumo de ovos e embutidos, como mortadela e salsicha”, destaca o Diário do Nordeste.
O empobrecimento da população após o golpe de 2016 (que acarretou no governo Jair Bolsonaro) faz com que os produtos de baixa qualidade sejam os mais vendidos nos mercados. Vilaneide Bruno, que é funcionária de um frigorífico, relatou à reportagem que os produtos que mais saem são quase exclusivamente carnes com ossos, como lombo, peito e a própria ossada. Além disso, o fígado, preparos para feijoada e panelada, bisteca e costela de porco.
"A ossada aumentou demais a procura, porque você bota dentro do feijão e não precisa mais da carne. A gente dos frigoríficos está se sustentando praticamente só com a carne dianteira, que é a carne de segunda", afirma.
Já o pequeno empresário Gabriel Santos afirmou que "sempre procuram o que está mais em conta, o que está na promoção, que é a carne pra cozido, o porco, o sarrabulho, a ossada. O frango era uma coisa bem acessível e hoje está bem elevado, subindo cada dia mais. Está difícil pro consumidor comprar proteína".
Segundo o empresário, clientes sempre o questionam sobre a variação dos preços semana a semana, que não pode ser evitada, de acordo com ele. “Está subindo muito. O boi não pode subir e a gente manter o mesmo preço. Então, a gente tem que acompanhar essa subida", argumentou.
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