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    “A branquitude não quer largar o chicote”, diz vereadora Thais Ferreira

    A vereadora Thais Ferreira (PSOL-RJ) relaciona o número ínfimo de mulheres pretas na política aos quase quatro séculos de escravidão que os afrodescendente foram submetidos. “Muitas vezes nos sentimos tão aviltadas em nossa essência preta, que chegamos a pensar que seja necessário ‘embranquecer’ para que a gente sobreviva”, disse. Assista

    Thais Ferreira (Foto: Reprodução Facebook)
    Pablo Nacer avatar
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    247 - Eleita à Câmara Municipal do Rio de Janeiro com 14.284 votos, Thais Ferreira (PSOL) é mais uma mulher preta a ganhar voz no atual cenário político. Oriunda da periferia da zona norte carioca, a psolista falou sobre o seu início na política. “Na verdade, eu acompanho desde menina as mulheres da minha família fazendo política do cotidiano. Eu venho de uma família de mulheres pretas que sempre foram lideranças em suas comunidades e, a partir de acompanhar essas trajetórias, eu acabava participando de ações que já eram políticas e sociais dentro dessas comunidades. E não tinha como ser diferente. Com esses exemplos dentro de casa, de mulheres que eram mães e exerciam liderança política dentro de suas comunidades, eu tive muita inspiração para fazer a minha própria caminhada, que começou ainda na adolescência”, explicou.

    Thais relaciona o número ainda ínfimo de mulheres pretas na política aos quase quatro séculos de escravidão que os afrodescendente foram submetidos. Segundo  a vereadora, “temos um dever de casa a fazer, que é continuar batalhando para que esse quadro mude, e para que essa percepção de como as estruturas partidárias devem ser projetadas para dentro e para fora, devem ser transformadas. O problema é que a branquitude não quer largar o chicote. Sobreviver nesse espaço que ainda é branco, de esquerda à direita, e masculino dominante, é, de fato, adoecedor e violador para nós mulheres pretas. Muitas vezes nos sentimos tão aviltadas em nossa essência preta, que chegamos a pensar que seja necessário ‘embranquecer’ para que a gente sobreviva. E resistir a esse ‘embranquecimento’ é uma tarefa muito árdua, que todos os pretos conscientes que estão na política vêm realizando o tempo todo”.

    A jovem vereadora também questiona os padrões de referência que são apresentados pela sociedade, que acabam excluindo a presença preta do ambiente político. “Muitas vezes quando trazemos uma referência nossa, que nem chega a ser conflitante, mas é invisível, porque sofremos um epistemicídio o tempo todo, muitos não sabem do que se trata. Então, quando vamos confrontar o que existe de preto referenciado e o que existe de eurocêntrico, as pessoas dizem que nunca leram ou ouviram falar a respeito. Mas nós, pretos, precisamos ter feito a leitura de tudo o que a branquitude tem como referência, para sermos considerados num debate. Se vamos fazer uma discussão programática que seja, vão exigir que a gente saiba falar sobre o capital. Do contrário, nem entramos em determinados espaços. No entanto, a branquitude não está preparada para discutir questões étnico raciais, mas nós pretos não podemos questioná-los porque ainda não temos poder representativo para tal”, analisou Thais.

    O apresentador Ricardo Nêggo Tom considera que essa ausência de referências faz com que os próprios pretos não deem credibilidade a candidaturas de seus pares étnicos. Opinião compartilhada em parte pela vereadora. “Sobre essa colocação, eu gostaria até de falar sobre uma pesquisa feita pelo grupo ‘Mulheres pretas decidem’, que descobriu que preto não votar em preto é um mito. Mas ainda existe esse lugar da falta de crédito, principalmente, para aquelas pessoas que estão na linha ‘eleitor médio’. E precisamos discutir também que ‘eleitor médio’ é esse. Eu tenho algumas dúvidas sobre essa leitura, mas nesse lugar, infelizmente, é o que vivemos durante a campanha. Quando me apresentava como candidata, as pessoas perguntavam se a candidata era eu mesma ou coisas do tipo: ‘pode ser candidata com esse cabelo?’ Isso é fruto de um lugar de analfabetismo político, para onde nós pretos fomos empurrados historicamente”, avaliou a parlamentar.

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