Além da pressão do PSDB, Doria desistiu para tentar salvar seus negócios
Aliados citaram a preocupação de Doria com seus negócios, em se proteger de um eventual governo Lula ou Bolsonaro, já que ele não tem relação próxima com nenhum dos dois
247 - Aliados do ex-governador João Doria (PSDB) avaliaram que a desistência de sua candidatura a presidente, anunciada nesta segunda-feira (23), tem, além da inviabilidade eleitoral, a preocupação de Doria com seus negócios, de se proteger de um eventual governo Lula ou Bolsonaro, já que não tem relação próxima com nenhum dos dois.
Segundo reportagem de Andréia Sadi e Julia Duailibi, do G1, aliados de Doria avaliam que a pressão para o tucano desistir levou em conta a não implosão da candidatura de Rodrigo Garcia. "Além do temor da contaminação da candidatura do governador, com a presença do ex-governador no palanque, o próprio Doria precisa salvar o seu 'day after' fora da política: sem perspectiva de cargo público, tem de se preocupar com sua vida no meio empresarial", afirmam as jornalistas.
"Como exemplo citam o Lide, evento que reúne autoridades e empresários e vive do bom relacionamento e interlocução com partidos e políticos diversos. Se Lula ou Bolsonaro ganhar, a avaliação de aliados de Doria é de que o canal federal estará obstruído, pois ambos são adversários do tucano. Sem o governo de São Paulo, que é a principal aposta do PSDB, Doria não terá nem canal estadual", acrescentam.
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O ex-governador de São Paulo João Doria (PSDB) desistência de disputar a presidência da República. Em anúncio feito nesta segunda-feira (23), durante entrevista coletiva, Doria admitiu que não conseguiu convencer a cúpula do PSDB em abraçar sua candidatura. “Entendo que não sou a escolha da cúpula do PSDB, me retiro da disputa com o coração ferido, mas com a alma leve”, afirmou.
A decisão do ex-governador vem às vésperas da reunião da executiva do PSDB para definir a posição da legenda na eleição de outubro. Na realidade, todas as pesquisas apontam o nome de Doria como o mais rejeitado pela opinião pública, inclusive no estado de São Paulo. Desse modo, os partidos que têm conversado sobre unificar um nome que assuma a condição de “terceira via” não veem margem para o tucano ir além dos 3% a 5% nas pesquisas.
A retirada de Doria abre brecha para a senadora Simone Tebet (MDB-MS). PSDB, MDB e Cidadania negociam lançar candidatura única. Ela também se posiciona abaixo dos 3% nas pesquisas, mas os aliados avaliam que a senadora tem mais chance de crescer. É mulher, teve atuação destacada na CPI da Covid e, por ser pouco conhecida nacionalmente, tem taxa de rejeição baixa.
Consenso ou mais divisão?
O MDB e o PSDB foram os principais articuladores do golpe de 2016, que destituiu Dilma Rousseff para impor o programa de governo que havia sido derrotado nas urnas. Caso as legendas definam o nome de Simone Tebet, o MDB se apresentará dividido nas eleições. Uma parte, ligada a Michel Temer e mais próxima ao Centrão, apoia Bolsonaro. Outra, ligada ao senador Renan Calheiros (AL), apoia o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
O presidente do PSDB, o pernambucano Bruno Araújo, indicou que Tebet é o nome que sai na frente para ter o apoio tucano. “É o nome posto”, disse. Segundo o dirigente, a escolha contará com a “ajuda do governador João Doria”. Ele acrescentou que a ideia é construir “um projeto em que esse nome represente um compromisso com programas, projetos para o país e com o fortalecimento de palanques importantes, como é o caso do Rio Grande do Sul, onde o MDB pode ser um parceiro importante no projeto do PSDB”.
Mas a unidade do PSDB, claramente fraturado, é improvável, mesmo que os líderes tentem passar essa impressão. Na ala gaúcha do partido está um dos principais opositores de Doria entre os tucanos, o ex-governador Eduardo Leite, derrotado por Doria nas prévias. Na composição de uma eventual chapa da “terceira” via”, Leite é cotado para ficar como vice de Tebet.
Porém, a divisão dos tucanos não tem fim. Um ala defende que, com a saída de Doria do páreo, Leite seja o candidato do partido na disputa presidencial. Nesta terça-feira (24), a legenda se reúne com o MDB para discutir os rumos da campanha.
Tebet é um nome considerado “promissor” por ter baixa rejeição. Segundo o Ipespe, 37% não votariam na parlamentar “de jeito nenhum”. O índice de Doria é de 53%. Araújo desconversa sobre o vice. “Estamos focando agora em selar quem é o candidato a presidente. O caminho aponta para essa aliança feita com o MDB junto com o Cidadania. O PSDB está firme nessa coligação”, garante.
Em postagem no Twitter, o cientista político Vitor Marchetti, da Universidade Federal do ABC, ironizou o movimento do ex-governador de São Paulo. “Doria está deixando de participar da vida pública pela via pública. Voltará a fazer o que sempre fez, interferir na vida pública pela via privada”, escreveu.
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