TV 247 logo
    HOME > Sudeste

    Cerco do MEC e da CGU às universidades públicas afronta a Constituição, diz professor da USP

    “É inaceitável”, critica Paulo Capel Narvai, professor-titular sênior da Faculdade de Saúde Pública da USP. “Servidores públicos não são servidores de autoridades do Poder Executivo”, acrescenta

    Paulo Capel Narvai, professor da Faculdade de Saúde Pública da USP (Foto: Marcos Santos/USP Imagens)
    Gisele Federicce avatar
    Conteúdo postado por:

    Por Paulo Henrique Amorim, para o 247 - O ofício do Ministério da Educação (MEC) recomendando às universidades federais que previnam e punam o que os iluminados da Pasta entendem como “atos político-partidários” em ambiente acadêmico e o processo aberto pela Controladoria Geral da União contra dois professores da Universidade Federal de Pelotas afrontam, além do bom senso, a autonomia universitária consagrada na Constituição.

    “É inaceitável. Uma agressão à autonomia universitária e aos que lhe dão vida, dentre os quais seus docentes e pesquisadores. Servidores públicos não são servidores de autoridades do Poder Executivo. Nenhuma autoridade pública é inalcançável pelo pensamento”, critica Paulo Capel Narvai, professor-titular sênior da Faculdade de Saúde Pública da USP.

    Não há surpresa no ofício do MEC. De Ricardo Vélez Rodriguez a Milton Ribeiro, passando pelo inacreditável Abraham Weintraub, o governo nada faz além de perseguir as universidades. Não adianta a pandemia provar que sem as instituições públicas de ensino e pesquisa, como a Fiocruz e o Instituto Butantan, estaríamos numa vala sanitária ainda mais profunda. Para os obscurantistas que se reproduzem como pragas no Planalto, ambiente acadêmico é sinônimo de balbúrdia e aparelho esquerdista.

    “A medida arbitrária e, portanto, autoritária, é mais uma agressão às liberdades que o presidente da República diz defender, e grave violação ao Estado Democrático de Direito. O ato carece de fundamento e deve ser tornado sem efeito o quanto antes, pois, ao contrário do que alguns podem supor, não atinge apenas aos colegas da Universidade Federal de Pelotas, mas a toda universidade pública brasileira”, protesta Paulo Capel.

    Histórico de ataques às universidades públicas

    O desmonte ideológico, desde os primeiros momentos do governo Bolsonaro, tenta se viabilizar mediante o sufocamento financeiro. Vale recordar. Assim que aportou no MEC, o especialista no setor financeiro Abraham Weintraub anunciou cortes na Universidade de Brasília, na Universidade Federal Fluminense e na Universidade Federal da Bahia, escolas que nada fariam além de promover “balbúrdias”. Cobrado a justificar-se e repudiado pelos profissionais do ramo, Weintraub posteriormente estendeu a tesourada para as federais em geral.

    Ao excluir o ensino superior público de suas prioridades na hora de contingenciar recursos, o governo demonstra desconhecer que das 50 instituições que mais publicam trabalhos científicos no país, 36 são universidades federais e sete são universidades estaduais, conforme levantamento feito por órgãos do próprio governo.

    “Enquanto o banido Weintraub fez guerra ideológica no atacado, o atual ministro faz seus ataques no varejo. Incapaz de apoiar as instituições de ensino neste momento de crise profunda, o MEC se dedica a cortar verbas, perseguir professores e inocular sua ideologia fascistoide nos livros e materiais didáticos que compra e distribui”, indigna-se César Callegari, presidente do Instituto Brasileiro de Sociologia Aplicada.

    Callegari integrou o Conselho Nacional de Educação por 12 anos e foi secretário de Educação Básica do MEC durante a gestão Fernando Haddad. Com Haddad, foi também secretário municipal de Educação de São Paulo. “Reitores e dirigentes das instituições e redes de ensino devem se apoiar nas garantias constitucionais e, em desobediência civil, rechaçar os atos autoritários do atual governo”, conclama.

    ❗ Se você tem algum posicionamento a acrescentar nesta matéria ou alguma correção a fazer, entre em contato com redacao@brasil247.com.br.

    ✅ Receba as notícias do Brasil 247 e da TV 247 no Telegram do 247 e no canal do 247 no WhatsApp.

    iBest: 247 é o melhor canal de política do Brasil no voto popular

    Assine o 247, apoie por Pix, inscreva-se na TV 247, no canal Cortes 247 e assista: