Ícone do fotojornalismo brasileiro, Evandro Teixeira morre aos 88 anos
Familiares confirmaram o óbito do fotojornalista que documentou alguns dos momentos mais significativos da história brasileira
247 - Um dos grandes ícones do fotojornalismo no Brasil, Evandro Teixeira morreu nesta segunda-feira (4), aos 88 anos, no Rio de Janeiro. Ele estava internado na Clínica São Vicente, na Gávea, Zona Sul da cidade. Segundo familiares, Teixeira sofreu falência múltipla de órgãos devido a complicações de uma pneumonia.
Com uma carreira de quase sete décadas, Teixeira documentou alguns dos momentos mais significativos da história do Brasil, incluindo o golpe militar de 1964 e a ocupação do Forte de Copacabana em 1º de abril do mesmo ano. Boa parte de sua obra foi realizada em preto e branco, um estilo que se tornou característico de seu trabalho.
Nascido em 1935, no município baiano de Irajuba, a 307 km de Salvador, Teixeira iniciou seu aprendizado em fotografia por correspondência. Em 1957, mudou-se para o Rio de Janeiro com uma carta de recomendação para o jornal Diário da Noite, do grupo dos Diários Associados, de Assis Chateaubriand, no Rio de Janeiro.
Em 1963, o fotojornalista foi convidado a integrar a equipe do Jornal do Brasil, onde trabalhou por 47 anos e consolidou sua posição como uma referência no fotojornalismo brasileiro. Ele também se tornou autor dos livros: Fotojornalismo (1983); Canudos 100 anos (1997); e 68 destinos: Passeata dos 100 mil (2008)
Dificilmente alguém nunca se deparou com uma foto de Evandro ao pesquisar sobre eventos marcantes da história. Ele registrou momentos como a Copa do Mundo de 1962, a repressão ao movimento estudantil de 1968, o golpe militar no Brasil e no Chile e o massacre de Jonestown, em 1978.
É dele a imagem da tomada do Forte de Copacabana, no dia 1º de abril de 1964, que mostra as silhuetas de soldados em meio a uma chuva torrencial. Símbolo dos anos difíceis que o país atravessaria sob governos autoritários. E a fotografia, ainda mais conhecida, de um estudante caindo no chão, enquanto dois policiais se preparam para atacá-lo, em meio às manifestações contra a ditadura no dia 21 de junho de 1968.
As obras de Evandro integram coleções de instituições como o Museu de Arte de São Paulo (Masp), o Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM-RJ) e o Instituto Moreira Salles, no Rio de Janeiro.
Cobertura internacional
No ano passado, o Centro Cultural do Banco do Brasil, no Rio de Janeiro, exibiu uma mostra com 160 imagens do fotógrafo. O destaque era a cobertura internacional do golpe militar no Chile, que completava 50 anos. Evandro conseguiu entrar na capital Santiago no dia 21 de setembro de 1973, dez dias depois do golpe liderado pelo general Augusto Pinochet, que encerrou o governo democrático do socialista Salvador Allende.
Mesmo com toda a vigilância, Evandro registrou imagens que atestavam a violação de direitos humanos no país. No Estádio Nacional, driblou a vigilância dos soldados e fotografou o porão onde estudantes eram encarcerados com violência. A imagem foi revelada rapidamente em um laboratório improvisado no banheiro do hotel e transmitida para o Brasil por um aparelho de telefoto.
Em outro momento, conseguiu ser o primeiro a registrar a morte de Pablo Neruda. O fotógrafo entrou no hospital onde estava o corpo do poeta por uma porta lateral, sem ser notado pelos seguranças. Encontrou Neruda sendo velado em uma maca no corredor pela viúva Matilde Urrutia. Depois, com a permissão da família, acompanhou todos os passos do velório na residência do casal e o enterro no Cemitério Geral de Santiago.
Mas foi um acontecimento, em tese mais simples do que os anteriores, que levou Evandro a passar uma noite na prisão. E que atesta não só as qualidades técnicas do fotógrafo, mas o olhar apurado para as desigualdades sociais. “Faltava carne de vaca para a população, que só comia galinha e porco. Eu estava andando pela cidade e passei em frente ao Ministério da Defesa. Vi um carro de açougueiro parado e um cidadão entrar com um boi inteiro nas costas para o pessoal do quartel. Achei uma sacanagem e fiz a foto”, relatou Evandro à época (com Agência Brasil).
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