Jornalista ameaçado com arma por Carla Zambelli: 'ela falava para eu deitar no chão como se eu tivesse cometido algum crime'
“Nunca imaginei que por uma discussão política na rua eles iam me ameaçar com arma", afirmou o jornalista Luan Araújo, jovem negro ameaçado com uma arma pela deputada
Por Júlia Pereira | Rádio Brasil Atual - No programa Entre Vistas que foi ao ar ontem (10), na TVT, o apresentador Juca Kfouri conversou com o jornalista Luan Araújo, jovem negro ameaçado com uma arma pela deputada federal Carla Zambelli em 29 de outubro, um dia antes do segundo turno das eleições. O caso levantou discussões sobre racismo e sobre controle de armamentos para a população. Durante a conversa, Luan contou que saía de uma hamburgueria na tarde daquele sábado, quando avistou a deputada e seus assessores na porta de um restaurante. O fato aconteceu no bairro dos Jardins, em São Paulo.
Luan disse que ouviu um dos integrantes do grupo proferir palavras de apoio ao candidato ao governo de São Paulo pelo PL, Tarcísio de Freitas. Como resposta, Luan manifestou seu apoio ao então candidato à Presidência da República Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Segundo o jornalista, a discussão política se tornou violenta quando Carla Zambelli e um segurança dela começaram a persegui-lo na rua, momento em que houve um disparo de arma de fogo.
“Nunca imaginei que por uma discussão política na rua eles iam me ameaçar com arma. Aí eu saí correndo na esquina da Rua Lorena com a rua Joaquim Eugênio de Lima e vi que a deputada estava apontando sua arma para mim. Ela falava para eu deitar no chão como se eu tivesse cometido algum crime. Ou como se eu estivesse ameaçando a integridade dela. Mas eu nem toquei nela durante a discussão. Eu saí correndo assustado, direto para aquela lanchonete ali na esquina, e aí eles me cercam dentro daquela lanchonete”, afirmou Luan Araújo.
Durante o programa Entre Vistas, o advogado de Luan explicou que a apuração sobre o caso foi dividida em duas partes. Um dos inquéritos tramita no 78º DP e tem como objetivo investigar o segurança de Carla Zambelli, que teria sido o autor do disparo. Ele chegou a ser preso na madrugada de sábado para domingo, mas foi solto após pagar fiança.
O outro inquérito tramita no Supremo Tribunal Federal (STF) para apurar as condutas da deputada. O ministro do STF Gilmar Mendes autorizou a Procuradoria- Geral da República a recolher o depoimento de Carla Zambelli. No entendimento da defesa de Luan, a parlamentar cometeu o crime de ameaça e de racismo, porque o episódio envolveu outros amigos do jornalista, mas apenas ele, que é negro, foi perseguido pela deputada.
‘Usaram um negro para vir em cima de mim’
Logo após o caso, Carla Zambelli deu entrevista dizendo que ”usaram um negro para vir em cima de mim”.
“As pessoas negras não sofrem racismo em uma oportunidade específica, elas sofrem com o racismo de uma maneira geral, ainda mais neste país que não acertou contas de muitas coisas, e a dívida histórica com os negros é uma delas. Eu sofro o racismo estrutural e de repente pela forma como a minha carreira andou, porque eu não tenho uma carreira como eu imaginava, eu falo que pessoas como eu, pessoas pretas, sofrem racismo (…). É lógico que tem algumas coisas mais intensas, como esse caso, mas as pessoas acabam sofrendo com essas questões no dia a dia”, afirma Luan.
Além do racismo, o atentado cometido por Carla Zambelli contra Luan jogou luz sobre outro assunto, o aumento do número de armas de fogo nas mãos de civis. A compra e circulação de armas foram facilitadas pelo governo Bolsonaro, que em quatro anos editou 19 decretos, 17 portarias, duas resoluções e três instruções normativas sobre o tema. Para Luan, o próximo governo não terá apenas de revogar essas medidas, como também atuar na conscientização sobre os riscos que o armamento da população representa.
“Não sei se a Carla Zambelli tinha intenção de fazer aquilo, mas o caso é que naquele ato ela acaba também insuflando outras pessoas a reagir da mesma forma, apontando arma em uma discussão”, diz Luan Araújo.
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