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    Lessa pagava advogado de Queiroz, afirma Promotoria

    De acordo com o MP-RJ, o miliciano Ronnie Lessa também ajudava financeiramente os familiares do parceiro dele. Os dois estão presos por envolvimento no homicídio de Marielle Franco

    Montagem (da esq. para a dir.): Marielle Franco, Ronnie Lessa e Élcio Queiroz (Foto: Mídia NINJA | Reprodução)

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    247 - O Ministério Público do Rio de Janeiro apontou que o policial militar reformado Ronnie Lessa ajudou financeiramente o ex-policial militar Élcio de Queiroz depois de serem presos, em março de 2019, por envolvimento no assassinato da ex-vereadora da cidade do Rio de Janeiro Marielle Franco (PSOL) em 2018. Segundo o inquérito, Lessa, acusado de ser o autor dos disparos que mataram a ex-parlamentar, pagava o advogado de Queiroz, fez escolha sobre quem defenderia o ex-PM e dava ajuda financeira a familiares dele. Após Queiroz fazer acordo de colaboração, o advogado João Henrique Santana Telles deixou o caso. A informação foi publicada nesta terça-feira (25) pelo jornal Folha de S.Paulo.

    Segundo o relatório do inquérito, "o advogado de Élcio foi escolhido por Ronnie e era pago pelo denunciado, sendo certo que este último igualmente ficou responsável por remeter quantia em dinheiro para auxiliar na subsistência da família de Élcio". "Tudo com o evidente objetivo de evitar que este rompesse com os comparsas e viesse a se dissociar de Ronnie em sua tese defensiva ou, ainda, voluntariamente auxiliar a Justiça, seja confessando os fatos, seja figurando como réu colaborador", afirmou.

    O advogado João Henrique Santana Telles afirmou que foi "surpreendido" com a colaboração de Queiroz. "Por questões de foro íntimo, decidi deixar a defesa técnica dele, por não compactuar com o instituto da delação premiada, algo que ele [Élcio] sempre soube da minha objeção profissional a esse instituto. Quem me pagava era a família do senhor Élcio a mando dele, por estar privado da sua liberdade. A família dele sempre me garantiu que a procedência dos valores eram lícitos de fonte legal, agora quem dava dinheiro para a família dele, eu não tenho como dizer", completou o defensor.

    Em depoimento a investigadores, Queiroz admitiu que dirigia o carro de onde partiram os tiros contra a então vereadora. Morta pelo crime organizado, Marielle era ativista de direitos humanos. Fazia denúncias contra a violência policial nas favelas e criticava a atuação de milícias - grupos que praticam atividades de forma ilegal, como a cobrança de taxas para alguns serviços (energia e segurança), além de envolvimento com tráfico de drogas e homicídios.

    O delator afirmou que o responsável pelos tiros teria experimentado um "aumento muito grande" em seu patrimônio após o crime. Queiroz disse que, depois de ser preso, passou a receber uma mesada de Lessa para ajudar a pagar os gastos de sua família e do advogado. No início, o valor do pagamento mensal era de R$ 10 mil, mas diminuiu ao longo do tempo.

    Conforme depoimento do ex-PM a investigadores, o dinheiro era proveniente do chamado "gatonet" - receptações ilegais de sinais de TV que são distribuídas a moradores de um bairro, mas eles precisam pagar taxas extras. Segundo Queiroz, Ronnie e o ex-bombeiro Maxwell Simões Corrêa, o Suel, preso nesta segunda-feira (24), tinham uma "sociedade" nessa prática ilícita na região de Rocha Miranda, no morro chamado Jorge Turco, zona norte do município do Rio. Após o assassinato contra a ex-vereadora, Lessa comprou veículos de luxo e pretendia construir uma fortaleza de dois andares em um terreno de sua propriedade, no condomínio Portogalo, em Angra dos Reis (RJ).

    Sobre a renda de Maxwell, as investigações apontaram que o dinheiro vinha do "gatonet" e não era compatível com a renda de um bombeiro. No relatório de inteligência do Conselho de Controles de Atividades Financeiras (Coaf), Maxwell movimentou créditos de mais de R$ 559 mil entre 2014 e 2019. O órgão apontou que somente R$ 86 mil eram provenientes de salário. "O restante são provenientes de depósitos, transferências bancárias e operações de créditos", diz o relatório, citado pela investigação do Ministério Público. Entre março de 2019 e outubro de 2010, os créditos movimentados por Maxwell somaram mais de R$ 569 mil. O salário médio informado por ele na época era de R$ 5.734,83.

    No começo deste ano (2023), Lessa fez chegar ao governo do estado do Rio de Janeiro a informação de que ele pretendia fazer uma delação premiada, mas as negociações não avançaram.

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