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    Paranoia da segurança agrava crise do transporte aéreo

    Não fosse pela alternativa de um transporte praticamente insubstituível no mundo moderno, o conselho, em época de férias, seria: “fuja do aeroporto”

    João José Forni avatar
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    Nesta semana, o conhecido ator americano Alec Baldwin teve um entrevero com um comissário da empresa aérea American Airlines, no aeroporto de Los Angeles. Ele foi expulso do avião, ao se desentender com o comissário, que o repreendeu por estar jogando no telefone celular, antes de o avião decolar.

    O ator, conhecido pelo temperamento explosivo, após ser retirado do voo pela polícia, abriu suas baterias contra a empresa e o serviço aéreo de modo geral, com repercussões na mídia tradicional e nas redes sociais. A American se defendeu, alegando que ele foi “extremamente rude com a tripulação, proferindo nomes inapropriados e usando linguagem ofensiva”.

    Baldwin enviou uma carta, publicada no prestigiado site de notícias, Huffington Post, dos EUA, pedindo desculpas pelo transtorno, aos demais passageiros. O ator contou a história em detalhes e aproveitou para postar um desabafo contra a forma como os passageiros passaram a ser tratados nos aeroportos e empresas aéreas. Ele alegou não ser o único a usar o celular, enquanto esperava a decolagem do voo, que já estava atrasado meia hora e ainda demoraria 15 minutos para decolar. “Aviões sujos, refeições ruins, corte no serviço de bordo, com menos assentos nas viagens”, registrou.

    E que diferença faz proibir o uso do celular no pátio, com o avião parado, ou no trajeto, se você pode ligá-lo alguns metros adiante, assim que entra no aeroporto? Resposta: nenhuma, muito provavelmente.

    Para Alec Baldwin, após o atentado de 11 de setembro, houve um aumento no comportamento paramilitar de grande parte do negócio das viagens aéreas. “O triste episódio seria usado como desculpa para tornar a experiência de viagens aéreas tão deselegante quanto possível”. Ou seja, o mau atendimento das empresas, somado ao stress das revistas aeroportuárias, completariam o quadro de insatisfação.

    A reação do ator, descontada sua conhecida irritabilidade, certamente será subscrita por quantos hoje frequentam aeroportos, no Brasil e no mundo. Todos os dias criam-se novos procedimentos para tornar as viagens mais burocráticas e irritantes. Nos EUA, sem dúvida, o ato de voar se transformou numa operação militar. Todo o passageiro, por princípio, é um terrorista em potencial. A sala de triagem de passageiros mais parece a entrada de uma penitenciária. Nem idade ou estado físico são atenuantes para a arrogância e prepotência da segurança aeroportuária.

    Nem parece que o negócio aéreo passa por uma crise sem precedentes. A própria American Airlines, pivô do entrevero com Alec Baldwin, pediu concordata há duas semanas. A IATA (Associação Internacional do Transporte Aéreo) prevê um 2012 terrível. Perda global de R$ 14,9 bilhões no ano e queda no lucro de 27% para o mercado. Europa e América Latina teriam as maiores perdas. Enquanto aumenta a demanda de passageiros, as empresas encolhem ou fazem fusões ou compartilhamentos. Esta semana a americana Delta Airlines anunciou a aquisição de US$ 100 milhões em ações da brasileira Gol. Os empregados da Iberia anunciaram uma greve geral a partir do dia 18, até o dia 30. Ou seja, querem instalar o caos nos feriados de Natal.

    A IATA, que reúne as 200 principais empresas de transporte aéreo do mundo, alerta para a regulamentação cada vez mais rigorosa na área de segurança, o que levará a indústria despender cerca de US$ 7,4 bilhões por ano para implentá-la. "Nós gastamos muito dinheiro fazendo checagem de pessoas, que na verdade não necessitam disso", disse Tony Tyler, diretor geral da IATA, ao jornal The Guardian.

    "Nós precisamos encontrar um caminho melhor para fazer isso. Além do custo, nós estamos colocando nossos clientes em situações de desconforto, imensamente complicadas e, no mais das vezes, desnecessárias. E os aeroportos estão quebrando a cabeça para encontrar espaço e capacidade para conduzir isso", acrescentou. A Europa já estuda a triagem pelo perfil do passageiro. Aqueles de baixo risco, passariam direto. Os de médio risco, uma revista normal. E os de alto risco enfrentariam, então, revistas como hoje são feitas a todos os passageiros.

    Mas por que o avião ainda continua sendo um sonho de consumo? Usa-se o avião por ser mais rápido. No caso do Brasil, por falta de alternativa. Nos países europeus ou da América do Norte, as viagens de ônibus ou de trem são bem mais agradáveis. Ninguém incomoda ou estressa o passageiro. Como registrou o ator, parece que após o 11 de setembro o avião se tornou a bomba ambulante a ameaçar o poderio da América, a todo o momento. E quem paga o pato são os passageiros.

    As revistas são cada vez mais truculentas e invasivas. Esqueça o problema de objetivos metálicos ou pontiagudos. Na revista, agora não é admitido qualquer objeto nos bolsos, sequer um pedaço de papel. Não satisfeitos com o scanner de bagagens e um pórtico detector de metais, os EUA aderiram aos chamados scanner corporais, que expõem a intimidade dos passageiros. A Justiça questionou como são usadas essas imagens, até porque empregados foram flagrados utilizando imagens de uma mulher, captadas no aparelho, para fazer brincadeiras. Na Europa, a União Europeia proibiu o uso de scanner corporais pelas discussões sobre invasão de privacidade e ameaças de câncer. Eles pretendem usar outras tecnologias, com base no perfil do viajante.

    Mas, como todo o passageiro, por princípio, é suspeito, quem reclamar é imediatamente afastado e certamente não embarcará. O ator comparou funcionários e comissários a professores de ginástica dos anos 50, que andavam com apito na mão, enquadrando todo mundo.

    Com a proximidade do fim do ano e, principalmente numa época em que muitos brasileiros estão com viagens programadas para o exterior ou até mesmo frequentando aeroportos no Brasil, pela primeira vez, é bom ficar atento. Fazer uma triagem rigorosa na bagagem de mão, para evitar o dissabor de ficar negociando com os atendentes para liberar objetos proibidos e causando mais tumulto nas revistas. Ou não embarcar.

    Não fosse pela alternativa de um transporte praticamente insubstituível no mundo moderno, o conselho, em época de férias, seria: “fuja do aeroporto”. E não adianta a alternativa sugerida por Alec Baldwin. “É triste, eu acho, que você deva voar para o exterior hoje, a fim de trazer de volta o que foi jogado ao mar pelas transportadoras americanas em termos de senso comum, estilo e serviço”. Doce ilusão. Em qualquer lugar do mundo, o ato de voar, acalentado por tantas gerações como um sonho, está se transformando, aos poucos, num grande pesadelo.

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