Pochmann diz que regressão do RS ao capitalismo agrário explica a catástrofe no Sul
A partir dos anos 1990, o estado passou por uma onda neoliberal que resultou em desindustrialização e desestruturação econômica e social, aponta o presidente do IBGE
247 - O Rio Grande do Sul, estado que enfrenta a maior enchente de sua história, com mais de 140 mortos, foi objeto de análise crítica por parte do presidente do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Marcio Pochmann, em postagem feita no X, antigo Twitter. Pochmann atribui a catástrofe a uma regressão do estado ao capitalismo agrário.
"O que acontece com RS?", questiona Pochmann, apontando para uma mudança de paradigma que se desenrolou ao longo do tempo. O estado, que já foi uma referência das experiências progressistas, especialmente durante os governos liderados por Júlio de Castilhos, parece ter perdido sua identidade ao se afastar dos ideais que o impulsionaram rumo à modernidade.
Pochmann traça um panorama histórico, destacando o papel fundamental da Revolução de 1930, liderada por Getúlio Vargas, que permitiu ao país avançar para uma sociedade urbano-industrial. No entanto, o presidente do IBGE ressalta que, apesar desse avanço, o estado não implementou as reformas necessárias para consolidar esse processo, como as reformas agrária, tributária e social.
A partir dos anos 1990, o Rio Grande do Sul se viu submetido a uma onda neoliberal que resultou em desindustrialização e desestruturação econômica e social. Pochmann aponta que a falta de um plano estratégico para reorganizar a economia e a sociedade do estado deixou-o vulnerável a crises como a atual enchente, que afeta milhares de pessoas e deixa um rastro de destruição.
Diante desse cenário, o IBGE está se preparando, segundo o presidente do instituto, para oferecer suporte técnico ao governo do estado e às cidades afetadas, buscando contribuir para um enfrentamento mais eficaz da tragédia. Pochmann destaca a importância de uma nova abordagem diante dos desafios impostos pelo clima, destacando a necessidade de adaptação ao que ele chama de "novo regime climático", denominado Antropoceno.
Leia a postagem de Pochmann: "O que acontece com RS?
Outrora referência das experiências dos governos progressistas iniciados originalmente por Júlio de Castilhos (1860-1903), considerado o patriarca do Rio Grande do Sul, o estado do Rio Grande do Sul não parece ser mais o mesmo.
De importante inclinação positivista, o Estado nacional moderno, constituído a partir dos anos de 1930 e de forte inspiração gaúcha, permitiu ao país rumar para a moderna sociedade urbano-industrial. Ficou para trás, assim, a longevo e primitivo agrarismo.
Para isso, a Revolução de 1930 liderada por Getúlio Vargas (1882-1954) garantiu até a década de 1980, o inédita desempenho econômico e social. Mas diante do conservadorismo renitente, o projeto do Clube 3 de outubro de 1932, conforme indicou Oswaldo Aranha (1894-1960), terminou ocorrendo sem as reformas clássicas do capitalismo (agrária, tributária e social).
Desde os anos de 1990, não obstante a resistência dos governos populares que puseram em marcha e referência internacional as experiências do Fórum Social Mundial e Orçamento Participativo, o estado gaúcho submete-se à avalanche neoliberal.
A desindustrialização esvaziou o dinamismo, composto por crescente multidão de sobrantes e sem destino, dependentes da gestão de emergências. A falta de um plano estruturador, que reorganize a sua economia e sociedade em novas bases, o seu próprio futuro superior pode ficar mais distante.
O IBGE prepara e deve oferecer ao governo do estado e das cidades interessadas, um conjunto de possibilidades cooperativas que permita contribuir tecnicamente para melhor enfrentamento da tragédia gaúcha. Ensaia, assim, nova abordagem diante da aceleração do ingresso ao novo regime climático denominado por Antropoceno".
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