Presidente da Fiemg diz que BNDES é essencial para indústria e deve ser ampliado
Em entrevista à TV 247, Flávio Roscoe falou também sobre a retomada do crescimento industrial e os desafios da formação de mão de obra qualificada
247 - O presidente da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg), Flávio Roscoe, concedeu entrevista ao programa Desenvolvendo o Brasil, da TV 247, no qual avaliou o cenário econômico do país e atuação da indústria, que acumula crescimento de 3% nos oito primeiros meses do ano. Ele ressaltou a importância do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para a construção de uma política industrial robusta no Brasil. Segundo ele, o BNDES é "um banco extraordinário", que tem dado uma "grande contribuição ao Brasil" e vem desempenhando papel essencial em um cenário de altas taxas de juros.
"A indústria, ela compete com outros players do mundo. Investimento em indústria é investimento imobilizado. É investimento de longo prazo. As taxas de retorno são de longo prazo. Então, quando você tem uma taxa de juros estruturalmente mais alta, que é o caso do Brasil, você está reduzindo estruturalmente a competitividade da indústria brasileira. E você precisa de alguns mecanismos que reduzam esse impacto. E aí essa missão do BNDES, de reduzir o gap entre os nossos concorrentes no mundo, que tem uma taxa de juros muito mais baixa, com a taxa de juros efetiva brasileira. Como a taxa de juros efetiva brasileira é uma política de macroeconomia, ela afeta a economia como um todo, você pode ter mecanismos, através de um banco público, que é o caso do BNDES, de subsídio, para uma taxa mais baixa de investimentos de longo prazo, que vão ter impactos anti-inflacionários na economia", afirmou. Roscoe ainda destacou que o BNDES deve intensificar sua atuação no apoio ao setor industrial para que o Brasil possa alcançar um crescimento econômico mais robusto e sustentável.
O presidente da FIEMG também argumentou que, apesar de um eventual aumento de demanda no curto prazo poder causar impactos inflacionários, os investimentos no setor produtivo, a longo prazo, ampliam a oferta de bens e serviços, o que contribui para a redução da inflação. "Quando você olha no médio e longo prazo, o efeito é exatamente o inverso, porque você amplia a oferta para o conjunto da economia", acrescentou.
Sustentabilidade
Flávio Roscoe destacou os principais ativos da indústria de Minas Gerais relacionados à sustentabilidade e à baixa pegada de carbono. Ele ressaltou que 99% da matriz elétrica do estado é limpa, com uma forte participação da energia solar e hidrelétrica. Minas Gerais também se destaca como um dos maiores produtores de cana-de-açúcar, o que contribui para a geração de etanol e energia a partir de biomassa. Além disso, o estado possui um grande maciço florestal de áreas replantadas, o que permite a produção de carvão vegetal com pegada de carbono negativa, diferentemente da produção tradicional que utiliza carvão mineral. Esse fator gera um diferencial competitivo para a exportação de produtos mineiros com baixo impacto ambiental.
Roscoe também mencionou as iniciativas da FIEMG para mapear a pegada de carbono dos diversos setores industriais de Minas Gerais, com o objetivo de comparar com os padrões globais e transformar a sustentabilidade em um ativo econômico. Ele apontou que a indústria mineira já está em uma posição superior à média mundial em termos de emissões, devido à sua matriz energética limpa. Para o futuro, a FIEMG defende o banimento das termoelétricas de combustíveis fósseis até 2035, uma ação que poderia posicionar o Brasil como referência mundial em sustentabilidade energética.
Desafios para formação de mão de obra
O presidente da Fiemg também falou sobre os desafios enfrentados pelo setor industrial para atrair e formar mão de obra qualificada. Segundo Roscoe, esse é um dos principais obstáculos para o crescimento produtivo no Brasil. Roscoe ressaltou a baixa atratividade da indústria entre os jovens, que muitas vezes desconhecem a evolução tecnológica do setor. "A indústria de hoje está conectada com o digital, com robótica e automação, mas não é percebida dessa forma", disse. Ele mencionou a importância de mudar essa percepção cultural e demonstrar que, além de boas remunerações, a indústria oferece oportunidades de carreira atraentes, principalmente em áreas técnicas.
Outro desafio destacado é a necessidade de adequar os valores da indústria aos interesses da nova geração, que busca mais flexibilidade no trabalho e coloca outras prioridades à frente do salário. "Temos que adaptar o ambiente industrial e os benefícios oferecidos para atrair esse público jovem", apontou Roscoe, observando que setores como o de recursos humanos precisam inovar nas estratégias de recrutamento e retenção de talentos. Além disso, Roscoe abordou o impacto dos programas sociais, como o Bolsa Família, no mercado de trabalho formal. Ele sugeriu que as políticas sociais poderiam ser ajustadas para não desestimular a busca por empregos formais. "Muitos evitam o emprego formal por medo de perder o benefício e não conseguir retomá-lo caso sejam demitidos", explicou. Para Roscoe, mudanças nessa legislação poderiam ampliar a oferta de mão de obra disponível, ajudando a reduzir a alta rotatividade e os impactos negativos na produtividade.
Assista à entrevista na íntegra:
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