Programa Mover retoma "o fio da história" do Brasil, diz Mercadante
"As indústrias automotivas estão investindo em inovação, pesquisa, estão trazendo engenharia para o Brasil, e é disso que precisamos", diz o presidente do BNDES
247 - Em evento nesta terça-feira (26), no Palácio do Planalto, em que o presidente Lula (PT) assinou uma portaria com regras para que montadoras de veículos possam se habilitar ao programa automotivo Mover, que pretende distribuir 19,3 bilhões de reais em créditos tributários até 2028 ao setor, o presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Aloizio Mercadante, afirmou que o Brasil está retomando o "fio da história". "A primeira grande ousadia para este país ter uma indústria automotiva e uma indústria foi o Getúlio. E ele cria ali a siderurgia, a Vale, a mineração, a indústria química pesada, a fábrica nacional de motores, de vagões… E deixa ainda, quando volta em 50 e 54, o BNDES e a Petrobras, que vão ser decisivos para o futuro".
"Mas o grande salto da indústria automotiva foi construído no Plano de Metas de 1956-1961. O BNDES era recém-criado. Celso Furtado, Roberto Campos, Inácio Rangel e a minha querida professora Maria da Conceição Tavares ajudaram a desenhar o Plano de Metas. E o coração do plano de metas era puxar a indústria de transformação, da construção civil pesada. O desenho [de Brasília] é um avião, que era um sonho, que depois vai ser a Embraer, e o coração do plano piloto é uma rodoviária, porque a indústria automotiva era a indústria da indústria, era a que ia puxar o processo de industrialização. Só que naquele momento o Brasil estava enfrentando a concorrência do Plano Marshall, que estava reconstruindo a economia europeia, com subsídios, incentivos - e inclusive nós ajudamos a financiar - e a indústria americana entra na Europa, nós conseguimos atrair os investimentos das empresas europeias e tivemos um salto da indústria automotiva. Esse ciclo vai crescer depois nos anos 70 e depois vai ser retomado com o presidente Lula. Foi um operário de fábrica que colocou a indústria automotiva no centro de uma estratégia de desenvolvimento", lembrou Mercadante.
O programa Mover, que tem sido citado por uma série de montadoras como fator para o anúncio de investimentos que já somam mais de R$ 107 bilhões até 2032, concede créditos financeiros para a empresa do setor automotivo que investir em pesquisa, desenvolvimento e produção tecnológica que contribuam para a descarbonização da frota de carros, ônibus e caminhões. O programa foi criado via Medida Provisória que precisa ser transformada em lei antes de perder a validade. Na semana passada, o governo federal enviou ao Congresso um projeto de lei de criação do programa Mover, "que correrá em paralelo com a MP", afirmou o Ministério do Desenvolvimento em comunicado à imprensa nesta terça-feira.
Para Mercadante, o plano vem em um "grande momento" para a indústria brasileira. "Hoje nós não temos o Plano Marshall, mas leiam o estudo do FMI que mostra que em 2018 foram 200 medidas políticas industriais no mundo. Em 2023, foram 2.500. 72% na China, União Europeia e Estados Unidos. US$ 7 trilhões em subsídios que vão ser investidos na próxima década. É contra isso que estamos procurando renovar nossa indústria e construir novos caminhos, e precisa de uma outra relação Estado-mercado, como nós estamos desenhando aqui. Não há mais caminho para ser anti-Estado, e ninguém está propondo o Estado substituir o mercado. Essa relação criativa é que é nova".
"Com o Mover, vamos discutir a eficiência energética dos automóveis, do tanque à roda, e vamos discutir a descarbonização do poço à roda. Então estamos inovando em um carro híbrido, sustentável, elétrico e resgatando o que é a vocação do Brasil: ano que vem são 50 anos que estamos no etanol, na bioeconomia. E esse é um carro que vai ter muito mais autonomia, o carro híbrido, que vai trazer o etanol, vai ser mais eficiente, especialmente quando a gente olha do tanque à roda. E isso está gerando… As indústrias automotivas estão investindo em inovação, em pesquisa, estão trazendo engenharia para o Brasil, e é isso que nós precisamos para sermos competitivos a largo prazo. É um grande momento", disse o presidente do banco, salientando a construibição do órgão neste processo. "Nós aumentamos em 176% os recursos para exportação em 2023, 132% para inovação, mas ainda é pouco, porque o patamar era muito baixo. O desafio é muito grande. Mas nós já aprovamos R$ 91 bilhões em créditos diretos e indiretos dos R$ 300 bilhões que nós dissemos que iríamos fazer. E nós vamos cumprir. A melhora do ambiente macroeconômico, que o ministro Haddad tem toda a responsabilidade, ajudou muito. A gente avalia em janeiro e fevereiro desse ano, é a melhor consulta no banco dos últimos 10 anos, o maior volume de demanda de crédito, as melhores aprovações dos últimos nove anos e o melhor desembolso dos últimos oito anos. Se em 2023 já foi um salto, de 88% de crescimento de consulta, 32% de aprovação e de 17% de desembolso, 2024 está prometendo muito mais".
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