Como conviver com alguém que tenha Alzheimer
O convívio com quem foi diagnosticado com a doença, que leva à perda gradual da memória, deve ser pautado pelo respeito e por muita paciência
Por Fábio de Oliveira, da Agência Einstein - De uma hora para outra, a memória começa a falhar, principalmente a lembrança dos acontecimentos mais recentes, o que pode comprometer hábitos do dia a dia, como fechar a porta de casa. O comportamento também se altera, com episódios de agitação e agressividade. Esses são alguns dos sintomas do Alzheimer, doença degenerativa que acomete as células cerebrais e as conexões entre elas. No Brasil, estima-se que haja 1,2 milhão de indivíduos com o problema, para o qual ainda não existe uma cura. A doença geralmente aparece depois dos 60 anos. Podem ser um pai, uma mãe, avós, tios, irmãos. Depois do diagnóstico e com o avanço progressivo da enfermidade, que vem acompanhada por confusão mental, depressão e irritabilidade, para os familiares e pessoas próximas surge a delicada questão da convivência com alguém querido que, muitas vezes, deixa de agir de acordo como todos estavam acostumados. Preparamos um guia para ajudar quem começa a lidar com a situação:
- Diagnóstico
“A família sempre pergunta se conta ou não para o paciente que ele tem Alzheimer”, revela o neurologista Rodrigo Rizek Schultz, presidente da Associação Brasileira de Alzheimer. Afinal, é uma notícia que pode deixar a pessoa deprimida. “Deixo a critério deles.” O especialista dá sua opinião, mas faz com que esses parentes ou pessoas próximas reflitam e tomem uma decisão. Em dois ou três anos, o indivíduo, dependendo do estágio do mal, não vai mais poder fazer uma viagem tão desejada ou rever um amigo. “Se o paciente pergunta diretamente, digo sim: que ele tem Alzheimer.” Quando isso não acontece, o médico explica que aquele tipo de esquecimento não é normal, além de enfatizar a necessidade de a pessoa engajar-se no tratamento. Segundo o neurologista, muitos já sabem, já leram a respeito. Outros não questionam, apesar da ciência do fato.
- Negação
Mesmo diante do frequente esquecimento, da perda da noção de quantidade (pega produtos em duplicidade no supermercado), erro em receitas que sabia de cor, os parentes nem sempre aceitam que alguma coisa está errada. “A família às vezes fica na negação por tempo demais. Acha que é algo natural da idade. E não é”, fala Elizabeth Piovezan, diretora presidente da ONG Instituto Alzheimer Brasil. Isso pode atrasar o diagnóstico.
- Paciência
Trata-se de algo fundamental no dia a dia com alguém que tem Alzheimer. “É preciso desenvolvê-la, mesmo a pessoa mais paciente”, diz Shcultz. “No estágio inicial, a pessoa já começa a apresentar um julgamento mais fraco”, conta Elizabeth Piovezan, “O humor fica instável. Uma hora está bem, na outra não.”
- Evite tratamento infantilizado
Um dos conselhos de Elizabeth Piovezan é não falar com o indivíduo como se ele fosse uma criança. Nem zombar das falhas de memória na frente dele – no começo da doença, o paciente ainda tem noção de algumas coisas e pode se sentir incapaz.
- Não grite
Gritar ou brigar com o doente de Alzheimer pode deixá-lo alterado. Se ele acorda às 3h da manhã pedindo para ir para casa, quando já está nela, procure distraí-lo, sugerindo que lhe ajude numa coisa que faz bem. “Quando se desvia para algo positivo, a resposta é melhor”, diz Elizabeth. Em momentos de delírio, no qual a pessoa pode ver um bicho correndo pelo seu corpo, procure acalmá-la, diga que nada vai acontecer e vale até fazer uma massagem, tudo em prol do alento. E sempre converse olhando nos olhos dela. “Ela presta atenção em você.”
- Nada de estímulos em demasia
TV, barulho demais, tudo isso deixa o doente mais agitado e ansioso. “Muito estímulo não é bom devido à dificuldade de concentração”, revela Elizabeth. A higiene muitas vezes é difícil. O banho pode ser dado em horários mais tranquilos, como a manhã. No final do dia, com a casa cheia de pessoas, é mais complicado: a pessoa já está cansada e há excesso de ruído.
- Rotina
Criar uma está entre as recomendações. O indivíduo com Alzheimer fica mais tranquilo, se sente menos ameaçado com algo que é familiar. Os momentos de descanso devem ser curtos para que a noite não seja trocada pelo dia.
- Festas
Não isole o paciente com Alzheimer. Ele pode participar até de uma festa de aniversário, ficando um pouco na comemoração e, depois, em um canto mais calmo. “A pessoa precisa levar uma vida o mais próximo do normal, mas com supervisão”, diz Elizabeth.
- Caminhada
Se ele ainda puder caminhar, vá junto, ajudando-o a atravessar a rua, de braços dados. Ficar em frente à TV o tempo todo também não é uma boa. Se a pessoa ainda consegue fazer algo que lhe dê prazer, deve continuar. “O que se desaprende não se aprende mais”, conta Elizabeth.
- Procure grupos de apoio
Neles dá para saber mais sobre a doença, trocar experiências e aprender estratégias para o dia a dia com quem está enfrentando situação semelhante na família. Além de aliviar o estresse. “Quem não está bem não vai cuidar direito”, diz a presidente do Instituto Alzheimer Brasil.
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