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    Média de idade da mulher entrar na menopausa no Brasil é 48 anos; somente metade delas faz tratamento

    Terapia de reposição hormonal, que é o padrão ouro para lidar com os incômodos dessa fase, é realizada por apenas 22% das mulheres que buscam algum tipo de ajuda

    Empreendedorismo das mulheres (Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil)

    Por Fernanda Bassette, da Agência Einstein - A mulher brasileira entra na menopausa quando tem, em média, 48 anos de idade e o início da transição e a irregularidade menstrual começam aos 46 anos. Além disso, 73,1% delas sentem os sintomas climatérios (entre eles, as ondas de calor) no período entre a pré-menopausa e a menopausa e 78,4% na pós-menopausa. A conclusão é de um amplo estudo brasileiro que traçou o perfil da mulher brasileira na menopausa, publicado na revista científica Climateric.

    O trabalho colaborativo envolveu pesquisadores da Faculdade de Medicina de Jundiaí, Faculdade de Medicina do ABC, Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) e da Universidade de Pavia, na Itália. Ao todo, 1,5 mil mulheres, com idades entre 45 e 65 anos, foram entrevistadas para que os autores pudessem estabelecer o perfil brasileiro da menopausa.

    “Os estudos feitos exclusivamente com a nossa população nos ajudam a saber como são as mulheres brasileiras e como precisamos agir diante das situações clínicas que vão aparecendo. Eles também são essenciais para a criação de estratégias de saúde de enfrentamento dos problemas no climatério. Os sintomas da menopausa afligem mais de 70% das mulheres e podem ser amenizados”, afirmou Rogério Bonassi Machado, um dos autores do estudo, professor da Faculdade de Medicina de Jundiaí e presidente da Sociedade Brasileira do Climatério (Sobrac).

    O ginecologista Sérgio Podgaec, do Hospital Israelita Albert Einstein, diz que os estudos com a população nacional são importantes porque os países têm diferenças culturais e diferenças de clima (alguns locais mais quentes, outros mais frios), e isso pode impactar a forma como as mulheres encaram a menopausa e enfrentam os sintomas, entre eles as ondas de calor. “É muito importante sabermos como a menopausa se apresenta na mulher brasileira. Ainda dentro desse estudo, é interessante poder avaliar diferentes regiões do Brasil, que têm respostas diversas”, disse.

    Segundo Machado, autor do estudo, a alta prevalência de sintomas climatéricos é algo que chamou a atenção nos resultados, já que as ondas de calor (popularmente chamadas de fogachos) foram citadas por 73% das mulheres. Esses sintomas estão ligados à diminuição do estrogênio, o principal hormônio feminino, e normalmente surgem de maneira súbita, especialmente durante a noite, enquanto a mulher está dormindo, provocando um calor intenso na região do tórax e um grande desconforto. O fogacho pode ser tão grande que algumas mulheres relatam sentir o rosto “queimando” e o suor escorrendo.

    “Essa é uma característica interessante da mulher brasileira. Talvez o clima seja a principal explicação para isso, porque o centro termorregulador é sensível às mudanças da temperatura externa. Com a diminuição do estrogênio no hipotálamo, qualquer variação de temperatura ativa o centro termorregulador e o faz querer perder calor. Outro estudo recente mostrou diferenças nos relatos de ondas de calor entre mulheres brasileiras e de países europeus”, recorda Machado.

    Somente a metade faz tratamento

    O estudo apontou também que, apesar de os efeitos indesejados da menopausa afetarem a maioria das mulheres, somente 52% delas fazem algum tipo de tratamento, sendo que as mulheres de classes sociais mais altas foram as que mais procuraram atendimento. Entre as que se tratam, apenas 22% fazem a terapia de reposição hormonal. As demais recorrem a outras opções, como uso de antidepressivos e terapias alternativas, entre elas a prática de ioga e a acupuntura.

    “Vários fatores podem explicar por que as mulheres não buscam tratamento, e a falta de acesso à infraestrutura de saúde é um deles. O Brasil é imenso e três quartos da população não têm acesso à saúde suplementar e acabam tendo dificuldade de acesso à rede pública. Além disso, ainda existe certo preconceito em relação ao tratamento. Muitas mulheres ainda têm receio de fazer a reposição hormonal por medo de câncer de mama e de trombose”, disse o ginecologista do Einstein.

    Outro dado que chama a atenção no estudo é que, além de poucas mulheres fazerem o tratamento, elas abandonam os cuidados em pouco tempo – cerca de oito meses depois. Segundo a pesquisa, os efeitos colaterais foram um dos motivos relatados para a descontinuação. As reações adversas mais comuns são sangramento irregular ou dor nas mamas, que pode acontecer no início da terapia hormonal para as mulheres que têm o útero.

    Na avaliação de Machado, a falta de informação, o medo de desenvolver um câncer de mama e até mesmo a falta de acesso aos medicamentos são os principais fatores que explicam a baixa procura pela reposição hormonal e a interrupção do tratamento. Mas é importante ressaltar que as contraindicações da terapia hormonal existem somente para aquelas que já tiveram câncer de mama previamente.

    “Os resultados mostram que somente metade das mulheres realiza algum tipo de tratamento, e nem todas a terapia hormonal, que seria o tratamento considerado padrão ouro. O que a maioria delas faz? Muitas usam antidepressivos porque eles podem melhorar as ondas de calor. Não na mesma intensidade da terapia hormonal, mas eles costumam apresentar resultados. Mas, quando começam a melhorar os sintomas da onda de calor, muitas mulheres que estão em tratamento hormonal resolvem interrompê-lo porque têm medo de usar a longo prazo”, disse o ginecologista.

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