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Cargill vê plantio de soja mais tardio com seca no país

Um atraso nas chuvas não necessariamente significa uma quebra de safra

Colheita de soja em Ponta Grossa, Paraná (Foto: RODOLFO BUHRER / REUTERS)

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Por Roberto Samora

SÃO PAULO (Reuters) - A Cargill, gigante global do trading e do processamento de produtos agrícolas, avalia que o plantio da safra de soja 2024/25 no Brasil deve ser mais tardio neste ano, como aconteceu em 2023, quando as chuvas chegaram tardiamente para permitir os trabalhos em áreas de Mato Grosso.

Segundo o presidente da unidade brasileira da Cargill, Paulo Sousa, este atraso poderia ser um "gatilho" para sustentar o mercado internacional, considerando as preocupações que a seca traz para o plantio no Brasil, o maior produtor e exportador da oleaginosa.

Mas a expectativa da proximidade de uma colheita recorde nos Estados Unidos, número 2 na produção e exportação de soja, tem limitado quaisquer avanços no mercado de Chicago, acrescentou.

"Estamos com a expectativa de ter um cenário de plantio agora um pouco mais parecido com o do ano passado, ou seja, um pouco mais tardio. As previsões atuais de clima não mostram uma normalização da umidade do solo antes do meio do mês de outubro, o que é tarde para regiões de Mato Grosso e do Paraná", disse Sousa, durante o Agro Summit promovido pelo Bradesco BBI.

Um atraso nas chuvas não necessariamente significa uma quebra de safra, a não ser que elas demorem muito para chegar, como foi o caso na temporada passada, quando o calor intenso também foi um fator negativo.

Sousa disse que, no momento, o mercado está ponderando a "seca recorde" com a grande safra nos Estados Unidos, o que tem feito a bolsa de Chicago cair.

"A surpresa em relação ao tamanho da safra americana grande está pesando mais no mercado do que esta potencial expectativa de atraso de plantio aqui. Pode ser que o mercado reaja a isso? Pode ser, mas vai ter que ser realmente um atraso significativo para trazer um sinal de alta", disse.

Em 2023/24, apesar do "susto" inicial, o Brasil ainda colheu uma grande safra no primeiro semestre do ano, embora abaixo do potencial de bater um novo recorde, lembrou Sousa.

Essa abundante oferta brasileira, que se somou à recuperação da produção na Argentina, além da expectativa de uma safra recorde nos EUA, que começa a ser colhida em breve, tem deixado o mercado nas mãos dos compradores.

"O mundo está entrando em cenário de estoques bem tranquilos, para não dizer pesados. Neste cenário, o pessoal de carnes de frango e suínos está se beneficiando bastante, com a queda de custo", disse o executivo, em referência ao produto que é matéria-prima da ração animal.

DEMANDA DA CHINA FRACA?

"O chinês, que é 70% da demanda global por soja, ele enxerga que tem estoques sobrando na América do Sul, tendência de estoques sobrando nos Estados Unidos, então ele passa a comprar tudo da mão para a boca, não tem necessidade de alongar sua posição comprada", afirmou Sousa.

Essa situação, admitiu ele, traz a impressão de que a demanda chinesa está menor, o que não é bem o caso.

"A demanda chinesa está fraca, está ruim? Não. Ela não está tão pujante como esteve no passado, não estamos vendo crescimento significativo como nos anos anteriores, ela está constante, às vezes um pouco mais baixa. Mas há uma sensação que ela está muito pior porque o ritmo de compra do chinês está muito diferente", explicou o executivo.

Isso torna o "comprador muito cauteloso, muito devagar, sem pressa para assumir posições".

"Nós temos hoje, todos no mercado hoje têm livro aberto para vender soja em dois meses à frente... é um cenário muito da mão para boca, isso deve continuar, não deve alterar", destacou.

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