A ameaça de Trump sobre o Canal de Panamá gera forte reação latino-americana
Países da região rechaçam proposta do presidente eleito dos EUA e reafirmam a soberania de Panamá sobre a via interoceânica
247 - Uma provocação do presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, ao sugerir que os Estados Unidos retomem o controle do Canal de Panamá gerou uma reação imediata em toda a América Latina, informa o El País. A ideia foi inicialmente publicada em suas redes sociais, no sábado que antecedeu as festas de Natal, e rapidamente encontrou oposição do governo panamenho e de outros países da região, que reafirmaram o direito soberano de Panamá sobre a via interoceânica. A proposta de Trump gerou uma onda de solidariedade, com respostas praticamente unânimes de países como México, Chile, Colômbia, Venezuela e Bolívia.
O presidente do Panamá, José Raúl Mulino, foi incisivo em sua resposta. Em um pronunciamento que visa marcar o fim dos 25 anos da entrega do Canal, ele destacou que "cada metro quadrado do Canal de Panamá e suas zonas adjacentes é de Panamá e continuará sendo". Mulino rechaçou as alegações de Trump e enfatizou que as tarifas cobradas no Canal são baseadas em critérios transparentes e ajustados às condições do mercado e necessidades de manutenção da infraestrutura. A reação de Mulino ocorre justamente quando o acordo histórico de 1977, os Tratados Carter-Torrijos, se aproxima do marco de um quarto de século de sua implementação.
A provocação de Trump não ficou restrita a uma postagem isolada. No dia seguinte, durante um evento com 20 mil simpatizantes em Phoenix, Arizona, ele insistiu na necessidade de reverter a gestão do Canal para os Estados Unidos, ou de reduzir as tarifas para os barcos norte-americanos que atravessam o local. Em seu discurso, Trump chegou a ameaçar o presidente panamenho com a ideia de que "essa fraude total contra nosso país será encerrada imediatamente". Mais tarde, em outro post, o presidente eleito usou um tom agressivo e fez uma referência irônica aos "soldados chineses", acusando-os de operarem "ilegalmente" o Canal de Panamá.
O argumento de Trump sobre o Canal de Panamá, que cita o controle da China sobre a infraestrutura, não é respaldado por fatos. A empresa chinesa que gerencia dois portos próximos ao Canal, a CK Hutchinson Holdings, não controla a via interoceânica em si. Além disso, Trump mencionou incorretamente o número de mortos durante a construção do Canal, alegando que 38.000 americanos perderam a vida durante o projeto. Historiadores desmentem essa cifra, com a professora Julie Greene, especialista em história da Universidade de Maryland, afirmando que a verdadeira cifra de mortos durante a construção foi de cerca de 5.800, com a maior parte das vítimas sendo trabalhadores caribenhos e não cidadãos dos Estados Unidos.
A proposta de Trump sobre o Canal de Panamá parece ressoar com a postura expansionista e intervencionista do ex-presidente, algo que é amplamente rejeitado por vários líderes latino-americanos. O presidente colombiano Gustavo Petro, por exemplo, usou suas redes sociais para destacar que "jamais se negociará a dignidade" de um país soberano, e pediu que os EUA compreendam que a prosperidade das Américas depende da autonomia e liberdade dos países latino-americanos.
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