PGR do Peru denuncia Boluarte por assassinatos em protestos
A procuradora Patricia Benavides fez sua denúncia horas depois da prisão de seu principal assessor, Jaime Villanueva
Télam - A presidente do Peru, Dina Boluarte, foi denunciada constitucionalmente nesta segunda-feira (27) pela procuradora-geral, Patricia Benavides, por sua responsabilidade nas mortes de manifestantes durante os protestos antigovernamentais iniciados no final de 2022, e agora cabe a uma comissão do Congresso analisar a apresentação.
A denúncia constitucional perante o parlamento é "pela presumível comissão do crime de homicídio qualificado em prejuízo de Víctor Raúl Santiesteban e outros", disse Benavides em um pronunciamento que compartilhou nas redes sociais.
A procuradora fez sua denúncia horas depois da prisão de seu principal assessor, Jaime Villanueva, por uma investigação que a aponta como líder de uma suposta rede de corrupção que pressionou para destituir operadores de Justiça.
Benavides também denunciou constitucionalmente o chefe do Gabinete de ministros, Alberto Otárola, o ex-titular do Interior Vicente Romero e outros funcionários da administração Boluarte.
"Continuaremos com as investigações a todos os altos funcionários que resultem responsáveis pelas trágicas mortes que ocorreram entre dezembro de 2022 e março deste ano, assim como todos os casos emblemáticos do que se encarrega o Ministério Público, porque é a vocês, peruanos e peruanas, a quem devemos nosso trabalho e não a quem tenta colocar obstáculos para que se conheça a verdade", indicou a procuradora da Nação.
Após a destituição de Pedro Castillo da presidência e a posse em seu lugar de Boluarte, em 7 de dezembro passado, registraram-se protestos e manifestações quase diariamente em várias regiões do Peru, especialmente no sul.
A repressão a esses protestos gerou advertências da OEA e de organizações defensoras dos direitos humanos ao Executivo, incluindo a Anistia Internacional e a Human Rights Watch.
"Não se deve permitir a morte de nenhuma peruana ou peruano, assim como também não o abuso de poder. Não se pode permitir que se tente danificar a imagem de fiscais honestos; o povo se dá conta disso", afirmou ainda Benavides, em alusão ao escândalo que abala o Ministério Público.
A investigação que conduziu à prisão de Villanueva inclui provas de que o assessor de Benavides enviou a um grupo de congressistas a resolução da Procuradoria que arquivava a investigação contra os legisladores denominados "Los Niños", e que levou à inabilitação da procuradora suprema Zoraida Avalos.
Os procuradores supremos exigiram a renúncia de Benavides pelas acusações de liderar uma suposta organização criminosa.
Para Pablo Sánchez e Juan Carlos Villena, as acusações contra a procuradora são "fatos graves", por isso ela deve deixar o cargo para que sua atuação não "afete" as investigações lideradas pela Equipe Fiscal contra a Corrupção do Poder.
"Com o objetivo de informá-la que, diante das notícias do dia de hoje, e o conteúdo da resolução judicial N.° 01 (...), também de hoje, proferida pelo Sétimo Tribunal de Investigação Preparatória Nacional que declarou fundamentada a solicitação da Equipe Fiscal, na denúncia contra o ex-assessor da Procuradoria da Nação, que a envolve na realização de fatos graves submetidos à investigação penal (...), exigimos que renuncie ao cargo de procuradora da Nação, a fim de não afetar a investigação realizada por nossa instituição", escreveram os procuradores supremos, segundo o jornal La República.
De madrugada, os procuradores e a polícia realizaram buscas em várias sedes do Ministério Público e, ao mesmo tempo, prenderam o assessor Villanueva.
Segundo a tese preliminar, Benavides, Villanueva e outros funcionários teriam influenciado de forma ilícita na remoção da Junta Nacional de Justiça, na nomeação do defensor do povo, Josué Gutiérrez, e na inabilitação de Ávalos.
Benavides atribuiu a investigação a quem busca atrapalhar seu trabalho.
"A Procuradoria está realizando investigações de casos de máxima relevância, e aqueles implicados tentarão usar todo o seu poder para obstruir o progresso da justiça. As últimas horas são uma demonstração de quem não deseja ser investigado e tem a capacidade de tomar represálias contra a instituição que represento", afirmou.
Sem relação direta com as acusações contra ela, Boluarte falou hoje em um fórum internacional, onde destacou que, prestes a completar um ano na gestão, não tem “indício nem processos de investigação por questões de corrupção”.
"Continuamos avançando; se há algo a investigar, que se investigue e se faça de forma célere. As investigações confirmarão que o primeiro governo liderado por uma mulher andina em 200 anos de vida republicana agiu, e sempre agirá, com honestidade, transparência e sem corrupção. Temos a consciência limpa e o coração tranquilo", enfatizou, segundo a agência estatal Andina.
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