Sheinbaum herda legado positivo de Lopez Obrador, mas México ainda tem muitos desafios

247 – A posse de Claudia Sheinbaum como primeira presidenta do México marca a continuidade da chamada "Quarta Transformação", o ambicioso projeto político iniciado por Andrés Manuel López Obrador (AMLO). Embora Sheinbaum receba um país com avanços importantes, especialmente na área econômica e de emprego, os desafios que terá de enfrentar em saúde, segurança e educação permanecem significativos. De acordo com um artigo do El País, os números revelam a complexidade do cenário em que Sheinbaum começa seu mandato.

Uma das principais conquistas da gestão de López Obrador foi o aumento do emprego formal. O México atingiu os maiores níveis de ocupação desde 2006, com o salário mínimo quase triplicando, de 2.650 pesos mensais para 7.468. No entanto, a informalidade permanece alta: 55% dos trabalhadores mexicanos ainda não têm acesso a benefícios básicos, como seguro social ou descanso remunerado. "O aumento dos salários foi uma vitória, mas a informalidade precisa ser combatida com urgência", pontuou um analista entrevistado.

Outro desafio crítico é a saúde pública. Entre 2018 e 2022, o número de mexicanos sem acesso a serviços de saúde dobrou, atingindo 50,4 milhões de pessoas, o nível mais alto desde 2007. A filiação a instituições de saúde pública, como o IMSS e o ISSSTE, também caiu de forma acentuada. "Durante o governo Peña Nieto, cerca de 83% da população estava filiada a algum serviço público de saúde. Hoje, esse número caiu para 62%, revelando um sério retrocesso", destaca o relatório.

No campo da educação, o progresso foi tímido nas últimas décadas. O grau médio de escolaridade no México permanece em torno de 10 anos, e apenas um em cada quatro cidadãos conclui o ensino superior. O desempenho dos estudantes em testes internacionais, como o PISA, também tem mostrado resultados desanimadores. "Em 2022, o México teve seu pior desempenho em matemática e ciências desde 2006, colocando o país entre os piores avaliados globalmente", apontam especialistas da área.

O aumento da violência é outro tema sensível. Durante o mandato de López Obrador, vários estados, como Colima e Zacatecas, registraram taxas de homicídio extremamente altas, com Colima passando de 5,1 homicídios por 100 mil habitantes em 2006 para 106,9 em 2023. "A violência é, sem dúvida, o maior desafio de Sheinbaum. Ela precisa abordar essa questão com urgência para estabilizar o país", afirmou um especialista em segurança.

Além disso, o problema dos desaparecimentos continua a assolar o México. O país registra cerca de 100 mil desaparecidos, com 88% dos casos ocorridos após o ano 2000. Apesar do aumento da violência, a percepção de segurança teve uma ligeira melhora no governo AMLO, embora estados como Zacatecas e o Estado do México ainda registrem números alarmantes, onde menos de 10% da população se sente segura.

No campo econômico, embora o México tenha experimentado crescimento contínuo e aumento das exportações, o clima de incerteza econômica persiste. Reformas constitucionais recentes, promovidas por López Obrador, geraram preocupação entre investidores. Segundo uma pesquisa do Banco do México, a confiança no ambiente de negócios caiu, com analistas não prevendo um bom momento para investimentos nos próximos seis meses. "Esse nível de pessimismo não era visto desde 2017, quando Donald Trump assumiu a presidência dos EUA", relatam economistas.

Dessa forma, Sheinbaum assume a presidência com o desafio de manter os avanços de López Obrador, ao mesmo tempo em que enfrenta questões cruciais que podem definir o rumo de sua gestão. Sua capacidade de lidar com esses problemas será determinante para o futuro do México nos próximos anos.