1964, uma página infeliz da nossa história
Mais do que nunca é preciso lembrar esta página infeliz da nossa história e as palavras de ordem que embalam a luta dos familiares das pessoas mortas e desparecidas durante a ditadura militar: Para que não se esqueça, para que nunca mais aconteça
Por Maria do Rosário
Em 1964, o governo de João Goulart enfrentava uma forte crise econômica herdada dos governos anteriores. No dia 13 de março, mais de 150 mil pessoas, no Comício da Central do Brasil, no Rio de Janeiro, foram demonstrar seu apoio ao presidente. Cartazes e faixas exaltavam as propostas econômicas do governo, tais como a modernização do campo com a reforma agrária, a tributação de grandes fortunas, a defesa do petróleo nacional e a reforma urbana. As "Reformas de Base" eram parte de um projeto de modernização do capitalismo visando enfrentar a crise com distribuição de renda.
O projeto popular do governo mexia com privilégios históricos de elites nacionais e internacionais. Esses setores defendiam a austeridade fiscal, cortes sociais e privatizações. Obviamente, a pauta econômica das elites não era atrativa para mobilizar a população contra o governo de Jango. Para tanto, foi inventada uma narrativa cultural para mobilizar a classe média: a “família tradicional brasileira” precisa ser salva da "corrupção" e do “perigo do comunismo”.
No dia 19 de março de 1964, mais de 300 mil pessoas participaram da “Marcha da Família com Deus pela Liberdade”. As faixas e os cartazes carregavam pautas culturais criadas pelos setores conservadores: “O Brasil não vai virar Cuba”, “Governo Corrupto”, “Defesa da Família Brasileira”. Era o sinal verde para, no dia 1 de abril, os militares tomarem o poder com tanques nas ruas e com o apoio da maioria do Congresso Nacional e do STF. Iniciavam-se 21 anos de uma sangrenta ditadura que protegeu os privilégios econômicos das elites e aprofundou a desigualdade social no Brasil.
Em 2015, quando a crise econômica mundial atinge o Brasil, uma onda de manifestações vestidas de verde e amarelo repetiram a estética e o falso discurso cultural da “Marcha da Família com Deus pela Liberdade” do “perigo do comunismo”, da “defesa da família tradicional” e da “corrupção” localizada.
As manifestações foram o sinal verde para, em 2016, a maioria do Congresso Nacional derrubar ilegalmente a presidenta Dilma Rousseff. O grave rompimento na Constituição deixou como legado uma grave ruptura, e era a porta que a direita tradicional abria, para que enfim a extrema direita voltasse ao poder.
Em 2021, com Bolsonaro no Planalto, o Brasil vive uma crise sanitária, econômica e social sem precedentes. O negacionismo do governo em relação à pandemia e à falta de medidas relevantes contra o desemprego causam mortes e fome. Bolsonaro se utiliza da política do caos e do discurso do perigo do comunismo para alimentar sua estratégia de escalada autoritária.
A utilização frequente da Lei de Segurança Nacional com motivação política, a tentativa de instaurar Estado de Sítio, os conflitos com os governadores, as fakenews de ódio, a proposta do PL “antiterrorismo”, a troca no comando das Forças Armadas, os conflitos com o STF, o aparelhamento da Polícia Federal, o apoio às manifestações em defesa do AI-5, manifesto oficial exaltando o Golpe de 1964 já são mais que suficientes indicativos das intenções autoritárias do governo. Aliás, já foi instaurado o próprio autoritarismo em plena luz do dia.
Em meio à ineficácia do governo federal para combater a pandemia e seus impactos, Bolsonaro governa com eficácia e dedicação total ao mercado financeiro especulativo, construindo pautas como a autonomia do Banco Central, os cortes nas políticas sociais e a agenda ultraliberal de privatizações e asfixia das trabalhadoras e trabalhadores. O impeachment de Bolsonaro é o único caminho para vencermos a pandemia, a crise econômica e a escalada autoritária.
Marcada nas palavras do poeta, mais do que nunca é preciso lembrar esta página infeliz da nossa história e as palavras de ordem que embalam a luta dos familiares das pessoas mortas e desparecidas durante a ditadura militar: Para que não se esqueça, para que nunca mais aconteça.
Fora Bolsonaro. Ditadura nunca mais!
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