200 mil mortos de 200 mil famílias e o descaso de quem deveria comandar o país
A inoperância, a omissão que parece planejada, o descaso, o sarcasmo forma uma crosta que impedem que as mortes pelo coronavírus penetrem na consciência do inominável
Outro dia, estava “googando” para saber capacidade atual do local que os cariocas chamam, com muita sabedoria, de “onde era o Maracanã”, pois sabia que o número de mortos pelo coronavírus passava disso. Sim, o estádio hoje comporta 78.838 torcedores e, na época da minha pesquisa, final de julho, já chegávamos ao trágico número de 90 mil. E agora, cinco meses depois já chegamos ao número de 200 mil vítimas fatais, quase três lotações da atual construção, onde existia o estádio histórico. E só uma coisa continua igual: a indiferença do que está na presidência da República.
Outro dia, lembrei de uma palestra que assisti na década de 80, com o diretor de cinema alemão Werner Herzog, no Instituto Goethe, em São Paulo. Sempre simpático à todas as perguntas, Herzog só respondeu com amargura sobre o filme Fitzcarraldo, que ele realizou na selva amazônica, lembrando que três pessoas morreram durante as filmagens. Disse que poderia compartilhar de sua alegria e felicidade por coisas boas, mas com a morte, não. “Estes três mortos, infelizmente, vão estar minha consciência para sempre, e não poderei dividi-los com ninguém”.
Infelizmente, tem gente que não tem consciência. Logo, a inoperância, a omissão que parece planejada, o descaso, o sarcasmo forma uma crosta que impedem que as mortes pelo coronavírus penetrem na consciência do inominável.
São 200 mil mortos de 200 mil famílias com milhares de filhos e filhas, netos e netas, sobrinhos e sobrinhas, parentes que choram suas perdas e não vêem por parte de quem governa este país o mínimo de consideração.
O que ouvem: “Gripezinha”, desdenhando o poder de fatalidade do vírus; “E daí. Sou Messias, mas não faço milagres”, “Não sou coveiro”, quando questionado sobre o número de mortes pela Covid-19; “Histeria”, sobre as notícias de mortes; “Farei um churrasco”, tentando ridicularizar o isolamento social, fundamental para a não propagação da doença.
Portanto, só temos é que chorar os 200 mil mortos em 10 meses de pandemia e lamentar o fato de termos um comandante de Titanic que, ao mesmo tempo, é o iceberg e o rato que pula do convés enquanto o navio afunda.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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