70 anos de barbárie na Terra Santa
Povos de origem judeu e árabe representam parte da população brasileira e, por isso temos autoridade para interceder pela busca da paz
"O terrorismo e a guerra não levam a nenhuma solução" - Papa Francisco
O conflito entre palestinos e israelenses, que se estende por mais de sete décadas, atingiu uma tensão sem precedentes, pois, militantes do Hamas lançaram misseis e invadiram Israel e as forças militares israelenses contra-atacaram e fizeram operações na Faixa de Gaza; há centenas de mortos e milhares de feridos de ambos os lados, civis e militares israelenses são mantidos como reféns pelo Hamas.
A tragédia é transmitida ao vivo pela TV e o “WhatsApp News”, veículo de desinformação mais eficaz do mundo, que é manejado com maestria pelo bolsonarismo, deu início à sanha desinformativa e a semeadura do ódio.
Os elementos sociopolíticos e simbólicos, antigos e novos, torna difícil a compreensão da questão palestina, mas fico constrangido com a pobreza de conhecimento histórico e com a ignorância geopolítica de tanta gente.
A complexidade é tão grande que não há consenso sequer sobre a caracterização do Hamas como um grupo terrorista, contudo, creio ser consensual que o conflito entre Israel e a Palestina deve ser visto com profunda tristeza por todas as pessoas sérias, pois, a barbárie e o mal parecem ter estabilidade na Terra Santa.
Disputas por territórios são comuns ao longo dos séculos e estiveram ou estão presentes em todos os continentes, mas, me parece que nenhuma disputa territorial é tão longeva quanto o conflito Israel-Palestina.
O conflito envolve a repartição dos territórios definidos na partilha da Palestina pela resolução nº 181 da ONU, de 29 de novembro de 1947; resolução que criou um Estado árabe e outro judeu, levando em consideração as populações que ali tinham se estabelecido historicamente.
Um registro necessário: judeus e árabes foram aliados, por um longo período lutavam contra um inimigo comum: o domínio otomano, mas passaram, a partir do século XX, a defender o domínio completo e exclusivo do território da Palestina, baseando-se em narrativas que tentam justificar a barbárie perpetrada por ambos; penso serem irrelevantes os argumentos históricos ou religiosos usados para justificar, de um lado e de outro, o que acontece por lá.
Sentindo-se prejudicada nessa partilha, a Alta Comissão Árabe sai em defesa da população palestina, recorrendo da decisão da ONU e ao não ser atendida passa a atacar os territórios de Israel com um exército que reunia soldados da Transjordânia, Egito, Síria, Líbano e Iraque. Instaurava-se um conflito que se mantém até hoje, envolvendo diferentes interesses geopolíticos.
A barbárie ocorre com apoio do ocidente, que lucra com o conflito. Uma incivilidade.
Na antiguidade, as derrotas infligidas aos judeus por diferentes impérios, foram interpretadas pelos profetas como um castigo pelo desvio de Israel do bom caminho e ruptura definitiva da aliança de Deus com seu povo; a esperança de reconstrução da nação de judeus foi quase liquidada pelos romanos, que patrocinaram a segunda destruição do templo e de Jerusalém, em 70 d.C., dando início a uma enorme diáspora por toda a Europa.
A partir de meados do século XIX, teve início um movimento dos judeus de retorno à Palestina, o qual foi impulsionado pelo antissemitismo presente na Europa, no início do século XX.
Todo esse movimento desembocou na partilha proposta pela resolução nº 181 da ONU.
Elementos importantes: (a) após a desintegração do Império Otomano na Primeira Guerra Mundial, o Reino Unido recebeu um mandato da Liga das Nações para administrar o território da Palestina; (b) antes e durante a guerra, os britânicos fizeram várias promessas aos árabes e judeus que mais tarde não foram cumpridas — porque o Reino Unido já tinha dividido o Médio Oriente com a França, entre outras razões; (c) o não cumprimento dos compromissos ingleses é a origem recente do clima de tensão entre nacionalistas árabes e sionistas que mantém confrontos entre grupos paramilitares judeus e gangues árabes; (d) após a Segunda Guerra Mundial e o Holocausto, a pressão para estabelecer um Estado judeu aumentou. O plano original contemplava a divisão do território controlado pela potência europeia entre judeus e palestinos, mas até agora não ocorreu acertamento quanto as fronteiras.
Esses são os fatos históricos, mas por que o conflito não termina?
Penso que (i) o atraso no estabelecimento de um Estado Palestino independente, (ii) a construção de colônias israelenses na Cisjordânia e (iii) a barreira de segurança em torno desse território, condenada pelo Tribunal Internacional de Justiça de Haia, impedem a paz.
A paz depende, por um lado, de os israelenses apoiarem um Estado soberano para os palestinos que incluísse o Hamas, acabando com o bloqueio em Gaza e as restrições de movimento na Cisjordânia e em Jerusalém Oriental e, por outro, de os grupos palestinos renunciarem à violência e reconhecerem o Estado de Israel.
Além disso, um acordo duradouro precisaria envolver o debate sobre as fronteiras, as colônias israelenses e a volta de refugiados palestinos.
Há ainda outros complicadores graves: (a) Israel não concordar que a paz leve em conta a repartição do território na configuração de 1948 e (b) o simbolismo de Jerusalém, capital de palestinos e israelenses que todos reivindicam a parte como a capital (ocupada por Israel em 1967), ou seja, não é um filme de “mocinhos contra bandidos”, pois há apenas anti-heróis e de ambos os lados.
De que lado devemos ficar?
Lançar bombas contra população civil é um crime contra a humanidade, ambos os lados fazem isso, além disso, os povos de origem judeu e árabe representam parte substancial da população brasileira e convivem em paz no Brasil, por isso nós podemos e temos autoridade para interceder pela busca da paz, que é o único caminho possível para se encontrar as soluções.
E eu fico ao lado das famílias das vítimas dessa estupidez, rezo por elas e por todos que vivem o terror e a angústia; rezo que parem os ataques e as armas, que os líderes compreendam que o terrorismo e a guerra não levam a nenhuma solução, apenas à morte e ao sofrimento de inocentes.
Que o Conselho de Segurança da ONU dê conta de resolver o assunto.
É como penso.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
iBest: 247 é o melhor canal de política do Brasil no voto popular
Assine o 247, apoie por Pix, inscreva-se na TV 247, no canal Cortes 247 e assista: