A Amazônia, o Sínodo e o direito à vida
Para nós, brasileiros, o encontro de Roma tem um significado especial e representa um alerta mundial contra a ganância e o projeto de um governo que nega os direitos mais básicos das pessoas, como o direito à saúde, à educação, ao trabalho, à moradia digna, à vida
Durante todo este mês de outubro, a Igreja Católica volta a sua atenção para Roma, onde bispos de todo o mundo estão reunidos no Sínodo da Amazônia, um grande encontro que se destina a debater e buscar soluções para a região que é um importante santuário ecológico para o nosso planeta. Esse é um tema cada vez mais presente em nossa sociedade, em um debate provocado pelo vertiginoso aumento do desmatamento e das queimadas na Amazônia brasileira, sob o governo Bolsonaro. Por um lado, o mundo cobra uma reação urgente à destruição da área, fundamental para o equilíbrio ambiental no mundo; por outro, o governo alega que o território é brasileiro e só interessa aos brasileiros, enquanto sinaliza que vai liberar o garimpo na área, inclusive para empresas estrangeiras.
Na verdade, a região da Amazônia, que tem 7,8 milhões de km², inclui áreas de nove países – Brasil, sim, mas também Bolívia, Peru, Equador, Colômbia, Venezuela, Guiana, Suriname e Guiana Francesa. A parte brasileira abrange os sete estados da região Norte, mais o Maranhão e o Mato Grosso. O rio Amazonas, que atravessa sete desses países, e suas florestas equatoriais nutrem o solo e regulam os ciclos das chuvas, da energia e do carbono de boa parte da Terra. Em nosso país, por exemplo, o grande volume de vapor de água produzido pela Floresta Amazônica forma as chuvas que irrigam também as regiões Centro-Oeste, Sul e Sudeste; sem essa umidade, o Centro-Sul seria quase um deserto.
Muito apropriadamente, o Papa Francisco trata o Sínodo como uma ampla reflexão sobre os destinos da nossa “casa comum”, como ele se refere ao planeta Terra, a partir de um entendimento apregoado por São Francisco de Assis, padroeiro dos ambientalistas.
"São Francisco era um místico e um peregrino que vivia com simplicidade e em maravilhosa harmonia com Deus, com os outros, com a natureza e consigo mesmo. Nele, se nota até que ponto são inseparáveis a preocupação pela natureza, a justiça para com os pobres, o empenho na sociedade e a paz interior."
O Papa defende o que chama de ecologia integral, um conceito que também abraça as questões referentes ao ser humano, como as econômicas, culturais e até emocionais. Na encíclica Laudato Si' (“louvado sejas”, em italiano), dirigida aos cerca de 1,2 bilhão de fiéis católicos do mundo e que orienta o atual debate, Francisco inclui, neste rol, o respeito às tradições das comunidades indígenas originárias, os impactos emocionais da vida atual e as consequências de modelos econômicos que levam o planeta à degradação social e ambiental.
"É fundamental buscar soluções integrais que considerem as interações dos sistemas naturais entre si e com os sistemas sociais. Não há duas crises separadas: uma ambiental e outra social; mas uma única e complexa crise sócio-ambiental", diz o pontífice.
Nessa ótica, o Sínodo busca respostas mais amplas, a partir de uma agenda construída junto com as populações da região amazônica. Trata desde o desmatamento, o garimpo e a privatização de bens naturais, como a água, até problemas como o narcotráfico, a perseguição a ativistas ambientais, o alcoolismo, a violência contra as mulheres, a exploração sexual, a demarcação dos territórios indígenas e a pobreza.
“É necessário um trabalho que ajude a ver a Amazônia como uma casa de todos, que merece o cuidado de todos. Para a Terra e a humanidade, no seu conjunto, a Amazônia é parte vital dessa nossa ‘casa comum’”, diz o Papa Francisco, que defende que as soluções para a crise planetária exigem combater a pobreza e devolver a dignidade aos excluídos.
Para nós, brasileiros, o encontro de Roma tem um significado especial e representa um alerta mundial contra a ganância e o projeto de um governo que nega os direitos mais básicos das pessoas, como o direito à saúde, à educação, ao trabalho, à moradia digna, à vida.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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