A Ameaça Comunista
"Vivemos uma ilusão e um medo constante de um comunismo que nem existe mais", escreve o cartunista Miguel Paiva
Por Miguel Paiva, para o Jornalistas pela Democracia
O comunismo como era até já acabou e continuamos ameaçados por ele. São tantos anos de ameaça que não entendo como não passou de ameaça para controle efetivo? O grande argumento dos incompetentes que estão no governo e quem ainda os apoia é a ameaça comunista. Não significa nada, mas pega. Será que as criancinhas antes de dormir têm mais medo do comunismo ou da Ministra Damares? Não sei realmente. Mas o mito continua ser estimulado.
Desde criancinha que escuto falar da ameaça comunista e do perigo vermelho. Insuflada pelos ventos vindos do norte, essa ameaça determinou nosso destino por décadas e, parece, continua determinando. As pessoas morrem de medo do comunismo como se agora estivéssemos vivendo um período de excepcional democracia e progresso social no nosso país. Falam da liberdade de ir e vir, mas quem hoje consegue exercer essa liberdade? Qual classe social que hoje pode ir à Disney? Já foi, uma vez e parece que era o tal do“comunismo“ do Lula que imperava no país.
O “comunismo” do Lula fez a pobreza praticamente ser erradicada, os marginalizados chegarem à universidade, as classes trabalhadoras poderem comprar sua tv ou até mesmo seu carro, os bancos continuarem a lucrar e a paz empresarial na relação com os trabalhadores ser bastante viável. Esse é o tal do “comunismo” que tanto assusta os neoliberais de hoje. Mas por que será? Deve ser a tal da redistribuição de renda que tenta fazer justiça diante das discrepâncias do sistema capitalista ou então, o sistema de cotas que também visa corrigir as injustiças que a meritocracia e o racismo estrutural estabelecem na nossa sociedade ou até mesmo o direito de todos à casa, à saúde, à educação e à segurança. Isso assusta quem quer manter as coisas como estão.
Ouvimos todos os dias alertas ao perigo comunista que nos espreita a cada esquina. Seremos comidos pelas hordas famintas, teremos que dividir nossas casas com os mendigos da cracolândia, abriremos mão dos nossos celulares para voltar a falar com o telefone de copinho. Deve ser isso que assusta tanto nossos amigos e vizinhos que preferem fingir que estão bem de vida a se juntar ao próximo e reivindicar uma melhora. Mas melhoras nesse mundo neoliberal significa o quê, exatamente? Trabalhar mais para render mais ao patrão. Ganhar um pouquinho mais para comer carne de segunda às sextas-feiras. Comprar um carro usado para passear no fim de semana, mas voltar à noite pra casa porque a grana não dá pra pernoitar na praia? Enquanto isso os donos do capital têm orgasmos múltiplos ao ouvirem as subidas e descidas da bolsa e do dólar, como se esse aqui fosse um país sério, onde as coisas funcionam, mesmo as coisas do capitalismo. Mas nem isso.
Vivemos uma ilusão e um medo constante de um comunismo que nem existe mais. Eu ainda me sinto meio comunista, pela minha formação e pelo que continuo a ver no mundo. Mas, um comunismo mais humanista, mais moderno, mais comunismo italiano do que soviético, mais socialismo que ditadura do proletariado. Aliás, essa expressão sempre assustou a burguesia no mundo inteiro. Sou pela redistribuição de renda e pelo acesso igualitário às benesses da sociedade. Sou pelo ensino público, pela saúde do SUS e pela moradia facilitada para todos. Se isso é ser comunista continuo sendo.
Nunca imaginei que isso que sinto fosse meter medo em alguém. Quem pode ter medo de uma evolução social desse tipo? Só quem não a quer. Desses eu não sou mais amigo. E se quiserem me mandar para Cuba eu vou na boa. Depois que puder sair do país e se me pagarem a passagem porque esse neoliberalismo anticomunista daqui não está sobrando dinheiro para poder viajar.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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