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    Moisés Mendes

    Moisés Mendes é jornalista, autor de “Todos querem ser Mujica” (Editora Diadorim). Foi editor especial e colunista de Zero hora, de Porto Alegre.

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    A cadeia é o lugar dos golpistas na Bolívia

    O colunista Moisés Mendes afirma que o ex-comandante da Força Aérea boliviana Jorge Gonzalo Terceros "agia sob as ordens do líder da extrema direita, Luis Fernando Macho Camacho, o Bolsonaro deles". O jornalista diz que, apesar da vitória da esquerda com Luis Arce, "a Bolívia está sob a ameaça permanente de golpe"

    A cúpula militar que pediu a renúncia de Evo Morales no dia 10 de novembro de 2019 (Foto: Reprodução | Reuters)

    Por Moisés Mendes, do Jornalistas pela Democracia

    Mais um aviso a quem tem ambições golpistas, em qualquer lugar. Estão na cadeia todos os chefes militares bolivianos das três armas, que ajudaram na execução do golpe contra Evo Morales, em novembro de 2019, sob as ordens da polícia amotinada.

    Estão presos há uma semana, em La Paz, Jorge Gonzalo Terceros Lara, ex-comandante da Força Aérea boliviana, e Palmiro Gonzalo Jarjuri Rada, ex-comandante da Marinha.

    Terceros e Jarjuri se juntam ao outro ex-chefe militar que já estava preso desde março, o ex-comandante do Exército Jorge Mendieta. Faltavam esses dois e o ex-comandante das Forças Armadas William Kaliman, que ninguém sabe onde está.

    A prisão dos militares aconteceu no dia 5 de julho. Dois dias depois, Kaliman saiu de casa e desapareceu. É considerado foragido e está na lista da pela Interpol.

    Também está presa desde março, entre outros civis, a ex-senadora e usurpadora do cargo de presidente, Jeanine Añez, que fingiu governar por um ano e é acusada pelo golpe e por corrupção.

    Terceros foi o militar que recebeu munições da Argentina, como ajuda de Mauricio Macri para o golpe contra Morales. O presidente foi derrubado no dia 10 de novembro.

    O atual governo localizou e remeteu ao Ministério Público uma carta de 13 de novembro em que Terceros agradece as munições ao embaixador da Argentina na Bolívia, Normando Álvarez García.

    No presente de Macri aos golpistas estavam 40 mil cartuchos AT 12/70 e uma quantidade não definida de bombas de gás lacrimogêneo.

    A munição foi usada pela polícia nacional e por militares contra manifestantes que combatiam o golpe, nos massacres de Sacaba, em 15 de novembro de 2019, e de Senkata, em 17 de novembro de 2019. Mais de 30 pessoas foram assassinadas.

    Fica cada mais evidente que, ao contrário do que se pensava, o líder de fato do golpe na área militar não foi Williams Kaliman. Quem se submeteu ao comando da polícia nacional amotinada foi Terceros, que também é general.

    Kaliman, segundo os bolivianos, era covarde demais para assumir o comando do golpe. Morales acusa Terceros de tentar matá-lo, no dia 4 de novembro, quando o helicóptero em que viajava teve uma pane que teria sido provocada por gente a mando de Terceros.

    Terceros agia sob as ordens do líder da extrema direita, Luis Fernando Macho Camacho, o Bolsonaro deles. O militar foi preso na cidade de Santa Cruz de la Sierra, onde tinha a proteção de Camacho, eleito presidente do departamento em maio.

    O almirante Palmiro Gonzalo Jarjuri Rada, ex-comandante da Marinha, também foi detido na mesma cidade, que é o antro da direita boliviana. A juíza Regina Santa Cruz determinou que os dois fiquem em prisão preventiva por pelo menos quatro meses.

    Os militares golpistas são acusados de terrorismo, motim e organização criminosa pelo golpe contra Morales. Foi Tercero quem mobilizou aviões de combate para sobrevoos que espalharam o terror em regiões de maior resistência ao motim.

    Williams Kaliman estava em prisão domiciliar e desapareceu no meio da semana passada, quando a Justiça o procurou em casa e foi informada de que o general havia saído e não voltara.

    O diretor da Interpol na Bolívia, Pablo García, informa que o homem é considerado foragido e está nas listas de procurados em todo o mundo.

    É certo que Kaliman decidiu fugir depois da denúncia de que os militares bolivianos receberam munições enviadas por Macri e ao saber das prisões de Terceros e Jarjuri.

    Em novembro do ano passado, exatamente um ano depois do golpe articulado pela Organização dos Estados Americanos, em conluio com a extrema direita de Camacho, o Movimento ao Socialismo de Morales venceu os golpistas no voto e elegeu presidente o ex-ministro Luis Arce. Mas a Bolívia está sob a ameaça permanente de golpe.

    Os bolivianos enfrentaram a OEA e todos os que se envolveram com as falsas suspeitas em torno da eleição que havia reconduzido Morales ao governo um mês antes do golpe. Enfrentaram Trump e a vizinhança hostil.

    Reagiram com a democracia e devolveram o poder à esquerda. E, o que talvez seja mais surpreendente, o Ministério Público e a Justiça conseguiram encarcerar preventivamente os chefes do golpe. Quando o Brasil estará preparado para viver algo parecido?

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    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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