A criminalização do aborto
Essa questão não é religiosa, não é política ou meramente biológica, ela é de gênero ou de saúde pública
O Brasil parece o país dos retrocessos. Uma questão tão séria como o direito das mulheres decidirem sobre a geração de seus filhos, sob quaisquer circunstâncias, está sendo objeto de fé política de certos grupos evangélicos tendo em vista as eleições de outubro. Com a crescente visibilidade e tamanho que esses religiosos obtiveram na mídia e nas redes sociais tornou-se estratégico fazer campanha contra o aborto, inclusive o aborto legal, já pacificado pelas cortes judiciais, como no caso de estupro e de fetos anacefálicos.
Em vez de se avançar para a plena soberania da vontade de gênero na decisão de se ter ou não um filho, retrocedemos à criminalização desse direito. O que é pior: os homens é quem decidem o que as mulheres devem fazer. Essa questão não é religiosa, não é política ou meramente biológica, ela é de gênero ou de saúde pública, devido aos riscos que ela envolve para quem aborta.
A perspectiva religiosa ou metafísica do criacionismo defendida pelos religiosos se choca com a doutrina moderna dos direitos civis, reprodutivos e sobre o corpo da mulher, conquistas sociais importantes que não podem ser mercadejadas por votos ou cargos. A doutrina criacionista é artigo de fé, mas não pode ter poder vinculatório, ao contrário da liberdade de escolha da mulher que é uma questão de direito civil e de gênero, de direito reprodutivo ou sobre seu corpo.
Enquanto o aborto for discutido por homens, ele corre o risco de ser criminalizado. Só as principais interessadas têm o direito de decidir essa importante questão.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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