A cruzada do desmonte nos EUA: quem tem medo da educação?
Não permitir que essa luz se apague é essencial para garantir que a democracia e os direitos humanos continuem avançando", diz Sara York
O desmonte da educação nos Estados Unidos
A democracia nos Estados Unidos evoluiu significativamente desde sua fundação, atravessando momentos históricos cruciais e ampliando seus princípios para incluir mais vozes e direitos ao longo do tempo. No entanto, nos últimos anos, observa-se um movimento de desmonte da educação que compromete esses avanços democráticos.
Na tradição oral dos povos de Kemet, as criptografias narram a chama como símbolo da continuidade da vida e do conhecimento. No Brasil, essa ideia é frequentemente associada a Exu, o orixá da comunicação e dos caminhos. A metáfora da vela acesa é poderosa pois assim como uma chama precisa ser mantida acesa para continuar iluminando, o conhecimento crítico e a liberdade de pensamento devem ser preservados.
Extinguir a chama do intelecto e da liberdade é apagar o poder da verdade e da justiça social. Por isso, mesmo em tempos de retrocesso, aqueles que mantêm essa chama acesa — da educação, da resistência e da igualdade — são os verdadeiros guardiões do futuro. Não permitir que essa luz se apague é essencial para garantir que a democracia e os direitos humanos continuem avançando, apesar das forças que buscam revertê-los.
O caso húngaro, sob o governo de Viktor Orbán, oferece um paralelo preocupante. Assim como na Hungria, onde a educação superior foi atacada sob pretextos nacionalistas e ideológicos, os Estados Unidos têm testemunhado esforços sistemáticos para enfraquecer suas instituições acadêmicas. A liberdade acadêmica, a diversidade de pensamento e o acesso à educação têm sido alvo de políticas que buscam restringir conteúdos, censurar debates e minar o financiamento de instituições que promovem uma visão crítica da sociedade.
Os ataques à educação nos Estados Unidos incluem a proibição de certos livros nas escolas, a revisão de currículos para exclusão sobre racismo sistêmico e diversidade, e o enfraquecimento de universidades através de cortes de financiamento e interferências políticas. Além disso, figuras conservadoras como Scott Yenor têm defendido abertamente a redução das oportunidades educacionais para mulheres, argumentando que elas deveriam se dedicar exclusivamente à maternidade e ao lar. Essa retórica reflete um movimento mais amplo que busca reverter avanços sociais e limita o papel da educação na formação de cidadãos críticos.
O desmonte da educação nos Estados Unidos não é um fenômeno isolado, mas faz parte de um movimento global que visa desacreditar o pensamento crítico e consolidar visões políticas autoritárias. Esse ataque ao intelecto ameaça não apenas a qualidade do ensino, mas também os fundamentos da democracia, que dependem de uma sociedade educada e informada. Se essa tendência persistir, os Estados Unidos poderão enfrentar um futuro de crescente polarização, desinformação e declínio intelectual, abrindo espaço para o avanço de políticas extremistas e a degradação dos direitos civis.
Marcos da evolução democrática e seus desafios
A fundação da República em 1787 distribuiu um sistema representativo, mas restringiu o acesso ao poder a homens brancos proprietários de terras. A abolição da escravidão e a Reconstrução (1865–1877) ampliaram os direitos de cidadania dos homens afro-americanos, embora leis segregacionistas como as de Jim Crow tenham impedido avanços reais por décadas.
No século XX, a luta pela igualdade de gênero garantiu o direito ao voto às mulheres em 1920, enquanto o movimento dos direitos civis (1950–1960) culminou na aprovação da Lei dos Direitos Civis de 1964 e da Lei dos Direitos de Voto de 1965, avançando na inclusão política de minorias. Com a 26ª Emenda, em 1971, a idade para votar foi reduzida para 18 anos, refletindo uma crescente mobilização da juventude.
Entretanto, esse histórico de expansão democrática vem sendo ameaçado por políticas que fragilizam a educação, um pilar fundamental para a formação cidadã.
A fundação da República em 1787 distribuiu um sistema representativo, mas restringiu o acesso ao poder a homens brancos proprietários de terras. A abolição da escravidão e a Reconstrução (1865–1877) ampliaram os direitos de cidadania dos homens afro-americanos, embora leis segregacionistas como as de Jim Crow tenham impedido avanços reais por décadas.
No século XX, a luta pela igualdade de gênero garantiu o direito ao voto às mulheres em 1920, enquanto o movimento dos direitos civis (1950–1960) culminou na aprovação da Lei dos Direitos Civis de 1964 e da Lei dos Direitos de Voto de 1965, avançando na inclusão política de minorias. Com a 26ª Emenda, em 1971, a idade para votar foi reduzida para 18 anos, refletindo uma crescente mobilização da juventude.
Entretanto, esse histórico de expansão democrática vem sendo ameaçado por políticas que fragilizam a educação, um pilar fundamental para a formação cidadã.
O papel da educação na democracia e o processo de desmonte
A educação sempre desempenhou um papel essencial na consolidação da democracia. Um eleito eleito instruído é capaz de avaliar criticamente informações, participar do debate público e resistir às ameaças autoritárias. Contudo, nos últimos anos, cortes orçamentários, ataques ideológicos e censura de conteúdos acadêmicos ameaçaram a educação pública nos Estados Unidos.
O governo de Donald Trump, por exemplo, introduziu medidas que enfraqueceram as instituições democráticas, incluindo cortes em programas educacionais e o incentivo à desconfiança na ciência. De acordo com a organização CIVICUS Monitor, os EUA chegaram a ser incluídos numa lista de vigilância devido a ataques às liberdades civis e ao espaço democrático. Entre as críticas, estão ordens executivas restritivas, intimidação de opositores e restrição da liberdade de expressão, inclusive em contextos educacionais.
Além disso, a escolha de políticos conservadores para cargas estratégicas na educação tem reforçada uma agenda dedicada à diversidade e ao pensamento crítico. Um dos exemplos mais polêmicos foi a nomeação de Scott Yenor, conhecido por suas declarações misóginas e retrógradas sobre o papel das mulheres na sociedade. Yenor argumentou que as mulheres deveriam se dedicar ao lar e à maternidade, em vez de buscar carreiras, o que representa um retrocesso significativo na luta pela igualdade de gênero.
Cruzadas antigênero e a censura na educação
O movimento antigênero, que busca minar direitos conquistados por mulheres e pessoas LGBTQIA+, também tem impacto direto na educação. O termo “ideologia de gênero” tem sido utilizado para descredibilizar estudos sobre igualdade de gênero e diversidade sexual, resultando em censura de conteúdos acadêmicos e na restrição da liberdade de ensino.
Influenciado por lideranças religiosas e grupos conservadores, o movimento antigênero ganhou espaço nos EUA e em outras partes do mundo. Políticos conservadores têm utilizado essa retórica para mobilizar eleitores, promovendo campanhas contra a educação inclusiva. Joseph Ratzinger, por exemplo, exerceu grande influência na divulgação do conceito de “ideologia de gênero”, reforçando a ideia de que a educação deve seguir valores tradicionais e religiosos, em detrimento da diversidade e do pensamento crítico.
O futuro da educação e da democracia
A investida contra a educação nos Estados Unidos é um sinal de alerta para a saúde da democracia no país. O enfraquecimento do sistema educacional exige a formação de cidadãos críticos e informados, facilitando a ascensão de discursos autoritários e antidemocráticos.
A defesa da educação como um direito fundamental deve ser uma prioridade para aqueles que desejam preservar os princípios democráticos. Políticas públicas voltadas à inclusão, ao acesso igualitário à educação de qualidade e à valorização mundial do pensamento crítico são essenciais para garantir um futuro democrático para os Estados Unidos e para o mundo.
Nada disso ocorre ao acaso. Pelo boato de que as coisas tomam, o objetivo é claro: empurrar as mulheres de volta ao serviço gratuito e não remunerado que sustentou, por séculos, o sucesso de homens poderosos. Enquanto isso, negros são relegados ao trabalho doméstico e pessoas trans são obrigadas a permanecer no armário.
REFERÊNCIAS:
https://sarawagneryork.medium.com/a-guerra-contra-o-intelecto-de-viktor-orb%C3%A1n-da99aa04d58e
https://www.brasil247.com/blog/a-inquietante-interacao-de-conservadores-e-as-criancinhas
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