A destruição da Educação como meta
Em alerta permanente contra um inexistente perigo comunista, que teria o educador Paulo Freire como expoente, o governo Bolsonaro seguiu em sua contenda contra o ensino até o advento das exonerações no Inep
Até o golpe contra Dilma Rousseff o Brasil vinha avançando no campo educacional. A Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio) informava, no início de 2016, que o ingresso no sistema de ensino de crianças de quatro a cinco anos, idade pré-escolar, aumentara de 72,5% em 2005 para 89,1% em 2014, e que o acesso à educação básica subira de 89,5% para 93,6% nos últimos 10 anos. A exemplo do que faz com tudo que apresente alguma face positiva, Bolsonaro destrói a Educação.
Lembremos alguns passos do governo do capitão, que culminam, em novembro de 2021, no pedido de exoneração de 36 servidores técnicos do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais “Anísio Teixeira”), órgão responsável pelo Enem (Exame Nacional do Ensino Médio).
Logo no início de 2019 – ano I da tragédia bolsonarista –, o breve ministro Vélez Rodrigues deixava claro que, para ele, professores são pregadores marxistas e como tal deveriam ser vigiados e delatados. Seu substituto, o inacreditável Abraham Weintraub, fez coro aos que consideram inútil o ensino da sociologia e da filosofia e para quem as universidades federais nada fazem além de promover balbúrdias.
Especialista no setor financeiro, Weintraub aportou no Ministério da Educação anunciando cortes na Universidade de Brasília, na Universidade Federal Fluminense e na Universidade Federal da Bahia.
Ao não inserir o ensino superior público entre suas prioridades na hora de contingenciar recursos, o governo demonstrava desconhecer que das 50 instituições que mais publicam trabalhos científicos no país, 36 são universidades federais e sete são universidades estaduais, conforme levantamento feito por órgãos do próprio governo e consolidado pela pesquisa Percepção Pública da Ciência e Tecnologia no Brasil, a cargo do Centro de Gestão e Estudos Estratégicos e do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações.
A ideia de desmonte do ensino público afeita-se aos princípios neoliberais que emergiram com Ronald Reagan na Presidência dos Estados Unidos, nos anos 80, e ganharam força na figura de Donald Trump. Reagan, Trump e seus seguidores entendem que cobrar menos impostos dos ricos é o que basta para desenvolver um país, nada mais. Porém, nos Estados Unidos as universidades, apesar de não serem públicas, contam com pesados incentivos do Estado.
Mas seriam de fato esquerdistas os professores brasileiros? Certamente, muitos o são, outros tantos não. O tal “marxismo cultural” que predominaria nos meios acadêmicos é ficção. Karl Marx, tanto quanto Hegel, Adorno ou Platão, é referência filosófica para a humanidade. Imaginar que falar de Marx numa sala de aula levará jovens estudantes do Século XXI a empunharem foice e martelo contra o capitalismo e as “famílias” é um atentado ao bom senso. E é, antes de tudo, uma visão ideologizada.
Em alerta permanente contra um inexistente perigo comunista, que teria o educador Paulo Freire, cujo método é estudado em Harvard, como expoente, o governo Bolsonaro seguiu em sua contenda contra o ensino até o advento das exonerações no Inep, passando pela tentativa de emplacar um modelo educacional em que os alunos não precisem ir à escola.
Por 12 anos integrante do Conselho Nacional de Educação, César Callegari diz que será prazeroso reconstruir o país em novas bases no pós-Bolsonaro, período que se vislumbra próximo. Em conversa com a coluna, ele mostrou entusiasmo: “A perspectiva de reconstrução é o que me anima. Quem sabe, conseguimos inaugurar um período de Iluminismo!”.
Secretário nacional de Educação Básica durante a gestão Fernando Haddad no MEC, Callegari afirma que os técnicos demissionários do Inep são profissionais de verdade– ele conhece a maioria.
Para o educador, quando essas pessoas justificam sua demissão por causa de desrespeito a critérios técnicos, no fundo querem dizer que há uma intervenção ideológica da direção da entidade. “Por um lado, censura. Por outro, a tentativa de impor negacionismo, revisionismo histórico e concepções preconceituosas e atrasadas”.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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