A direita da desesperança
Se há esperança pela retomada dos governos progressistas, a direita mantém sua sina de desesperança para todos
Ainda tentamos resolver as animosidades de um ano inteiro em alguns poucos dias, resgatando um inexistente espírito natalino. Nossa natureza egoísta veste a hipocrisia no Natal para desejar paz, saúde, alegria e prosperidade, sabendo que não atuamos para promover tais nobres ações. Desprezamos as poucas inclusões sociais para manter o poder de ser assistencialista quando queremos disso nos gabar. E assim rodamos mais um ano, com desejos de melhora no futuro, mas o quadro atual possui nebulosidades.
Comecemos com o óbvio: Lula continuará sendo alvo da extrema direita. Leio um libelo de articulistas na faixa dos 50-60 anos criticando o presidente Lula, de 79 anos, usando sua saúde como viés de confirmação da tese que ele não deveria concorrer à reeleição, o que é, além de estelionato intelectual, um etarismo perverso, ao rotularem o argumento de “bidenização”. Nenhuma surpresa de um setor da sociedade que não tolera ver o sucesso de um governo apesar das armadilhas dos parlamentares, da permanência do neofascismo e de um “mercado” de um punhado de pessoas que sempre ganham, independente do jogo e das regras.
E, por parte dos jornalões, vários são os exemplos. O Estadão estará envolvido com seu aniversário de 150 anos, fiel ao mercado, aos rentistas e ao neoliberalismo que o sustenta. Deve haver “belas e devidas” homenagens ao sesquicentenário em que poderiam pensar nos leitores missivistas, aqueles que, como eu, contribuem frequentemente com comentários e cartas enviadas ao jornal, ainda que raramente publicados na versão impressa. Nem sempre somos publicados, mas lemos as matérias e notícias com atenção e denodo, sabendo da importante fonte de informação do pensamento da direita, de conhecimento e de opinião, ainda que com viés do mercado e dos que sustentam o veículo. Afinal de contas, o jornal tem e conta uma história. Não podemos ignorá-lo.
A Folha de S. Paulo continua a clamar por sua pluralidade e “isenção”. O plural da Folha é como os linguistas chamam de não redundante, ou seja, se o substantivo concorda com o artigo, deixa de fazê-lo com o verbo e o adjetivo. A mensagem fica subentendida, portanto. Articulistas que fazem parte do conselho do jornal não podem ser criticados em suas opiniões e isso deveria ser deixado claro. A ombudsman continua a usar comentários dos leitores sem dar-lhes o devido crédito de autoria. Alguns assuntos têm comentários publicados escolhidos a dedo e não sabemos qual foi sua amplitude e tendência. Por fim, o jornal possui uma clara linha editorial, mas continua a se dizer isento, um paradoxo existencial inexplicável.
No âmbito local, o prefeito da capital já deu mostras do que fará no ano vindouro. Anunciou o aumento do preço das passagens do transporte público e colocou um preposto para defender o preço dos enterros “de morrer” nos cemitérios com serviços privatizados. Com o perdão do trocadilho, as falácias são de morrer de rir, não fossem trágicas, fazendo com que as famílias arquem com altíssimos custos no momento mais vulnerável que é o da morte. Sei que a administração municipal da capital vai morrer negando que não houve aumento nos valores dos enterros, mas não é o que as reportagens verificam in loco, junto a quem está usando os serviços. Até a morte está com preços pela hora da morte. Se há esperança pela retomada dos governos progressistas, a direita mantém sua sina de desesperança para todos.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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