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    Emerson Barros de Aguiar

    Escritor, bioeticista e professor universitário

    12 artigos

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    A direita sempre aposta na irracionalidade

    A direita herdou do seu pai, Satanás, a arte de roubar, matar e destruir

    Bandeiras dos EUA (Foto: Reuters)

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    O mais próximo de um candidato presidencial de esquerda nos Estados Unidos é Bernie Sanders. No espectro político contemporâneo, quiçá possa ser definido como um "social-democrata progressista", por suas posições em favor do aumento do salário mínimo, da assistência médica universal e da educação superior gratuita em universidades públicas, além de propostas para aumentar os impostos sobre os mais ricos e as grandes corporações, o que o coloca “à esquerda” no contexto eleitoral norte-americano.

    Entre os políticos que chegaram à Casa Branca, no entanto, talvez o mais sensível, em termos humanistas e progressistas, tenha sido o ex-governador e ex-senador pelo estado da Georgia, Jimmy Carter. 

    Carter, apesar de ter enfrentado um cenário muito adverso durante o seu governo, devido à crise energética e à recessão, esforçou-se na economia, tomando medidas corretas, ao tentar reduzir o desemprego com investimentos em infraestrutura, incentivos fiscais para empresas que contratassem mais, programas de qualificação profissional e projetos de energia alternativa.

    Seguiu basicamente a receita do New Deal, com apoio à agricultura e à indústria, investimentos em obras públicas e regulação do mercado financeiro, acrescida de ações para a diminuição da dependência energética em relação ao petróleo. Seu governo priorizou os direitos humanos, tanto dentro quanto fora dos EUA, apoiando políticas de combate à discriminação, nomeando mulheres e afro-americanos para cargos federais e dando continuidade às reformas de direitos civis. Também inovou ao adotar os direitos humanos como diretriz de sua política externa e ao pressionar regimes autoritários.

    Apesar disso, Reagan venceu facilmente dele, ao adotar uma campanha focada numa plataforma econômica de redução do Estado, de desregulamentação da economia, de diminuição de programas sociais e de aumento dos gastos militares para a restauração do "orgulho americano". 

    Em 2000, Al Gore, oriundo de um governo democrata bem avaliado na economia e na pauta da segurança, também perdeu para a demagogia barata de Bush. A campanha de Bush apelou ao patriotismo e ao medo, explorando as emoções dos eleitores e se desviando das realizações concretas das gestões Clinton.

    Diante de gestões democratas bem-sucedidas tanto na economia quanto nas garantias individuais, os eleitores norte-americanos foram levados a escolher candidatos republicanos que prometeram mudanças drásticas com soluções demagógicas, simplistas e não justificadas por uma análise racional e objetiva dos resultados econômicos e sociais.

    Independentemente dos dados objetivos, sem uma opinião pública qualificada, os eleitores sempre preferirão soluções imediatas e populistas, que apelam ao sentimento de segurança, orgulho nacional ou a um desejo de mudança radical, em vez de apreciarem políticas de longo prazo, como as implementadas por Carter, Clinton e propostas por Gore, numa dinâmica que  sugere que o apelo emocional e a capacidade de mobilizar as massas são mais decisivos e persuasivos do que os méritos sociais e econômicos.

    As vitórias de Reagan e de Bush sobre gestões democratas foram muito mais irracionais e injustas do que a de Trump sobre Kamala Harris, que, distanciando-se das pautas progressistas e emulando propostas republicanas na área de segurança, descaracterizou-se tanto que acabou sendo a derrota da candidata meia dúzia pelo candidato número seis.

    A direita herdou do seu pai, Satanás, a arte de roubar, matar e destruir. Bem antes do escândalo da Cambridge Analitics, que desempenhou um papel determinante no sufrágio que elegeu Trump para seu primeiro mandato em 2016, ajudando a sua campanha, ao utilizar informações obtidas de perfis vazados de milhões de usuários do Facebook, o advogado Roy Cohn, o guru de Trump, ensinou-o a nunca admitir nenhuma culpa, a atacar adversários, acusando-os dos seus próprios crimes, a usar tribunais como forma de pressão e a construir uma imagem pública forte, mesmo que inteiramente baseada numa fraude descarada.

    Como a direita nunca decepciona na mentira e no roubo, a sua fórmula será a mesma na próxima eleição presidencial brasileira: domesticismo hipócrita e patriotismo entreguista e vazio em defesa de supostos “valores” conservadores. 

    Combater a demagogia exige um esforço coletivo de conscientização e de educação política em relação à desinformação massiva. Como levar as pessoas a avaliarem criticamente os discursos e políticas propostas? Como destacar a importância de se entender a história e os contextos econômicos para questionar promessas vazias?

    De que maneira o governo Lula pode comunicar de forma clara os resultados reais de suas políticas, baseadas em dados e evidências, e trabalhar em unir e mobilizar a base social? Como dialogar com eleitores desiludidos, apresentando soluções práticas, relevantes e viáveis? 

    De que forma fomentar o empoderamento social e político, incentivando a participação ativa?

    É uma mudança que requer uma transformação no debate público, com ênfase na racionalidade e no engajamento cívico, pois a direita conta sempre com o oposto disso.

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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