A ditadura do dólar
"O dólar é um mecanismo de transmissão da crise econômica que surge no epicentro capitalista para os países dominados"
O dólar tornou-se a moeda internacional ao final da Segunda Guerra Mundial. Mais do que mero símbolo da sua hegemonia, o dólar é uma arma nas mãos da oligarquia financeira norte-americana na medida em que a maioria dos países tem suas reservas monetárias baseadas no dólar, e não em ouro, como é o caso brasileiro, argentino, etc.
O dólar é um mecanismo de transmissão da crise econômica que surge no epicentro capitalista para os países dominados. O capital financeiro não esconde que sabe.
Segundo texto publicado no site do FMI:
“O fortalecimento do dólar americano no ano passado para um máximo de 20 anos teve implicações importantes para a economia mundial. No nosso último relatório sobre o sector externo, analisamos as repercussões da valorização da moeda. Com base em estudos recentes de Maurice Obstfeld e Haonan Zhou, concluímos que as repercussões negativas da valorização do dólar americano recaem de forma desproporcionada sobre as economias de mercado emergentes, em comparação com as economias avançadas mais pequenas.
Nas economias de mercado emergentes, uma apreciação de 10% do dólar americano, associada às forças do mercado financeiro mundial, diminui a produção económica em 1,9% ao fim de um ano, e este arrastamento prolonga-se por dois anos e meio. Em contrapartida, os efeitos negativos nas economias avançadas são consideravelmente menores, atingindo um máximo de 0,6% ao fim de um trimestre e desaparecendo em grande parte ao fim de um ano.
Nas economias de mercado emergentes, os efeitos do dólar forte propagam-se através dos canais comerciais e financeiros. Os seus volumes reais de comércio diminuem de forma mais acentuada, com as importações a caírem duas vezes mais do que as exportações. As economias de mercado emergentes também tendem a sofrer de forma desproporcionada noutros indicadores-chave: deterioração da disponibilidade de crédito, diminuição das entradas de capital, maior rigor da política monetária e maiores quedas do mercado bolsista.”
A partir de janeiro de 2022, o FED, banco central dos EUA, aumentou a taxa de juros de 0,25% para 5,25%. E pelo que indicou o presidente do BIS, a tendência altista dos bancos centrais continuará.
“A nossa investigação mostra que uma apreciação de 10% está associada a um declínio nos saldos das contas correntes globais de 0,4% do PIB mundial ao fim de um ano. A magnitude do declínio é economicamente significativa, uma vez que os saldos globais médios nas últimas duas décadas foram de cerca de 3,5% do PIB mundial, com um desvio padrão de 0,7%.
O declínio dos saldos globais reflete uma contração generalizada do comércio na presença de uma fixação dominante dos preços das moedas, facilitada pelo estreitamento dos saldos comerciais de produtos de base, dada a queda dos preços dos produtos de base que, historicamente, tem acompanhado as apreciações do dólar americano.”
Ou seja, o imperialismo mundial decidiu intensificar e muito o retrocesso econômico mundial que vem sendo sua tônica desde início dos anos 1980. A tendência à desindustrialização, a deterioração dos serviços básicos, o desemprego e a fome aumentarão e muito. E já são mais de 700 milhões no mundo todo, segundo dados oficiais da FAO.
O Brasil viveu inclusive a chamada década perdida devido a manipulação imperialista do dólar. A crise da dívida brasileira e de muitos outros países foi consequência direta do golpe de 1979, realizado por Paul Volcker a frente do FED. O aumento brusco dos juros nos EUA gerou um efeito catastrófico aqui.
A diferença com o momento atual é que o choque dos juros está sendo realizado paulatinamente. Mas diferentemente daquela época também, hoje já não temos mais “gordura para queimar”. A indústria já perdeu para a agricultura exatamente nesse momento a preponderância no PIB brasileiro.
A dependência das commodities ao dólar é direta. O poder de especulação do FED com o que está no bolso brasileiro é enorme. E eles estão numa crise crônica desde 2008.
Fonte: 2023 External Sector Report: External Rebalancing in Turbulent Times (imf.org)
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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