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      Ricardo Nêggo Tom

      Músico, graduando em jornalismo, locutor, roteirista, produtor e apresentador dos programas "Um Tom de resistência", "30 Minutos" e "22 Horas", na TV 247, e colunista do Brasil 247

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      A escola sem partido tem religião e culto evangélico na hora do recreio

      "O Ministério da Educação precisa, não apenas se posicionar, mas impedir a continuidade desse absurdo"

      (Foto: Reuters)

      Quem não se lembra do programa "Escola sem partido" projetado pela extrema-direita para bolsonarizar as escolas através de uma falsa ideia de isenção política e ideológica, limitando os professores a serem meros retransmissores do conservadorismo? Pois bem! Ele agora se converteu, mudou o seu nome de batismo para "Aviva School", mas continua sendo a mesma criatura cujo propósito doutrinário é recrutar crianças e adolescentes para o projeto de poder capitalista e conservador. Só que agora, em nome de Jesus. Ou sempre foi em seu nome?

      O projeto que tem como líder um jovem chamado Lucas Teodoro, que ninguém sabe de onde surgiu, mas que desponta como uma das principais jovens lideranças do segmento evangélico, já está presente em escolas de 18 estados brasileiros, incluindo escolas públicas, o que deveria ser considerado um crime contra a constituição e as leis de educação do país. Onde está o MEC que não se posiciona com relação a essa invasão neopentecostal na educação? Acho que o ministro Camilo Santana nos deve algumas explicações.

      A tradicional hora do recreio nas escolas, ou o intervalo das universidades, estão sendo invadidas por cultos de “avivamento” sob o chamado "apelo" a aceitação de Jesus pelos alunos. Um absurdo sem tamanho, se analisarmos que isso, além de inconstitucional, é uma invasão à liberdade de crença de crianças e adolescentes, e dos seus pais e familiares. Imaginem o constrangimento ao qual é submetido um aluno(a) que se recusa a participar dessa "atividade" e aceitar a Jesus como seu salvador? E se esses alunos pertencerem a outras culturas religiosas?

       

      Certamente, estarão associados ao mal, como é praxe dos fundamentalistas evangélicos fazerem com quem não se alia à sua crença, e poderão desenvolver sérios problemas psicológicos a partir desta arbitrária e esdrúxula classificação. Inclusive, por parte de professores evangélicos, que poderão tratar com distinção tais alunos, num ambiente que deveria ser formação social e não religiosa. Frases como “O espírito santo está dentro das escolas” e “Jesus Salva”, estão tomando conta de instituições de ensino e demonizando a laicidade do estado democrático de direito. E já ouvimos alguém dizer: “Mais Bíblia e menos Constituição”, o que deveria acender um sinal de alerta com relação a implementação de uma teocracia no país.

       

      As escolas não precisam da salvação de Jesus, e o espírito que deve habitar dentro delas é o da educação libertadora, aquela que estimula o desenvolvimento do senso crítico e forma cidadãos capazes de promover mudanças estruturais numa sociedade onde ainda predominam castas políticas, sociais e religiosas.  Escolas e Universidades não precisam de oração, reza, ou algo que o valha. Elas precisam de investimento, boas instalações, bons professores, e de uma melhor administração por parte do MEC, para que invasões de competência e de liberdade individual desta natureza, fossem expressamente proibidas de acontecer, e gerasse imediata punição aos responsáveis pela permissão.

      "Em visita ao Colégio Estadual da Polícia Militar de Goiás, mais de 140 jovens entregaram suas vidas para Jesus", segundo relato do líder do projeto “Aviva School”. E quantos jovens mais ainda serão recrutados para entregarem o país ao domínio do imperialismo evangélico neopentecostal? E quem está patrocinando mais esta ação nefasta de doutrinação religiosa? Eu arriscaria dizer que a isenção tributária para empresas da fé, é uma forma de patrocínio desse movimento. Uma grana que poderia estar sendo investida na educação pública ou em programas de inclusão social, está sendo dada de bandeja para líderes religiosos sem escrúpulos, que agem contra as instituições democráticas e contra o desenvolvimento do país.

      O viralatismo do vernáculo evangélico neopentecostal, onde igrejas e escolas, estão dando lugar às "Churchs" com ambiente refrigerado, camarotes, espaços vips e telões de última geração, e às "Schools" santificadas com cultos de avivamento em sua grade educacional, nos mostra que esse "Jesus" é colonizador, e que o espírito que move o projeto está muito longe de ser santo. Quem vai avivar a nossa sociedade para ela se levantar contra o imperialismo religioso, e impedir que o Brasil se transforme num evangelistão?

      * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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