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    Eduardo Guimarães

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    A esquerda e a maldição de Cassandra

    "E as burradas continuam", escreve Eduardo Guimarães

    Urna eleitoral (Foto: Cristiano Lima)

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    A princesa Cassandra é uma figura da mitologia grega que se tornaria profetisa após aceitar barganha oferecida pelo deus Apolo. Filha dos reis de Troia, foi cortejada pela divindade em uma época em que se acreditava que deuses e homens interagiam.

    Apaixonado pela exuberância plástica da princesa, propôs conceder-lhe o dom que tanto almejava, o de vislumbrar o futuro, mas só se com ele se nupciasse. Cassandra acedeu, mas exigiu que antes das núpcias recebesse o dom, no que foi atendida.

    A princesa, porém, tinha lá seus caprichos. Após ser contemplada com a capacidade de vislumbrar o porvir, negou-se a cumprir o acordado. Eis que a fúria dos deuses -- ou, pelo menos, a daquele deus -- despertou,  e Apolo, colérico, decide não lhe retirar o dom para aperfeiçoar sua vingança. 

    Cassandra, capaz de prever o futuro, passou a ser atormentada por esse dom.  A vingança de Apolo foi condenar a ex-futura esposa a que ninguém acreditasse nas suas profecias, que só ela saberia verdadeiras. 

    Como Cassandras contemporâneas, os esquerdistas víamos uma esquerda que se deliciava com as benesses que o abrandamento do Lulinha Paz e amor de 2002 lhe concedera, mas que se recusava a cumprir a sua parte no acordo. 

    Explico: Lula trouxe para o seu primeiro governo um misto de fórmulas econômicas capitalistas com programas sociais socialistas -- sob inspiração de José Dirceu, diga-se. 

    O tri-presidente reconheceu que para que pudesse oferecer dignidade e distribuição de renda teria que dar algo em troca. Disse isso na Carta Ao Povo Brasileiro, lá na primeira campanha eleitoral à Presidência, que venceu sob esse acordo. 

    Os formadores de opinião e os políticos de esquerda, desfrutando das benesses do poder, entoavam seus discursos, vá lá, revolucionários do alto de seus celulares e roupas caras, muitas vezes de dentro de carrões ou de confortáveis habitações em bairros "nobres". 

    Alguns começaram a  enxergar isso lá em 2013. Eu, por exemplo. Em 2013, enxerguei que aquela história dos vinte centavos ia dar em algo que não cheira bem. Fui radicalmente contra. Diziam que estavam mudando o Brasil.

    E mudaram, como mudaram...

    Lá pelos idos de 7 de setembro de 2021, comecei a ter certeza de que Bolsonaro não largaria o osso e que apelaria para um golpe. Tudo mostrava que haveria uma tentativa sísmica de impedir a alternância no Poder. 

    Comecei a falar disso para alguns pretensos "entendidos" e me apelidaram sabe de quê? De "Cassandra", provavelmente por não fazerem a menor ideia do que estavam me chamando. 

    Como a Cassandra da mitologia grega, pessoas como eu, que tentavam avisar a esquerda de que estava rumando para o precipício, não eram ouvidas.

    Eis que a esquerda começou a fazer o número 2 não nas fraldas geriátricas, mas no meio da praça pública. Fizeram uma manifestação que infernizou São Paulo por meses e que fez a popularidade de Dilma Rousseff, lá em 2013, cair de 65% para 29% em 3 semanas. 

    E as burradas continuam. Acabo de assistir a um correligionário de Guilherme Boulos dando uma entrevista e pregando que a solução para a esquerda é pisar mais fundo nas pautas de esquerda, como aborto, descriminalização das drogas, fim da propriedade privada, tudo rumo a um regime semianárquico. 

    O autor disso é o chileno radicado no Brasil, formado pela fefeleche, Vladimir Safatle. Ele prega mais, prega que o PSOL se afaste do governo Lula e faça a ele "oposição pela esquerda", tudo isso enquanto o Brasil vive ameaças de golpe e de instalação de um novo regime de extrema-direita. 

    E ele foi mais longe: disse que a derrota eleitoral da esquerda nas eleições municipais deste ano garante que Lula não se reelegerá em 2026 e prega como solução tudo aquilo que descrevi acima, ou seja, uma revolução socialista clássica em pleno século 21 em um país em que até os fuzis dos milicos são de extrema-direita. 

    Precisavam ouvir, por exemplo, a análise de Felipe Nunes, diretor do instituto de pesquisas Quaest, em entrevista ao jornal O Globo publicada hoje. 

    A saber: 

    -- O GLOBO -- O presidente ficou ausente da corrida eleitoral assim como vem dizendo que não vai se meter na disputa pela presidência da Câmara. Ele acerta ao adotar essa estratégia? 

    -- FELIPE NUNES -- Lula tentou participar apenas indiretamente da eleição. Ele sabe que a história mostra que eleição municipal não projeta absolutamente nada da presidencial. Nos anos 90 e início dos anos 2000, MDB e PFL foram majoritários em prefeituras e não venciam eleições presidenciais.

    Em dezembro deste ano vamos nos livrar do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, que não poderia ser mais parecido com o avô, que congelou o salário mínimo durante um surto inflacionário em plena ditadura militar. 

    E aí começa o verdadeiro plano para melhorar a performance do Lula junto à opinião pública. 

    Sem a âncora monetária, com investimentos estrangeiros chovendo aqui após o Grau de Investimento que nos concederão as Agências de Classificação de risco, graças à reforma Tributária, graças ao Marco Fiscal, graças a contas públicas bem ajambradas, com emprego com carteira assinada bombando e queda na desigualdade, a economia chegará a 2026 como chegou a 2010. 

    James Carville diria "It's the economy, stupid" (É a economia, estúpido).

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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