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    Ricardo Cappelli

    Ricardo Cappelli é secretário da representação do governo do Maranhão em Brasília e foi presidente da União Nacional dos Estudantes

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    A esquerda morreu?

    "Como ganhar a sociedade para um projeto coletivo contra a barbárie individualista se os progressistas não conseguem sequer marchar unidos pela nação?", escreve o colunista Ricardo Cappelli. "A esquerda morreu?", questiona

    (Foto: Paulo Pinto/AGPT | Isac Nóbrega/PR)

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    Qual a diferença entre esquerda e direita? Tem muita bobagem e contrabando moralista neste debate. Alguns acreditam que ser de esquerda é ser honesto e ser de direita é ser corrupto. Uma estupidez justificável pela contaminação udenista de parte dos progressistas.

    Existem pessoas ilibadas e corruptas dos dois lados do espectro ideológico. O lugar na luta de ideias é marcado por leituras distintas da realidade, não por uma visão maniqueísta e religiosa.

    Nada tem a ver também com bandeiras temáticas ou comportamentais, outro modismo que orienta atualmente um exército de desorientados. 

    Defender o meio ambiente é ser de esquerda? Defender a liberdade sexual e se posicionar contra qualquer forma de preconceito é ser de esquerda? Por esses parâmetros, Joe Biden e a Rede Globo são os novos líderes da esquerda mundial.

    Do ponto de vista conceitual, o crivo entre esquerda e direita deriva do debate econômico. Para os economistas clássicos, o ser humano é um indivíduo com características próprias e imutáveis. Os desequilíbrios são próprios das diferenças que marcam os indivíduos. 

    Para estes economistas, o máximo que pode ser feito é adotar políticas compensatórias para minorar estes “desequilíbrios e desigualdades naturais”. 

    Na outra ponta, os economistas progressistas diziam que tudo que acontece na sociedade é produto do meio. As desigualdades são produzidas pelo homem e podem ser alteradas.

    Para os clássicos, o homem é ele mesmo e suas imperfeições incorrigíveis. Os progressistas acreditavam na “salvação possível” dentro da coletividade. Para uns, a exploração de um indivíduo pelo outro é algo natural, próprio da natureza humana. Para Marx, a exploração é um processo de dominação social que pode e deve ser alterado.  

    A oposição entre indivíduo e coletivo está na raiz do debate ideológico. Para a direita, o indivíduo é o senhor absoluto do destino. O coletivo seria apenas uma tentativa de podar o “sacrossanto livre arbítrio”. Para os progressistas é o coletivo que vai moldar e aprimorar as individualidades. 

    Bolsonaro é um representante legítimo da direita. A suposta negligência com a saúde coletiva é a expressão máxima da visão de que na savana social só os fortes sobreviverão, afinal, todos vão morrer um dia. Cada indivíduo “é livre para se matar ou matar outros”, com vírus ou com armas. Seria tudo próprio da natureza humana.

    É a oposição entre sobrevivência coletiva e selva individual que pode derrotar a extrema-direita. Um embate decisivo que a esquerda brasileira parece ainda não ter compreendido.

    Não há espaço para a sobreposição de projetos partidários na atual quadra histórica. É estarrecedor continuar ouvindo besteiras como a “naturalidade da divisão imposta pela legislação eleitoral” - se o avião explodir, não haverá paraquedas salvador.

    Como ganhar a sociedade para um projeto coletivo contra a barbárie individualista se os progressistas não conseguem sequer marchar unidos pela nação?

    Como derrotar o obscurantismo com projetos partidistas mesquinhos pela glória da derrota? 

    Para reafirmar o individualismo irracional a população já sabe quem escolher. 

    A esquerda morreu?

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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