A extrema direita perfumada e o nascimento prematuro de um candidato

O apoio que a mídia corporativa vem dando ao atual governador de São Paulo revela a exata medida do compromisso da burguesia nacional com a preservação do estado democrático de direito. Nenhum! Lembro aqui que há apenas um ano e cinco meses, o país foi vítima de atos terroristas praticados por bolsonaristas, na tentativa da implantação de um estado autocrático. 

Há um provérbio popular, muito citado pela minha avó paterna, que fez parte da minha formação: "diga-me com quem andas e eu te direi quem tu és". Ou seja, as nossas companhias apontam para o lado em que estamos na história de nosso tempo. É fato que a ideologia de extrema direita sempre norteou aqueles que caminham ao lado dos senhores da comunicação. Estes, os poderosos e a grande mídia, sempre mantiveram uma relação simbiótica, onde um e outro se retroalimentam em proveito mútuo, em detrimento da democracia e dos interesses do país.

Desta vez, o provável candidato da mídia conservadora é justamente aquele que anda de braços dados com um golpista, que cometeu uma infinidade de crimes antes, durante e após seu mandato como presidente. Tarcísio cresceu e ganhou evidência nas hostes políticas de Bolsonaro. 

Em comício recente, na praia de Copacabana, Tarcísio fez questão de jurar fidelidade ao seu “mito”, afirmando: "O Brasil sente saudade de você, presidente. Tenho certeza que em 2026 vamos resgatar nosso país de novo.” Resgatar o que? Os atos antidemocráticos? A disseminação de desinformação na área da saúde? A venda ilegal de joias pertencentes ao Estado? A sanha armamentista que vem roubando tantas vidas? Os acampamentos golpistas na porta dos quartéis? A corrosão do estado democrático? O ataque ao STF e ao TSE? Ou todos os itens acima? Na busca pelo espelhamento com seu “mito”, o filhote de golpista já tem um encorpado currículo de fascismo explícito; bem ao agrado dos mais desvairados. Exemplo disto é o número de civis mortos pela PM paulista, que cresceu 138% só no primeiro trimestre deste ano. 

A resposta do governador aos jornalistas sobre a violência da PM me fez lembrar do chiqueirinho de Bolsonaro: “O pessoal pode ir à ONU, pode ir na Liga da Justiça, no raio que o parta, que eu não tô nem aí". Vale lembrar ainda do susto dos operadores da Bolsa de Valores quando o então comedido, pacifista e equilibrado Tarcísio, extasiado, bateu com toda a truculência por sete vezes o martelo no leilão do Rodoanel Norte.

Ao mesmo tempo faz acenos à extrema-direita rentista, perfumada e entusiasta do estado mínimo, do eixo Rio/São Paulo/ Brasília. Como Paulo Guedes, Tarcísio se empenha nas privatizações, inclusive da Sabesp, a empresa de saneamento básico que dá lucro e é modelo de qualidade em todo o mundo.

No início de seu mandato, Tarcísio recusou os livros didáticos para as escolas públicas de São Paulo. Preferiu os tablets produzidos pela empresa de seu secretário da educação. Como seu “mestre”, o governador paulista promete entregar 100 escolas cívico-militares até 2026.

A pergunta que muitos devem estar se fazendo é: por que o mercado e a mídia corporativa estão lançando prematuramente Tarcísio de Freitas? Por que não o governador tucano, Eduardo Leite? Por conta do sucesso da máquina de mentiras e do discurso de ódio da extrema-direita que tem dado resultados nas eleições. Isso dá a dimensão da artilharia dessa rede bolsonarista, aliada às grandes empresas de comunicação. 

E pensar que até pouco tempo o candidato dos sonhos das Organizações Globo era Sérgio Moro. Na falta do ex-juiz parcial que prendeu Lula sem provas, vão com o nada moderado governador bolsonarista.

Já que abri o texto com um provérbio popular, termino com um versículo bíblico destinado àqueles fiéis, manipulados pelos empresários da fé: “Amados, não creiam em qualquer espírito, mas examinem os espíritos para ver se eles procedem de Deus, porque muitos falsos profetas têm saído pelo mundo.” 1 João 4:1