A geografia anti-democrática

Foi um tapa na cara da democracia Jair Bolsonaro e Valdemar da Costa Neto se reunirem para discutir a anistia aos criminosos golpistas. O câncer da extrema direita se espalha pelas mais estreitas fendas da liberdade concedida e sua metástase será incontrolável, como já vimos e vivenciamos um século atrás. Quando morei na Alemanha, nos anos 1990, não entendia como aquele povo educado, altivo e saudável pôde permitir a ascensão do nazismo. Infelizmente, hoje eu sei.

Mas sigamos no tempo e no espaço. A Geografia é também o estudo do domínio do território. Portanto algo está muito errado quando o deputado federal por São Paulo já vivia e atuava mais nos Estados Unidos do que no Brasil, o vereador carioca é um deputado municipal em Brasília e o governador paulista volta a sua origem e participa de comício golpista no Rio de Janeiro, mal sabendo a diferença entre Carapicuíba e Copacabana ou entre Ipeúna e Ipanema.

Assim, para não perder o tom das preferências, o Estadão faz um editorial dizendo que o comício flopado no Rio de Janeiro foi uma “demonstração de fraqueza” para o ex-presidente em vias de ser condenado. Porém, faltou incluir no texto a presença do governador paulista Tarcísio de Freitas no palanque, subvertendo a geografia e a lógica, ao clamar impunidade a criminosos, quando deveria estar cuidando do combate à criminalidade em seu (nosso) Estado. O xadrez político de 2026 está sendo jogado e não podemos ser tratados como meros peões à mercê de reis e rainhas já caídos que valsam pelo tabuleiro. O primeiro movimento importante começa na semana que vem no STF, sem anistia. Depois, veremos o que restará de políticos comprometidos, ao menos, com a democracia e não coniventes com golpes. Mesmo o jornal limitando comentários à versão online, desta vez, não será difícil escolher.