A importância da direita
"Devemos todos tratar de fazer, com toda a nossa atenção e todas as nossas forças, com que a direita fique como está a minha mão: quieta, parada, imóvel", escreve o colunista Eric Nepomuceno ao fazer um paralelo entre uma inflamação na sua mão direita e a política no Brasil. "Qualquer movimento da direita pode trazer consequências especialmente sérias"
Por Eric Nepomuceno, do Jornalistas pela Democracia
Peço licença para mencionar o que estou vivendo e tentar traçar um paralelo com o que vive o país.
Começo contando que em novembro, e depois de anos, decidi mudar de plano de saúde. Já não tinha mais como a família bancar os 6.136, 52 reais do Saúde Bradesco para que minha mulher, meu filho e eu tivéssemos cobertura hospitalar e de laboratórios.
Feita a comunicação, fui informado que o Saúde Bradesco iria expirar no domingo 17 de janeiro de 2021.
Ainda em dezembro, e depois de uma vasta série de consultas e exames, boa parte realizados em clínicas sem convênio com o Bradesco, ou seja, eu paguei, fui diagnosticado com uma inflamação no nervo ulnar do braço direito, aquele que controla alguns movimentos da mão e dos dedos.
O diagnóstico era assustador: "neuropatia ulnar direita, sinal de fromet positivo e atrofia muscular interóssea. Hipoestesia em antebraço e mão. USG e ENMG sugerindo grave neuropatia compressiva de nervo ulnar direito".
Requeria uma cirurgia de urgência, que foi marcada para o dia 15 de janeiro, ou seja, no prazo de validade do Saúde Bradesco.
Apesar do diagnóstico assustador para um leigo, trata-se de uma operação relativamente simples e rápida: eu entraria no hospital de manhã e seria liberado no fim da tarde.
O pedido foi mandado para o Saúde Bradesco no dia 8 de janeiro. No dia 13, veio um pedido de informações complementares, atendido de imediato. E, no dia 14, o Saúde Bradesco avisou que a análise dessa complementação exigia dez dias úteis. Portanto, fora do prazo de validade.
É apenas um exemplo da calhordice a que estamos submetidos. Em 2020 o Saúde Bradesco recebeu aqui de casa uns 73 mil reais. E quando precisei fazer uma cirurgia cujo custo seria de 10% disso, manobrou para negar.
Vamos lá: na segunda, 25, fui operado sem seguro saúde. Nenhum problema, graças à competência não só do cirurgião amigo mas de sua jovem e gentil equipe.
Agora enfrento duas semanas de restrições severas que me levam a traçar o tal paralelo com esse tempo trágico e tenebroso que este país destroçado vive debaixo de um genocida.
Não posso usar a mão direita para nada. Com isso, a esquerda tem de se dedicar a tarefas que nunca cumpriu. Escovar os dentes, por exemplo, ou pentear os cabelos, abotoar a camisa e escrever esta coluna...
E aí desandei a pensar no panorama político que temos pela frente.
A esquerda terá, com urgência, de se lançar a iniciativas inéditas e um tanto insólitas, para só então tentar abrir diálogo com a direita.
Devemos todos tratar de fazer, com toda a nossa atenção e todas as nossas forças, com que a direita fique como está a minha mão: quieta, parada, imóvel.
Qualquer movimento da direita pode trazer consequências especialmente sérias, além de provocar muita dor.
Foi o que disse meu médico. Acho que serve para o Brasil.
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* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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