A incompetência do Legislativo Federal
É inacreditável que o legislativo defina o que não tem competência técnica para julgar e o que não tem, constitucionalmente, competência para propor
"A câmera dos deputados aprovou no dia 4 de maio de 22 urgência para projeto que proíbe fazer alterações na Bíblia. Agora a proposta pode ser votada em plenário sem passar pelas comissões."
Estamos diante do absurdo: um dos Poderes da República se imiscuindo numa questão eminentemente religiosa e estabelecendo, para uma confissão de fé, um padrão.
Isso fica aquém de qualquer comentário; o Estado é laico, o exercício da religião é absolutamente livre, o trabalho em relação à Bíblia ou qualquer livro religioso tem de ficar sob os eruditos da respectiva fé.
A Bíblia Sagrada é um livro com milênios de existência, escrito em línguas mortas que são alvo de investigação de pesquisa constantes por eruditos, muito bem preparados, para tornar os escritos cada vez mais compreensíveis para a linguagem falada pelo povo, em cada época da história.
A Bíblia foi escrita por gente do povo para o povo, com o objetivo de apresentar o que Deus revelou por meio do seus profetas, em toda a história da revelação judaico-cristã.
Cada segmento que usa a Bíblia tem o seus eruditos, que conversam entre si, e as pesquisas são intensas e constantes. A cada dia novos termos são melhor compreendidos.
As línguas usadas na Bíblia precisam de erudição linguística especializada, e escolas há que têm essa formação de especialistas nas línguas originais.
Acontece em todos os lugares onde a fé judaico-cristã está presente, com as suas várias abordagens e concepções.
Além disso, não cabe ao legislativo de qualquer nação estabelecer parâmetros para qualquer religião, principalmente, para o uso e tratamento dos seus elementos sagrados, como é o caso da Bíblia para os cristãos de modo geral. No meu caso, a Bíblia Protestante.
Nós estamos novamente assistindo o absurdo inaugurado pelo governo vigente que atacou e ataca o Estado laico usando a religião como cabo eleitoral, e usando o Estado para privilegiar uma religião em detrimento de outras, o que é objetivamente contrário à Constituição brasileira.
É inacreditável que a casa das leis, o legislativo, defina o que não tem competência técnica para julgar e o que não tem, constitucionalmente, competência para propor.
Isso fala do emaranhado em que nos metemos; a religião é sempre bem-vinda e deve ser exercida com absoluta liberdade, porém, jamais deverá lançar mão do Estado para seus propósitos específicos, e muito menos ser tutelada pelo Estado de uma forma ou de outra.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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