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      Elisabeth Lopes

      Advogada, especializada em Direito do Trabalho, pedagoga e Doutora em Educação

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      A Luta dos Contrários

      No mesmo domingo do evento pela anistia aos usurpadores da democracia, acontecia a 5ª Caminhada do Silêncio em memória das vidas ceifadas pela Ditadura Militar

      Jair Bolsonaro (Foto: Reprodução)

      No domingo passado a turba bolsonarista voltou a se manifestar na Avenida Paulista, região central da capital paulista. O evento contou com vários representantes da extrema direita fascista.

      Com apoio dos pastores da fé neopentecostal, entre estes, do histérico Malafaia e da adesão de pessoas fanatizadas que vivem num mundo paralelo, Bolsonaro fez seu discurso de sempre. Desta vez, entretanto, ao inovar com frases faladas em inglês caiu em absoluto ridículo. Embora sua fluência também seja escassa em seu próprio idioma, a repercussão do vexame teria sido menor.

      Marcaram presença na manifestação os governadores: Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP), Ronaldo Caiado (União-GO), Romeu Zema (Novo-MG), Ratinho Júnior (PSD-PR), Jorginho Mello (PL-SC), Wilson Lima (União-AM) e Mauro Mendes (União-MT), além de alguns deputados. 

      Entre os sete governadores, há quatro pre candidatos à Presidência da República: Tarcísio de Freitas, Ronaldo Caiado, Romeu Zema e Ratinho Júnior. Todos de olho no espólio que será deixado pelo ex presidente inelegível. 

      No sentido de angariarem a simpatia do público da terra plana, devoto a Bolsonaro, realizaram críticas inadvertidas ao Presidente Lula, ao Ministro Alexandre de Moraes e até mesmo ao Presidente da Câmara dos Deputados Hugo Mota (Republicanos-PB) com o intuito de pressioná-lo a pautar o Projeto de Lei da Anistia. 

      A fala do bolsonarista Tarcísio de Freitas venceu a corrida no ranking das falas mais grotescas. Superou os impropérios expressados costumeiramente pelo ex presidente Bolsonaro. O conteúdo de seu pronunciamento revelou sem sombra de dúvidas sua inclinação fascista. Tarcísio deseja a qualquer preço amealhar votos da parte da população que permanece mergulhada na realidade ilusória do cercado bolsonarista. 

      Ao longo do evento, participantes vestidos de verde e amarelo portaram cartazes com frases “anistia já”, com fotos e menções de menosprezo aos Ministros da Suprema Corte. Entoaram músicas com refrões referentes à golpista Débora, atualmente em prisão domiciliar pelos crimes cometidos na depredação das sedes dos três poderes. Além das vozes em defesa da anistia, os apoiadores carregaram símbolos de outros países, como bandeiras dos Estados Unidos da América, do Estado de Israel, entre outras alegorias de submissão a esses países.

      A idolatria dos bolsonaristas ao atual Presidente norte americano é Kafikiana, apesar de suas medidas insanas e de sua guerra comercial imposta pelos tarifaços ao Brasil e demais países, em sério prejuízo às relações comerciais no mundo. 

      Enquanto os americanos protestavam em massa contra o Governo de Donald Trump no último sábado (05/04/25) em New York, Chicago, Boston, Portland, Idaho, Utah, Oakland, San Diego, San Francisco, franceses em Paris, alemães em Berlim, ingleses em Londres e italianos em Roma repetiam as mesmas indignações e repúdio às medidas de Trump. Todavia, no Brasil, os bolsonaristas em seu falso nacionalismo e patriotismo fictício reverenciavam o líder estrangeiro de face alaranjada.

      Em sentido contrário, no mesmo domingo do sombrio evento bolsonarista, acontecia a 5ª Caminhada do Silêncio, organizada pelo Movimento Vozes do Silêncio, em memória das vidas ceifadas, durante o período da Ditadura Militar. 

      A caminhada também reuniu parentes das vítimas que sucumbem diariamente à tirania insólita das polícias militares nas grandes cidades brasileiras, sobretudo, as oriundas do segmento populacional pobre, preto e periférico. Os caminhantes partiram da antiga sede do Destacamento de Operações de Informações do Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-Codi) na capital paulista e após prosseguiram até o Parque do Ibirapuera, onde situa-se o Monumento em Homenagem aos Mortos e Desaparecidos Políticos.

      Foram dois movimentos, cujas intenções se distanciariam em aspectos morais e éticos. De um lado, as manifestações oportunistas pela anistia com o fim de minimizar a gravidade dos atos cometidos contra a democracia.  De outro lado, a caminhada do silêncio com o lema “Ainda estamos aqui”, traduzida pelo resgate da dignidade humana, da verdade e da justiça pelos torturados, assassinados e desaparecidos durante a Ditadura. Estiveram presentes no evento: Vera Paiva, filha de Rubens Paiva e de Eunice Paiva, ex perseguidos do regime militar, familiares das vítimas e artistas. 

      Nesse movimento de contrários, tresloucados à imagem e semelhança de Trump, que na quarta-feira (09/04/25), de modo inesperado, resolveu reduzir a taxação de tarifas sobre a importação de produtos de outros países, o Bolsonarista Tarcísio de Freitas, simpatizante da política Make America Great Again, referiu a notícia do recuo do tarifaço como uma oportunidade para seu Estado, apesar do aniquilamento da confiança que existia entre os EUA e os demais países nas relações comerciais. Os demais governadores bolsonaristas seguiram a mesma conduta de Tarcísio, embora a flagrante insegurança comercial instalada e os prejuízos causados à economia mundial pelo governo norte americano.

       Nesse circo de horrores, tanto o ex-presidente Bolsonaro, como o governador de São Paulo e demais asseclas da extrema direita bolsonarista não emitiram nenhuma crítica com relação a torpe declaração do Secretário de Defesa estadunidense de que Trump havia retomado seu velho quintal, referindo-se aos países da América Latina.  

      Assim age a turba da extrema direita vira-lata. Vilipendia a democracia, a soberania de seu país, exalta a horda imperialista norte-americana a despeito dos interesses nacionais e do povo que representa.  

      Todavia, essa prática não tem se sustentado com a mesma força de antes, o que é alentador. Expressiva fatia do povo que outrora apoiou todo e qualquer ato bolsonarista, já tem pensado melhor antes de carimbar a sua adesão. Segundo a pesquisa da Genial Quaest, apresentada nesta semana, a maioria dos brasileiros é contra a anistia aos golpistas, adicionada a outra fração que respondeu pela permanência de suas prisões.  

      Embora a súcia bolsonarista do Partido Liberal de Valdemar Costa Neto tenha  intensificado  sua pressão a Hugo Mota, com a alegação de possuir assinaturas suficientes para que o PL da Anistia seja pautado em caráter urgente, não significa que esse projeto vá prosperar, ainda que seja aprovado na câmara de deputados, uma vez que há resistências por parte do Presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), em pautá-lo.   

      Nessa materialidade política, ao mesmo tempo em que presenciamos esses pequenos recuos oportunistas, mormente pela direita liberal, que oscila conforme interesses corporativos e individuais, nos deparamos com outras barbáries. A decisão expedida pelo relator da Comissão de Ética da Câmara recomendando a cassação do mandato do Deputado Glauber Braga (PSol-RJ) constitui mais uma, entre tantas barbáries cometidas pela turba fascista da Câmara Federal.

      Político honesto, que se destaca por sua coragem nos embates políticos e denúncias sobre os esquemas corruptivos produzidos do orçamento secreto, durante a Gestão de Arthur Lira (PP-AL) na presidência da Câmara de Deputados, Glauber foi sumariamente julgado por falta de decoro por ter reagido a provocações reincidentes e ofensivas por um ativista ligado ao Movimento Brasil Livre (MBL).

      Enquanto a recomendação de cassação de Glauber é notoriamente uma decisão política por influência de Arthur Lira, o deputado Chiquinho Brazão, réu pela suspeita de ter ordenado o assassinato da Vereadora Marielle Franco (Psol-RJ), continua como deputado. Outro caso é o do deputado Nikolas Ferreira (PL-MG) que no dia internacional das mulheres, em 2023, vestiu uma peruca loira como alegoria para expressar seu horrendo discurso transfóbico. Brazão e Nikolas já deveriam estar cassados por legítima falta de decoro, entretanto continuam imunes ao julgamento de seus comparsas extremistas.   

      Essa diferença no modo de tratamento e julgamento dos parlamentares demonstra que não há justiça na casa legislativa, há, sim, uma inadmissível farsa motivada pelo peso ideológico e pela vingança dos poderosos da Câmara que tiveram seus crimes desnudados por políticos que honram seu mandato em defesa dos interesses do povo que representa.     

      Nesse malfadado horizonte, quando os brasileiros tentam se refazer dos assaltos que sofrem pela extrema direita e direita fisiologista, em maior número no congresso, novas indignidades surgem. Enquanto esses políticos desqualificados que nada oferecem em favor do povo, que se limitam a mentir, a chantagear, a lacrar nas redes sociais, a envergonhar seus eleitores, a população brasileira permanecerá como vítima de sua má escolha na urna eleitoral.   

      Contudo, entre os piores políticos há a presença dos melhores, a exemplo da deputada Luiza Erundina (PSol-SP), que ao fim da decisão da Comissão de Ética da Câmara nessa semana, nos ofereceu o maior exemplo de honradez, de resistência à hipocrisia vestida de legalidade, pelo crime parlamentar sofrido pelo ilibado deputado Glauber Braga.  

      Disse Erundina em sua sábia existência de 90 anos de idade: “O que está em julgamento aqui, não é um mandato de um deputado, não é o mandato do deputado Glauber, o que está em julgamento aqui é a Democracia”.  

       Pela Democracia: Não à Anistia! Ditadura Nunca Mais! Glauber Fica!

      * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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