A opereta dos horrores
Boa parte da população desconhece as atribuições dos diversos cargos dos poderes legislativo e executivo nos níveis federal, estadual e municipal
A população sensata da maior e mais rica metrópole da América Latina assiste um dos piores e mais deprimentes momentos nas eleições municipais, além de se deparar com a assustadora intenção de votos para um delinquente confesso. Por incrível que possa parecer há entre os eleitores da cidade paulista, entre outras do país, os que curtem a louca baixaria de alguns candidatos que se apresentam como antissistema, tal como inelegível num passado recente.
As graves agressões verbais com impropérios desferidos por Pablo Marçal aos demais candidatos têm pautado o submundo dos debates na capital paulista. Marçal navega no subterrâneo da obscuridade. Por outro lado, o medíocre Datena, ex-apresentador de um desqualificado programa, mas que pontuava na audiência do absoluto atraso, sem nenhum controle emocional reage, sacramentando a atmosfera do absurdo, do inaceitável. No passado, os caudilhos usavam armas letais para eliminar seus adversários, no presente são arremessadas cadeiras ou são contratados matadores de aluguel, como no caso do assassinato da vereadora Marielle Franco.
Esse disparate vulgar na eleição paulista marca a decadência da política no país, a desesperança dos eleitores conscientes, a perdição de outros que se alienam por não acreditarem em mais nada e dos que se identificam com o que existe de pior, como sintoma de suas baixas autoestimas.
Entretanto, o festival de horrores não se resume somente a São Paulo, essa distopia está presente de norte a sul do país. Candidatos se utilizam de vários artifícios, como a criação de personagens do povo, a exemplo de Sebastião Melo, que concorre à reeleição da prefeitura de Porto Alegre. Melo e sua devoção ao estilo bolsonarista de ser e agir chegou ao ridículo de produzir sua propaganda eleitoral vestido de chapéu de palha, como um capiau ingênuo, que veio pra cidade grande sem medo do trabalho. Apesar de ter realizado uma péssima administração ao sucatear serviços fundamentais da cidade, ele tem enganado um bom número de eleitores de que agora ele pretende fazer o que deixou de fazer, inclusive os que ficaram embaixo da água nas enchentes de maio. O capiau com seu chapéu de palha deveria ir para Maracangalha de Dorival Caymmi, já que deixou Porto Alegre literalmente mergulhada no caos pelas águas da enchente.
Ao estilo da surreal campanha da cadeirada na cidade de São Paulo, Melo tem atacado a deputada Maria do Rosário, sua principal concorrente à prefeitura porto-alegrense, com inúmeras fake news e com a colaboração da extrema direita que o apoia, ao feitio nazi fascista Goebbels, repleto de misoginia e machismo. Rosário com sua trajetória altamente produtiva na câmara de deputados e com projetos reais para a gestão 2025-2028 de Porto Alegre, apresenta propostas realizáveis para o desenvolvimento estrutural e qualitativo da cidade, com uma campanha sem apelações e fetiches. Propostas reais para uma cidade real.
O mesmo ocorre nas pequenas cidades turísticas do litoral, em que as administrações se preocupam apenas com os turistas que as lotam no verão. A cidade de Torres/Rio Grande do Sul, por exemplo, conhecida por suas belezas naturais, com enseadas decoradas por rochas, uma vegetação atraente e viçosa, além de sua lendária Lagoa do Violão vive a mesma situação. A prefeitura passa de mão em mão de empresários ricos da cidade, que pelo vasto poder econômico perpetuam-se na administração da cidade amealhando ganhos secundários. Com uma aderência interessadamente corporativa e paga, as gestões continuam a dar conta da especulação imobiliária, apesar da luta em contrário de seus moradores conscientes que não desejam para a cidade o mesmo destino do Balneário Camboriú. Com graves problemas sócio estruturais, Camboriú, que figurava no ranking turístico como uma das mais belas praias do litoral catarinense, se transformou numa catástrofe a céu aberto, com todos os problemas oriundos de um crescimento imobiliário e urbano desordenado.
Com uma oposição aguerrida, parte da população e líderes progressistas da litorânea Torres, lutam para mudar esse círculo vicioso. Com candidatos que desejam o desenvolvimento sustentável da cidade, estas lideranças têm impedido, com muita luta, alguns avanços especulativos danosos. Por meio de uma coligação colaborativa e progressista entre os partidos PT, MDB e PDT, estão ousando enfrentar a hegemonia da direita, embora com uma campanha sem os recursos vultosos do candidato da situação.
Nesse horizonte de intensas contradições, espera-se que os eleitores não embarquem nas fantasias criadas pelos candidatos sem escrúpulos que pretendem tão somente aferir vantagens inerentes ao cargo em detrimento do trabalho pela totalidade do povo. Com propostas enganosas amealham a simpatia das classes mais abastadas pelos fetiches urbanísticos que atraem os olhares especulativos de uma aparente qualidade da vida para uma minoria, enquanto o aumento da desigualdade social, o abandono dos bairros periféricos e a falta serviços básicos brutalizam cada vez mais a vida dos pobres.
As eleições municipais são fundamentais para o desenvolvimento avançado do país. Através das câmaras municipais são votadas matérias de interesse direto dos habitantes da cidade, aplicadas na educação, na saúde, no trabalho, no transporte, no saneamento básico entre outros serviços.
As políticas públicas federais e estaduais se concretizam nas cidades. Uma bancada municipal deve pensar organicamente a cidade do ponto de vista inclusivo e resolutivo e na adequada destinação do orçamento público. Em igual medida, uma boa gestão executiva da cidade tem o dever: de proteger a cidade e população das intempéries; de aplicar o orçamento no desenvolvimento de serviços públicos de qualidade; de promover ações que qualifiquem e preservem o meio ambiente, a cultura local; de enviar projetos de lei à câmara municipal que signifiquem melhoria de vida da população, sancionar bons projetos, ou vetar aqueles que considerar que não vão ao encontro do bem da cidade, ou que precisam ser aperfeiçoados.
Boa parte da população brasileira desconhece as atribuições dos diversos cargos dos poderes legislativo e executivo nos níveis federal, estadual e municipal. Elegem candidatos sem a devida observação de seus antecedentes. Na semana passada, a Polícia Federal prendeu 19 candidatos às eleições municipais de vários municípios, com mandados de prisão em aberto por muitos crimes, tais como: não pagamento de pensão alimentícia, corrupção ativa, tráfico de drogas, estupro de vulnerável, além de outros. Segundo apuração do portal g1.globo.com existem 61 casos de candidatos com mandados de prisão em aberto.
O país está no limite na seara política em várias regiões com candidatos caricatos que se valem da desinformação e do cansaço do povo. As câmaras legislativas federais, estaduais e municipais têm se configurado não como um espaço coletivo de produção de projetos de melhoria para o bem estar do povo, mas como um circo de horrores e de baixíssimo nível, como temos assistido nos embates nos diversos espaços legislativos.
A expressiva eleição de políticos dos mais variados matizes da desqualificação ética política tem tomado conta das bancadas legislativas em absoluto atraso. Esses péssimos políticos se valem de inúmeras estratégias para se elegerem. Rarefeitos de projetos, o que fazem se resume a lacrações nas redes sociais, como as de Nikolas Ferreira, Bia Kicis, Júlia Zanatta, Magno Malta, Rogério Marinho, entre outras aberrações.
Resta a nós brasileiros refletir e não aceitar a opereta antidemocrática dos horrores, porque não merecemos esse carma. Como refere Eduardo Galeano em seu livro As Veias Abertas da América Latina: “A primeira condição para modificar a realidade consiste em conhecê-la.”. Não nos deixemos encantar pela realidade falsa de operetas grotescas e falaciosas.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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