A pilantragem impera nos desfiles das escolas de samba S/A
Império Serrano será sempre um mero coadjuvante de um enredo de cartas marcadas.
Há tempos perdi o gosto de frequentar e curtir quadras e desfiles das escolas de samba.
O que fizeram neste Carnaval 2023 com o Império Serrano foi uma das maiores barbaridades contra uma escola de samba tradicional do Rio de Janeiro.
Mas por que o Império Serrano tem sofrido nos últimos anos com essa perseguição e sofrendo sucessivos rebaixamentos?
Uma das respostas pode ser dada pelo seu último título alcançado em 1982, quando o enredo questionava a transformação das escolas de samba em "super escolas de samba", conforme explica trecho da sinopse do enredo assinado por Rosa Magalhães e Lícia Lacerda.
"O super desfile com a super-campeã que naturalmente possui um super-carro repleto de super-mulheres. Nem sempre há um super-samba, mas há o super-gasto. Embora Joãozinho Trinta tenha já se destacado na época do Salgueiro, na Candelária, trabalhando com a dupla Arlindo e Pamplona, foi na Beija-Flor de Nilópolis que deu seu verdadeiro grito de independência, ditando regras e afirmando categoricamente que carnaval é luxo e riqueza." - Como destaca parte do enredo que contou também como surgiram os desfiles na Praça Onze (fase autêntica) e na fase da Candelária--Avenida Presidente Vargas (fantasias interativas, alegorias de mãos e passos coreografados.
A segunda resposta que coloco em questão é que o Carnaval do Rio de Janeiro é, em realidade, a celebração da cultura carioca que foi sequestrada pelo séquito mafioso da sociedade carioca, unida com a burguesia carioca, hoje falida, representada pela família Marinho através do grupo Globo, que há tempos glamouriza essa promíscua relação.
Quem puder assistir a série documental "Dr. Castor" vai entender o que estou escrevendo aqui.
É emblemática uma cena que registra o encontro dos grandes bicheiros com o saudoso Darcy Ribeiro, no Palácio Guanabara, que nos anos 1980, era o responsável da parte do estado do RJ na organização dos desfiles. Ali os mafiosos mostraram que mandavam na festa popular.
Hoje, essa máfia vive uma nova geração, usa outro nome que patrocina o mundo das apostas do futebol brasileiro, os BETs.
O jogo do bicho continua com a complacência do estado e da prefeitura, já é rotineiro ver governadores e prefeitos abraçados aos chefes da jogatina em dia de desfiles.
Pelo visto, o Império Serrano vive o que podemos chamar de uma resistência cultural. Uma resistência que cresce a cada rebaixamento.
Podemos fazer uma relação em que o Império, sendo tão tradicional, da mesma forma como aquele anotador do jogo do bicho que se escondia em botecos e sob marquises, usando como ferramenta de trabalho a velha caneta, com uma linda caligrafia para fazer, nos papéis carbonados, os jogos dos apostadores. Mas esses anotadores não existem mais e são parte de um passado que não volta mais. Eles usam hoje tablets e celulares com aplicativos que facilitam o negócio, sem gerar provas de papel para a contravenção.
Por fim, como diz um amigo meu trotskista, o estado do Rio de Janeiro é em realidade um narcoestado, na qual a burguesia falida suga e faz negócios com esse mesmo estado, ao mesmo tempo que abraça a ilegalidade dos negócios, tendo políticos como mero gerentes do furdunço.
Daí, se pode constatar que o Império Serrano será sempre um mero coadjuvante de um enredo de cartas marcadas.
PS. Parabéns para a Imperatriz Leopoldinense, campeã de 2023, mas é duro ouvir o intérprete do samba e antigo mestre sala agradecendo ao falecido BET.
Imagem Império Serrano no desfile de 1982
site CN1
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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