A quem interessa a prisão de Jail Bozo, o inelegível?
Atentemos para o fato de que a prisão de Jail interessa, ainda na seara eleitoral, a quase todo o espectro político brasileiro
A pergunta de R$ 10 milhões (sou a favor da desdolarização da economia do Sul Global, promovida pelos BRICS+, por isso falo em Reais.) é a quem interessa a prisão do inelegível sem nenhum caráter? Importa, claro, a sociedade brasileira, pelo menos àquela parte que não se deixou levar pelo ressentimento, alienação, ódio, ignorância, desespero. Interessa aos que sabem que não se pode perdoar crimes no presente, pois as cobranças vem sempre muito pesadas no futuro.
A prisão de Jail Bozo é bem vinda para os que são conscientes de que os que professam a "banalidade do mal", como diria Hannah Arendt, seguem entre nós. Precisamos trabalhar para a desnazificação do Brasil. Nossa luta é civilizacional, pois o bolsonarismo nazificado promove a barbárie. Precisamos determinar que pertencer a uma organização criminosa, que professa o nazismo e combate a democracia, é algo que não se admite, que será punido na forma da lei.
Mas, a prisão de Jail interessaria aos militares? Sim e não! SIM, porque seria uma forma deles saírem da bagunça que se envolveram ao se aliarem ao bolsomilicianismo. Ao entregarem a família Bolsonaro, e alguns de seus asseclas, à justiça os militares poderiam pedir escusas, como diria aquele ex-juiz cleptomaníaco, e buscar a “saída Leão da Montanha” pela direita, claro. NÃO, porque quanto mais se investiga as ações da organização criminosa que agia (e age) no entorno (e sob ordens) de Jair Bolsonaro, mais ficamos sabendo do envolvimento de militares de altíssimas patentes no planejamento e na execução de um sem número de crimes. Então, deve ser mais interessante para o partido das fardas verdes que tudo seja protocolarmente esquecido.
Só teremos um eficiente processo de desmilitarização das instituições políticas, e da própria sociedade, se e quando os militares forem devidamente punidos pelos crimes que cometeram durante a última ditadura, iniciada com o Golpe Civil-Militar de 1964 e só “concluída” em 1988 com a promulgação da atual Constituição Federal. Claro, para que isso aconteça, a Lei da Anistia de 1979 terá que ser bem revista. Na verdade, este entulho autoritário, que pesa às costas de nosso fragilíssimo sistema democrático, precisa ser removido de nosso ordenamento jurídico-político. É isso ou os homens de verde seguirão apontando suas baionetas para nossas cabeças.
Certo, é possível que o escalão que vive na cumeeira das Forças Armadas entenda que terá que entregar uns dois ou três Mauros Cid à Justiça para poder voltar aos seus animados churrascos e, assim, esperar por outra oportunidade onde novamente tentará solapar o sistema democrático. Por isso mesmo, não basta prender Jail Bozo, ainda que seja urgente. Precisamos punir o golpismo militarizado para que possamos pensar em estabelecer um controle civil sobre as Forças Armadas, que têm que parar de agir como um partido político.
Para o conglomerado golpista de 2016 (judiciário, parlamentos, mídia corporativa, fundamentalismo neopentecostal, agronegócio, governo dos EUA, etc, etc, etc) prender Jail Bozo e jogar a chave fora seria oportuno, pois sempre se poderia dizer que “nunca participei disso”. Jornalistas, políticos, acadêmicos, empresários, comerciantes, artistas e toda essa fauna da classe média que não pode ver uma camisa da Seleção da CBF, poderiam, enfim, fingir em paz que não apoiaram a Lava Jato, o Golpe de 2016, a prisão de Lula e a eleição\governo de Jail Bozo.
Claro, os muitos desafetos de Jail esperam, ansiosamente, pelas imagens da Polícia Federal batendo à porta do solar dos Bolsonaro às 06h37min da matina. Mas, e se Jail, vendo a casa cair, resolver levar junto seus antigos aliados? Fosse eu empresário bolsonarista ficaria bem quietinho em algum lugar. Aliás, bolsonaristas espalhados pelo Brasil afora veem vantagem na prisão de Jail, pois poderiam explorar, junto ao eleitorado bovino nas eleições municipais de 2024, uma suposta perseguição ao seu mito. Como exemplo, vejamos como Donald Trump tem tirado proveito eleitoral sobre os muitos processos judiciais que enfrenta ou como Hitler soube usar, em benefício próprio, o episódio de sua prisão em 1923, após uma frustrada tentativa de golpe de Estado.
Atentemos para o fato de que a prisão de Jail interessa, ainda na seara eleitoral, a quase todo o espectro político brasileiro. É que sempre se poderá explorar a prisão do genocida pelo prisma da justiça sendo feita em defesa da democracia, do combate à corrupção e ao crime organizado, ou mesmo pela ótica de um líder sendo martirizado. Imagine quanto não renderão, para o bem e para o mal, as imagens de Jail Bozo, algemado, sendo conduzido para a sede da Polícia Federal em Brasília e, de lá, para a Papuda?
Em todo caso, anseio por essas imagens tal qual um botafoguense espera pelo título nacional de seu time que não vem a quase 30 anos, mesmo que seja comedido e não me deixe levar pelas redes sociais que decretam prisões ao deus dará. Uma prisão pictórica de Jail, sensacionalizada pela mesma mídia que até outro dia o apoiava, não deve interessar, pois vê-lo sendo solto poucas horas depois dispararia os gatilhos da impunidade dos quais somos historicamente vítimas.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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