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    Fernando Lionel Quiroga

    É professor da Universidade Estadual de Goiás (UEG), na área de Fundamentos da Educação. Doutor em Ciências pela Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP)

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    A racionalidade sanguinária da mídia hegemônica e a propagação do genocídio palestino

    O atual genocídio palestino promovido em Gaza pelo governo israelense tem sido exemplo do modus operandi midiático

    Comitê da ONU denuncia massacre de crianças em Gaza (Foto: Reuters)

    O poder quanto a transmissão e duração das ideias e narrativas não se resume à dimensão qualitativa. É preciso um bombardeio para que a ideia “pegue”, não mais por persuasão, mas por coerção, por uma falsa convergência midiática de uma “razão julgada superior”, para usar esta expressão de Gabriel Tarde. Assim, é importante que, no frenesi da troca de plataformas e canais de comunicação em massa, o sujeito se depare com uma programação que é, a um só tempo, diversificada - correspondente aos seus desejos - e única - correspondente aos interesses do poder econômico. As fontes de informação neoliberais não produzem o homem de massa das sociedades de controle descritas por Michel Foucault; agora seu papel consiste em impulsionar a sensação de liberdade como valor supremo do capitalismo avançado. No fundo, essa “diversidade” assegurada pelo vasto repertório publicitário e midiático que levamos em nossos bolsos - o smartphone como religião portátil - não passa de uma ilusão de liberdade. Uma liberdade que desemboca, fatalmente, na vala de um novo tipo de massificação construída por tink tanks à serviço do poder econômico.

    A respeito do genocícido que somos obrigados a “engolir” diariamente na Faixa de Gaza, quase como um linchamento público em escala mundial, cuja mensagem é: “permaneçam em silêncio, tirem daqui uma lição”, destacam-se dois aspectos: 1) a falácia da disputa de “narrativas”; 2) o papel da I.A na produção do homem neutral (ou, de modo mais direto, a ameaça à cidadania).

    O atual genocídio palestino promovido em Gaza pelo governo israelense - sob a chancela norteamericana - tem sido exemplo do modus operandi midiático, que tem construído uma narrativa enviesada para justificar a tragédia humanitária da região. Como alertou Brian Mier em entrevista ao 247, “estamos vendo uma avalanche publicitária a favor do genocído em Gaza”. O mesmo método que fez desabar uma avalanche criminalizando o Lula e o PT; o mesmo que busca enquadrar o MTST como grupo terrorista; o mesmo que culpabiliza a escola pelos ataques com armas de fogo; o mesmo que demoniza o Estado; o mesmo que quer tampar a pobreza e a desigualdade com a pedra da meritocracia. E, também, sob outro ângulo, o mesmo que alimenta o fetiche patológico norte-americano, que impulsiona a compulsão ao consumo; que substitui a dimensão política pela gestão corporativa, que converte a escola em empresa, que submete as novas gerações à cretinice digital etc.

    E há mais. Enquanto a mídia oficial hegemônica - New York Times, Washington Post, Globo, Folha de São Paulo, Estadão, dentre outros -, dão as cartas da formação das almas por meio da construção da opinião pública que deve, finalmente, respingar e espalhar-se pelo senso comum preenchendo boa parte da sociedade, entra outro elemento, desconhecido até então, como força vetorial na formação da opinião e dos novos modos de formação do pensamento. A Inteligência Artificial destina-se ao nefasto propósito de “ensinar a pensar”. Todavia, reconheçamos, é da Inteligência Artificial o caráter grosseiramente neutral, repleto de hesitações, livre da contaminação emocional humana (pensávamos haver superado o positivismo?) asséptico, individualista, impreciso, imparcial, robótico, amoral. A influência que este novo paradigma pode acarretar recai justamente na falência das características centrais da humanidade: decisão; fé; certeza; paixão; coletividade, empatia, vida.

    Isto posto, é preciso abrir bem os olhos quando nos deparamos com opiniões de que o que está ocorrendo no Oriente Médio é uma luta de narrativas. Se tudo não passa de narrativa é porque, há um acordo secreto de que as palavras não possuem qualquer vínculo com a verdade, com a vida. Esse distanciamento entre a palavra e a coisa parece nos passar a seguinte mensagem: é que as palavras, no estágio atual do capitalismo, são infinitamente mais perigosas que as próprias coisas. Daí que o cinismo seja a maior representação do “capitalismo genocida” que paira sob o presente século.

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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